quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Movimento dos sem-cor

Agora que volta a discussão sobre a liberação das camaras de bronzeamento artificial, acho oportuno colocar aqui uma matéria que fiz em dezembro do ano passado, quando a Justiça tinha proibido esta técnica de bronzeamento. Na época estavam acontecendo alguns protestos em São Paulo e Porto Alegre e é a matéria fala sobre estas manifestações. A seguir:


O movimento dos sem cor

POR CAMILA ALAM

O vão livre do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista, costuma ser ponto de encontro de manifestantes. Não seria pra menos. O lugar é grande, ventilado, protege contra o sol. Este foi também o local escolhido para homens e mulheres protestarem contra a proibição do bronzeamento artificial, na segunda-feira 30. Já passava do meio-dia, mas sol, para eles, só de mentira.

No último dia 11 de novembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso das câmaras de bronzeamento para fins estéticos. Segue uma recomendação da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer, ligada a Organização Mundial de Saúde. Segundo as pesquisas, a quantidade de raios ultravioletas saída das câmaras artificiais é oito vezes maior do que aquela emitida pelo sol em um horário considerado de risco para a pele. A chance de desenvolvimento de câncer de pele, como o melanoma, aumentaria 75% em pessoas de até 35 anos que usam o procedimento.

A faixa etária, porém, não é unânime na manifestação, que também ocorreu uma semana antes em Porto Alegre. Homens e mulheres, idades diversas, seguravam cartazes com os dizeres “Amo bronzeamento, isso é crime?” ou “O mundo libera e o Brazil (sic) proíbe?”, “Anvisa, cadê as provas?”. Rapazes musculosos, alguns trajando camiseta do Clube das Mulheres, senhoras meio “peruas” e adolescentes com vestimenta praiana também estavam presentes. Todos com a cor do verão. Alguns branquelos também, é justo dizer. Outros, mais agressivos, apelavam para o “Lula colocou um ditador na Anvisa” e ainda “Voltamos à Ditadura”. Seria a revolução em marcha?

Não se sabe ao certo qual a idéia ou lembrança de ditadura que estes manifestantes têm em mente. Mas o grito de guerra entoado pelos presentes era firme: “bronze, bronze, bronze”. Uma loira de pele morena puxava coro e intrigava alguns passantes desavisados que custavam a perceber que não se tratava de comemoração de pódio. A loira é a modelo Renata Banhara, conhecida por estampar capas de revistas masculinas. “Respeito a decisão da Anvisa, mas discordo em absoluto. O Brasil não pode ser ignorante assim, no mundo inteiro é aceito. O que a OMS está fazendo é um estudo, que ainda não foi validado. Eu desacredito”, disse dias depois à CartaCapital.

“É um procedimento de alto risco para um resultado questionável. Gera todo um trabalho de vigilância sanitária, que, por mais fiscalização que se tenha, não vai eliminar os riscos aos quais as pessoas ficam expostas”, disse Dirceu Barbano, diretor da Anvisa, em entrevista coletiva na qual anunciou a decisão da agência. “Não se conseguiu comprovar nenhum benefício que justificasse a manutenção no mercado de um produto que comprovadamente causa câncer”, completou. Além disso, a agência não dava conta da fiscalização dos mais de 5 mil aparelhos de bronzeamento existentes no País. Pesquisa da OMS mostra também que a falta de manutenção pode agravar a situação do cliente. Com lâmpadas velhas, a emissão de radiação e o tempo no interior da câmara são maiores.

À margem das manifestações, muitos estabelecimentos no Brasil, prevendo a decisão da Anvisa e atentos às discussões que acontecem há algum tempo, resolveram trocar o procedimento a laser pelo chamado a jato, que funciona com um aplicador de loção bronzeadora na camada superficial da pele. Uma espécie de tinta que dura alguns dias na pele. Algumas das clínicas de São Paulo conhecidas pelas câmeras de luz nem sequer atendem telefone, para evitar as multas da Anvisa que variam de 2,5 mil a 1,5 milhão de reais.

Também presente na manifestação estava Ticiana Pires, proprietária de uma clínica de estética no bairro Vila Marina, em São Paulo. Ao portal de notícias G1, ela disse estar tendo prejuízo com o estabelecimento e que atualmente atende somente clientes com solicitação médica, pois a Anvisa liberou a emissão de radiação ultravioleta para tratamentos médicos ou odontológicos. "Nessa época do ano, costumávamos fazer 80 sessões por dia. Agora, estamos fazendo sete ou oito. Minha clínica tem 21 empregados. O que vai acontecer com eles?", disse.

Para a dermatologista Carla Vidal, dona de uma clínica de tratamento e estética em São Paulo, que não oferece procedimentos de bronzeamento, a decisão da Anvisa demorou a chegar. “A câmara de bronzeamento tem o uso indiscriminado no Brasil. Estava mais do que na hora de ser proibida, já que ela leva ao envelhecimento precoce da pele, que se transforma quase em couro, com rugas e flacidez”.

Há onze anos a Sociedade Brasileira de Dermatologia, que apóia a decisão da Anvisa, faz campanha contra o câncer de pele, alertando para o uso de filtro solar. Recentemente, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor realizou testes que colocam em xeque a formulação e a eficiência de alguns protetores solares comercializados no Brasil. Os resultados foram ignorados pela SBD, que afirma desconhecer os padrões de testes utilizados pela associação. Com ou sem manifestação, os dias das câmaras de bronzeamento artificial estão contados no Brasil. Para a tristeza de paulistanos e gaúchos.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes


Esqueça o estereotipo do detive sabichão, o assistente roliço e também o mais famoso dos bordões. O Sherlock Holmes de Guy Ritchie, estréia do dia 08, é movido à pólvora e explosões. A Londres vitoriana parece cenário moderno já que nesta versão, diferente de outras adaptações, Holmes faz a linha herói. É exímio lutador, charmoso e engraçado. Ao mesmo tempo, infantil e dependente de seu fiel escudeiro, Dr. Watson, o que motivou piadinhas em relação a sexualidade do detive. Robert Downey Jr. e Jude Law formam esta dupla que pode parecer improvável, mas funciona. É um dos atrativos do longa que cheira franquia.


Este Holmes não veste ternos de tweed. Ao contrário, tira a camisa para encarar uma luta clandestina que, explorada em câmera lenta logo nas primeiras cenas, deixa clara a marca de Ritchie como diretor que, quando acerta, faz memoráveis cenas de ação. No enredo, a magia negra é o mote para as ações do vilão Lorde Blackwood (Mark Strong), suspeito de envolvimento em uma série de assassinatos. Para resolver os casos, a agilidade e astúcia do personagem permanecem intactas, apesar da modernização do personagem, agora um inteligente bon vivant. Ao lado de Holmes e Watson está Irene, interpretada por Rachel Adams.


Ela é o ponto fraco do detive, uma espécie de ladra que em algum momento passa a ser mocinha. Ritchie faz a usual mistura de ação com comicidade e, apoiado em boas atuações, entrega ao público mais de duas horas de diversão.