sexta-feira, 5 de novembro de 2010

paulo caruso - avenida brasil

AVENIDA BRASIL: ENFIM UM PAÍS SÉRIO!
Paulo Caruso
Devir Livraria, 96 págs, R$ 29,50

Desde a década de 1970, o cartunista Paulo Caruso lança seu olhar sobre a política brasileira na série Avenida Brasil, que tem como personagem principal uma via pública fictícia por onde circulam em bares ou barbearias os políticos que tomam os noticiários. É “a via das dúvidas”, enfatiza o autor. Originária da série Bar Brasil, uma metáfora adequada aos tempos da ditadura, esta Avenida Brasil já rendeu títulos que enfocam os principais acontecimentos dos últimos governos.

Próximo ao fim do segundo mandato do Presidente Lula, o cartunista lança Enfim um país sério!, o segundo sobre o governo do petista, antecedido por Se Meu Rolls-Royce falasse (2006). Nesta coletânea, treze histórias relembram com humor casos ocorridos nos últimos anos. Elas abordam a ascensão de mulheres a cargos públicos, as relações do governo com a América Latina, a eleição de Barack Obama ou a prisão do ex governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.

No capítulo XI, Caruso faz uma pausa na temática política para homenagear artistas falecidos que agora armam festas entre as nuvens. Carlos Drummond de Andrade, Cartola, Tom Jobim e Vinicius de Moraes ficam perplexos com a chegada de Michael Jackson, que dança seu tradicional moonwalk sobre a lua. “Durante esses trinta anos, a cada semana, depois de concluída mais uma página, me perguntava como seria a seqüência final desta história. Essa experiência agora se encerra aqui, com o fim de uma era”, diz o autor.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010

lugares, estranhos e quietos

WIM WENDERS - LUGARES, ESTRANHOS E QUIETOS
Museu de Arte de São Paulo
Até janeiro de 2011

Convidado pela 34ª Mostra Internacional de Cinema, o diretor alemão Wim Wenders veio a São Paulo para uma série de encontros. Também trouxe à capital paulista a exposição Lugares, Estranhos e Quietos, realizada pelo MASP, onde expõe 23 grandes fotografias inéditas no país, onde o diretor/fotógrafo exibe seu olhar sobre as cidades pelas quais já viajou.

Japão, Alemanha, Israel, Armênia e Estados Unidos são alguns dos países selecionados. A maioria destas fotografias, já expostas em outros museus pelo mundo, foi feita nas cidades que serviram de locações de seus filmes, mas há também cenas registradas em São Paulo e Salvador.

Em sua maioria, enfocam paisagens vazias, peculiaridades urbanas e tipos locais. Este ano o diretor é homenageado pela Mostra, que exibe alguns de seus filmes, como sua versão especial de Até o fim do Mundo (1991), além de Asas do Desejo (1987), Paris, Texas (1984) e O Filme de Nick (1980).
quarta-feira, 3 de novembro de 2010

criando imagens para cinema

KUROSAWA – CRIANDO IMAGENS PARA CINEMA
Instituto Tomie Ohtake
De 22 de outubro a 28 de novembro

Este ano, a 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo estende suas atividades para além das salas de cinema. Em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, realiza homenagem ao centenário de nascimento do diretor japonês Akira Kurowasa na exposição Criando imagens para o Cinema.

Em cartaz até 28 de novembro, a mostra reúne 80 desenhos de storyboard, espécie de história em quadros feitas para ilustrar o roteiro, de filmes como Sonhos (1990), Rapsódia em Agosto (1991) e Madadayo (2003). Vindas de Tóquio, estas imagens revelam o talento do diretor como artista plástico, além de mostrarem precisão se comparadas às cenas dos filmes posteriormente gravadas. Estes desenhos mostram emoções dos personagens, detalhes de figurino ou locações, com enquadramentos e composições estruturadas, que caracterizam cenas vistas em toda sua filmografia. Kurosawa tinha, quando adolescente, aspirações de pintor. Chegou a ser admitido em importantes exposições japonesas quando mais tarde optou pelo cinema.
terça-feira, 2 de novembro de 2010

wesley duke lee

WESLEY DUKE LEE
Pinakotheke São Paulo
De 23 de outubro à 4 de dezembro

O paulista Wesley Duke Lee, morto este ano, tem sua trajetória homenageada em mostra que leva seu nome, realizada pela Pinakotheke São Paulo. O dia da abertura (23 de outubro) foi escolhido por marcar a realização do primeiro happening no Brasil, ainda em 1963, quando o artista reuniu amigos no João Sebastião Bar como forma de protestar contra galerias que rejeitaram seus trabalhos.

Em exposição na Pinakotheke estarão pinturas, desenhos e instalações que foram pouco ou nunca mostradas em público, vindas principalmente de coleções particulares. O curador Max Perlingeiro aponta a generosidade de amigos e da família, que permitiu a pesquisa em acervos antigos do artista. Divida em salas cronológicas, a exposição abrange as décadas de 1950 à 1990 e o caminho das obras será acompanhado por trechos de uma longa entrevista em que Lee conta à TV Cultura, em 1991, detalhes de sua trajetória diversa.

A exposição dá ênfase a uma série de cartas trocadas por Lee e sua noiva – mais tarde esposa – Lydia Chamis. No catálogo da mostra, amigos como Tomaz Souto Correa, Nelson Leirner, Antonio Dias e Carlos Vergara são depoimentos sobre o artista. – CA
sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Joseph Beuys

JOSEPH BEUYS – A REVOLUÇÃO SOMOS NÓS
SESC Pompeia, São Paulo
Até 28 de novembro

Morto em 1986, o artista alemão Joseph Beuys usou sua obra para disseminar conceitos e manter diálogo com a sociedade sobre assuntos que transitavam entre a arte e a política. O artista usava cartazes, fotografias, vídeos, instalações e múltiplos para ampliar as ideias do partido ambientalista alemão, do qual fazia parte, e da Universidade Livre Internacional, instituição de ensino livre fundada por ele com sedes espalhadas pela Europa.

Em São Paulo, a mostra Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós traz 250 obras do artista que acreditava na criatividade como maior moeda da sociedade. “Para ele, não se tratava de vender obras de arte em maior quantidade, e sim de dar impulso a uma transformação na arte e na sociedade que, em última instância, se revela política.”, diz o professor Antonio d’Avossa, curador da mostra e colaborador de Beuys na época em que o artista mudou-se para Itália. Como forma de debater o mercado de arte que emergia na década de 1960, o alemão criou séries de múltiplos, objetos que permitiam a reprodutibilidade de até milhares de exemplares e colocava a arte acessível como objeto de desejo particular.

Quarenta destas criações estão na mostra, como Bateria Capri (1985), em que uma lâmpada se alimenta da energia de um limão. Defensor da natureza, Beuys também se utilizava de cartazes para transmitir idéias. Na exposição, uma coleção de 200 deles é exposta pela primeira em sua totalidade. De São Paulo, a mostra segue para o Museu de Arte Moderna da Bahia.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Releituras de Miró

LOS 24 ESCALONES Y JOAN MIRÓ
Museu Nacional da República, Brasília
De 29 de setembro a 25 de novembro


A obra do artista catalão Joan Miró (1893 – 1983) chega ao Brasil com uma proposta de diálogo entre seu legado a produção de novos artistas espanhóis. Na mostra Los 24 Escalones y Joan Miró, em cartaz a partir do dia 29 em Brasília, são apresentadas 18 obras do artista, vindas da Fundação Joan Miró, de Barcelona. Em contrapartida, cinco jovens artistas de lá apresentam suas peças inspiradas na produção do mestre.

O nome da mostra faz alusão ao próprio ambiente da Fundação. Vinte e quatro é o número de degraus que ligam o espaço expositivo ao laboratório Espai 13. É neste laboratório, concebido pelo próprio artista originalmente em 1975, que são realizados e difundidos novos experimentos da arte contemporânea. Como uma espécie de centro de especialização, o espaço aceita propostas e recebe artistas para desenvolvimento de seus primeiros trabalhos.

Javier Arce, Raúl Belinchón, Diana Larrea, Abigail Lazkoz e Juan López formam o grupo que participou de um ciclo de exposições que lembrou os 25 anos de morte de Miró. Para isso, visitaram ambientes particulares do artista na Fundação, onde geralmente os visitantes não tem acesso. Agora, foram selecionados pelo curador Jorge Díez para compor a mostra no Brasil com instalações, vídeos e gravuras que pouco remetem ao surrealismo ou ao dadaísmo, movimentos que inspiraram a obra do artista catalão.
Apesar da proposta de diálogo, é o acervo de Miró que mais chama atenção do visitante. Além das 18 pinturas, litografias e esculturas, filmes e livros complementam a exposição do artista intuitivo que, longe de ser tradicional, criou cenas oníricas e paisagens imaginárias. Simbologias e temas recorrentes em sua trajetória são vistos em obras como Mujer (1969), Personaje en la noche (1974) e Dos aves de presa (1973), expostas em Brasília.
terça-feira, 19 de outubro de 2010

deuses e madonas - no MASP

DEUSES E MADONAS – A ARTE DO SAGRADO
MASP, São Paulo
De 15 de outubro a 16 de janeiro

Retiradas do acervo do Museu de Arte de São Paulo, 40 obras selecionadas pelo curador Teixeira Coelho estão na mostra Deuses e Madonas, em cartaz na instituição até janeiro do ano que vem. No segundo andar do museu, são apresentadas telas de mestres que usufruiram destes personagens que foram alguns dos grandes temas da história da arte.

Em exibição, obras de Sandro Botticelli ( São João Batista Criança, c.1490), Rafael (A Ressureição de Cristo, de 1502), Eugene Delacroix (As quatro estações, c.1856), entre outras. Depois de passar uma temporada no Louvre, onde foi exposta e restaurada, a obra São Jerônimo penitente no deserto, concluída por Andrea Mantegna em 1451, volta ao acervo do MASP e é um dos destaques da mostra. Para o curador, a mostra se foca na representação de deuses e madonas para estabelecer a relação entre o humano e sua visão sobre a vida e o sagrado.

O artista mineiro Eder Santos apresenta sua versão contemporânea para O Julgamento de Páris (1720), de Michelle Rocca. Em sua leitura, encomendada pelo museu especialmente para esta mostra, o público verá a obra em monitores tridimensionais e projetores. O que se forma é uma espécie de remodelação digital da obra, onde os personagens adquirem movimentos.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010

As cores de Alá

De grande impacto visual e pouco difundida no Brasil, a arte islâmica tem ganhado cada vez mais espaço em museus ocidentais. Recentemente, um importante acervo foi adquirido pelo Los Angeles County Museum of Art, dos Estados Unidos. O francês Museu do Louvre prepara-se para abrir em 2011 novas galerias dedicadas a este tema. A cidade de Toronto, no Canadá, vai receber (em 2013) o Museu Aga Khan, inteiro dedicado a preservação da cultura islâmica. Enquanto isso, no Brasil, o Rio de Janeiro recebe uma grande mostra, intitulada Islã, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, entre 12 de outubro e 26 de dezembro. No próximo ano, a exposição segue para São Paulo e Brasília.

Fabricadas a partir do nascimento do mundo mulçumano, no século VII, estas obras vem especialmente de museus da Síria, como os de Damasco e Aleppo, e de países no norte da África. São exibidas no Brasil mais de 300 peças, entre mobiliário e vestuário, além de utensílios para os mais diversos usos, cerâmicas, caligrafias e instrumentos. A maioria delas nunca saiu de seus países de origem e sua vinda é o resultado de uma negociação de quatro anos entre a Síria e o Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes (BibliASPA). Esta grande exposição proporciona um olhar cuidadoso sobre peças fabricadas ao longo dos últimos treze séculos, que espelham uma maneira diferente de entender e usufruir a arte no Oriente.

“Trata-se de uma exposição sobre a cultura islâmica. É mais uma questão da arte em seu sentido orgânico, diluída na vida cotidiana, resumida em objetos”, diz Rodolfo Athayde, que assina a curadoria da mostra ao lado do Prof. Dr. Paulo Daniel Farah, diretor da BibliASPA. A estes objetos meticulosamente fabricados por artesãos anônimos estão resumidos muitos dos conceitos da arte islâmica, que se baseia na cultura religiosa para formar padrões decorativos de significados diversos. Os objetos exibidos no Brasil não só estão vinculados a questões religiosas, mas refletem a busca pela aliança entre a praticidade e o requinte. “Há um dito muçulmano que anuncia: ‘Deus é belo e aprecia a beleza’. Isso demonstra que, sob o prisma islâmico, o belo deve ser admirado e almejado em diferentes contextos, não apenas quando retrata aspectos religiosos”, diz Farah.
Ao contrário da prática ocidental – em sua maioria, cristã – pinturas e esculturas figurativas são deixadas de lado, sobretudo em ambientes religiosos, onde a idolatria é contestada. Objetos funcionais de cerâmica, bronze ou vidro são adornados com desenhos padronizados, que geralmente remetem a elementos vegetais ou formas geométricas. A figura humana é pouco explorada, mas ainda aparece em objetos de uso doméstico ou quadros, longe das mesquitas. Alguns dos padrões, como os de flores nas cerâmicas, sofreram influência chinesa. Outros têm resquícios Império Romano Oriental. Esta mistura de referências que atravessam o tempo foi traduzida em uma identidade única, cuja mistura de cores fortes e formas diversas, impressiona pela riqueza de detalhes e ultrapassa questões de credo.


Estes complexos traços padronizados criam uma proposital impressão de repetição e funcionam como uma maneira de lembrar o infinito poder divino. “Os padrões geométricos são parte da busca de uma forma abstrata que remete à perfeição, ao equilíbrio. É o que permite uma idéia abstrata do divino, uma maneira de representá-lo”, diz Athayde. Recheada de detalhes, a exposição oferece ao visitante uma sala onde se pode perceber de que maneira são formados os padrões e como eles se formam geométrica ou organicamente. Tomando o térreo e o primeiro andar do CCBB, a mostra divide-se em partes para apresentar diferentes manifestações cronologicamente. “Os padrões expressam uma percepção que mescla a ideia da unidade de Deus e da inexistência de intermediários na relação com o divino”, completa Farah.

A entrada do edifício dará destaque à padronização da Grande Mesquita dos Omíadas, em Damasco, uma das primeiras obras arquitetônicas islâmicas, decorada ainda sob forte influência bizantina. Neste espaço, será criado um ambiente que remete as construções islâmicas, onde um pátio interno é adornado por um chafariz e azulejos. No segundo andar do CCBB, mais cenografia é apresentada ao visitante. Um portão decorado é a passagem para salas temáticas onde será introduzida parte da cultura mulçumana. Uma linha do tempo percorre dos séculos VII ao XX, mapas e plantas de mesquitas complementam o caráter documental.

As salas que seguem apresentam trabalhos em metal e objetos científicos, como astrolábios, balanças e globos terrestres. Eles remetem e homenageiam nomes da ciência e do pensamento que floresceram durante as dinastias islâmicas, como o filósofo persa Avicena e o andarilho Averroes. Também lembram os matemáticos que introduziram na Europa os algarismos arábicos, o conceito de número zero. “É possível recordar que o navegante Ibn Majid, que acompanhou Vasco da Gama em suas viagens, redigiu em 1489 um manual sobre a arte da navegação”, diz Farah. Em outro ambiente, são apresentadas peças da ourivesaria iraniana e síria, como pares de brincos em forma de animais, pulseiras em formatos orgânicos e moedas de diferentes épocas. Bichos e flores aparecem também em vestuário e objetos de uso diário e surgem como os poucos elementos figurativos desta arte.


Alguns dos destaques da mostra estão associados à caligrafia, considerada hoje a maior das artes islâmicas, enobrecida por sua aproximação com os livros sagrados. A complexa e artística escrita árabe é aqui representada em uma série de versões do Alcorão, alguns escritos sob pele de gazela ou tecidos bordados com fios de ouro, de diferentes épocas. “A interdição à representação de elementos figurativos de seres animados contribuiu para tornar a caligrafia uma arte extremamente refinada a partir da qual se desenvolvem os arabescos. Assim, a caligrafia é uma arte islâmica por excelência”, diz Farah. Nestas páginas, os textos são emoldurados com traços orgânicos e padrões geométricos que lembram os tapetes persas, que também são destacados na mostra em uma sala separada. Outros textos são escritos em direções diferentes, fazendo parecer em uma mesma página uma diversidade de intervenções.

Alguns fragmentos resultam de importantes achados arqueológicos, como uma pequena pedra com inscrições do século VIII, que representa um dos mais antigos testemunhos da língua árabe. A caligrafia ganha destaque também em utensílios de uso doméstico, como pratos e vasilhames, alguns do século XI. Ou ainda em grandes peças arquitetônicas, lapidadas com frases religiosas. A escrita representa unidade e identificação entre o povo islâmico que buscou, desde o princípio, sua implantação intelectual. “Dentro do mundo islâmico existe grande busca pelo conhecimento. Houve empenho em traduzir ao árabe praticamente toda a herança de obras greco-romanas. Eles destacaram e conservaram esta herança por meio de algumas figuras conhecidas, como Averroes, que regatou a teoria aristotélica, antes da retomada pelo mundo ocidental”, diz Athayde.

Hoje, as identidades islâmicas são múltiplas, incorporadas à outras tradições. Predominante no Oriente Médio e em porções da África e da Ásia, o islamismo reúne cerca de 1,5 bilhões de seguidores ao redor do mundo. Esta reunião de peças tão diversas exemplificam o caráter simbólico da arte islâmica, realizada sobre padrões culturais, políticos e religiosos muito claros. Mas também refletem a interação dos mulçumanos com outras culturas e populações de religiões distintas. “O Deus é único, mas sua criação é múltipla”, resume Farah.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010

hoje nos cinemas: contos da era dourada

Dirigido por Ioana Uricaru, Hanno Höffer. Räzvam Márculescu, Constantin Popescu, Cristian Mungiu


Na Romênia comunista, sob o comando de Nicolae Ceauşescu (que durou de 1965 a 1989), se passa Contos da Era Dourada, uma simpática reunião de seis histórias que narram lendas do país em regime. As partes deste longa metragem com quase duas horas e meia de duração ficam a cargo de seis diretores. Um deles é Cristian Mungiu, também roteirista do filme e ganhador da Palma de Ouro em Cannes por 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), sobre mesmo período político. As seis histórias independentes se comunicam por mostrarem personagens vivendo sob os efeitos do regime.

Quase surreais, as histórias são permeadas por humor, algumas mais irônicas que outras, e abordam poder, fome e educação. Em uma delas, intitulada A Lenda do Fotógrafo Oficial, um grupo é responsável por manipular as fotos de Ceauşescu antes de serem publicadas. Nelas, ele deve parecer mais alto que seus opositores, ou com chápeu, de acordo com normas estabelecidas pelo regime. O trabalho é feito manualmente pelo fotógrafo e seu assistente, que deixam escapar um detalhe que gera confusão.

Em outro conto, A Lenda dos Vendedores de Ar, um casal de jovens aparentemente influenciados por Bonnie e Clyde começa a colocar em prática um pequeno golpe para saquear garrafas de vidro da vizinhança, que podem ser vendidas por algum dinheiro. Em A Lenda do Policial Ganancioso, um pai de familia encomenda um porco para a ceia de Natal, mas o recebe ainda vivo. Sua luta para matá-lo sem que acorde os vizinhos famintos tem ar tragicômico.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A arte essencial de Leon Ferrari

Aos 90 anos, completados há pouco mais de um mês, o artista argentino León Ferrari permanece em atividade como um dos mais relevantes artistas latino-americanos, conhecido por obras de caráter polêmico e alfabetos estilizados. Nos últimos meses, frequenta pouco seu atelier, em Buenos Aires, mas mantém o viés criativo em novas produções. Algumas delas, que remetem ao abstracionismo e dão ênfase ao desenho já praticado em outras décadas, podem ser vistas na mostra Leon Ferrari – Um artista do seu tempo, realizada pela galeria Arte Aplicada, em São Paulo.

As 35 obras que compõem a exposição mostram um lado mais sereno de Ferrari. São contrárias às polêmicas esculturas e instalações de forte mensagem política. Em folhas de papel de tamanhos diversos, o artista trabalha finas linhas de tinta ou giz de cera que remetem a alfabetos imaginários ou trabalham a repetição de séries contínuas. Produzidas ao longo das últimas quatro décadas, estas obras mantêm unidade e apresentam a firmeza de um traço delicado, ao mesmo tempo, imperativo. “Pela força e criatividade, estas obras de Leon parecem sempre feitas por um jovem e não por um homem hoje com 90 anos”, comenta a curadora da exposição, Sabina de Libman.

Acostumado a lidar com os mais diversos materiais, incluindo orgânicos, Ferrari produziu este ano peças onde substitui a caneta nanquim ou o giz por uma espécie de cola com glitter. Faz assim transparecer um caráter lúdico, ao mesmo tempo em que mantém a ordem de desenhos e texturas utilizadas nas últimas décadas. “Ele tem esse lado suave e carinhoso. Sua outra persona exteriorizada é a da revolta”, diz a curadora.

Esta porção rebelde faz a produção do artista ser plural e articulada. Por um lado, traços detalhados e escritos cuidadosos tomam conta de seus cadernos de anotação, telas e papéis. Ao mesmo tempo, o artista produz algumas das mais importantes obras de apelo político. São da década de 1960 e 1970 seus trabalhos de caráter polêmico, como A Civilização Ocidental e Cristã (1965), onde substitui a cruz de Cristo por um avião de caça das Forças Armadas norte-americanas, sua primeira obra de apelo crítico visível. Nas décadas anteriores, focava-se em paisagens a óleo ou pastel sobre madeira (como Alicia, de 1947) e esculturas de cerâmicas ou madeira. Quando começou o processo de mudança temática, realizou alguns manuscritos sobre a problemática religiosa, mas ainda pouco compreensíveis.

A série Idéias para Infernos foi apresentada em 2000, no Centro Cultural da Espanha, em Buenos Aires. Nela, Ferrari amontoou virgens de gesso no liquidificador e Cristos na torradeira elétrica. Em uma gaiola, pássaros artificiais se posicionavam sobre imagens religiosas. A mesa da última ceia era dividida por imagens tradicionais, ratos e gorilas de plástico. Santos eram alfinetados e posicionados em triturador de carne, frigideiras ou raladores em cenários kitsch. À época da exposição, freiras e crentes se reuniam a porta da galeria para protestar e rezar o rosário. É o que narra a professora Andrea Giunta no livro Leon Ferrari - Uma retrospectiva, lançado pela Cosac Naify no Brasil, como parte da mostra Poéticas e Políticas, realizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2006. “A notícia circulou rapidamente e as vinte mensagens que condenavam a exposição foram respondidas por centenas em sua defesa”, diz Giunta. O artista comemorava que ações como estas colaboravam com a proposta da exibição.

Ferrari não se considera ateu ou anticlerical, mas se declara fascinado pelas figuras bíblicas e pelas interpretações que são feitas dos livros sagrados, muitas vezes controversas. Quando criança, estudou em colégio de padres e fez comunhão. Mais tarde, leu a bíblia exaustivamente e casou-se na igreja com sua grande companheira, Alicia, com quem assina algumas obras. Santos católicos se tornaram personagens de suas peças, onde são hostilizados com grande humor.

A atitude política que permeia sua trajetória foi deixada de lado, paradoxalmente, no período em que viveu exilado Brasil, entre os anos de 1976 e 1983. O artista deixou a Argentina sob ditadura após o exército começar a procurar pelo seu filho Ariel, desaparecido. Temerosos pela segurança da família, ele, a esposa e mais sete irmãos e sobrinhos passaram a morar em São Paulo. Localizada na Alameda Lorena, no bairro do Jardins, a casa do artista e seu atelier coletivo, na rua Amália de Noronha, em Pinheiros, eram pontos de encontro e discussão.

Nesta época, sua produção se mostra mais formal. Não se dedica à arte política, mas foca-se em manuscritos e esculturas metálicas. Algumas dessas peças podem ser vistas na exposição agora em cartaz na galeria Arte Aplicada. Ferrari fez pequenas esculturas de finos arames de ferro soldados que dialogam e se assemelham aos traços feitos a nanquim sobre papel. Também foi influenciado pelos espaços arquitetônicos da cidade e passou a construir peças em grande escala, algumas mostradas na exposição Arte Lúdica, realizada pelo MASP e posteriormente pela Pinacoteca, em 1978. Uma dessas peças, Berimbau, feita com barras de aço sobre vigas de madeira, pertence hoje ao Parque de Esculturas do Jardim da Luz, ligado ao museu do estado.

Com humor, ironia e erotismo, Ferrari destaca valores estéticos, questiona o poder, reverência figuras femininas e dá significado às repetições. Plural, consegue bifurcar sua produção inúmeras vezes, mantendo-se atrelado ao círculo de idéias originais que permeiam toda sua produção. Ao criticar a igreja, as guerras e os sistemas políticos se vale de elementos não artísticos para apontar o dedo nas chagas de nossa cultura. Ao mesmo tempo, se torna sublime e delicado quando desenha caligrafias que passam mensagem alguma e brincam com o cheio e vazio.

Para Giunta, sua trajetória está posicionada em “um território de coexistência entre a cultura erudita e a popular, entre o poético e o político, que ativa o poderoso motor dinamizador de sua obra”. De volta a Buenos Aires desde 1983, Ferrari hoje produz poucas peças que reafirmam a dualidade de sua produção. Se tornou, ao longo dos anos, mais essencial que paradoxal.
sábado, 25 de setembro de 2010

A bienal do bode político

A última edição da Bienal Internacional de São Paulo, realizada em 2008, deixou má impressão e saldo negativo. Depois de polêmicas que envolviam um andar vazio, pichadores e administradores mal preparados se cogitou cancelar a 29ª edição. Mas ela surge em 2010 renovada, sob curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, querendo atingir até 1 milhão de visitantes entre os dias 25 de setembro e 12 de dezembro, em São Paulo.

Muito foi feito, nos últimos dois anos, para limpar a imagem da Fundação Bienal. Empossado em 2009, o presidente Heitor Martins tinha como desafio reestruturar não só a parte administrativa, mas ajudar a conduzir público e crítica à apreciação do tradicional evento. Sob o título Há sempre um copo de mar para um homem navegar (retirado do poema Invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima), os curadores convidaram cerca de 160 artistas para trabalhar o tema “arte e política”. O resultado exposto no Pavilhão Ciccillo Matarazzo é a organização de obras bastante diversificadas que, segundo o curador Agnaldo Farias, defendem a arte como uma extensão da política. “Queremos dar sentido aquilo que não é sentido. Nosso foco é a política da própria arte e o caráter experimental da arte como sendo político”, diz.

Entram em cena, artistas que utilizam uma mesma temática em diferentes graus e que, reunidos, fazem da 29ª edição um programa diferente daquele visto há dois anos. Percebe-se aqui, certa preferência pela fotografia como arte documental e uma chance de diálogo com antigos inimigos, os pichadores.

O coletivo Pixação SP, formado pelo fotógrafo Adriano Choque e pelos pichadores Djan Ivson e Rafael Augustaitiz, ganha espaço nesta edição da Bienal com uma série de fotografias, vídeos e tags (folhas A4 com assinaturas) que expõem a tradição do picho na capital paulista. Ivson e Augustaitiz faziam parte do grupo que invadiu a última edição da Bienal e pichou as paredes projetadas por Niemeyer. Caroline Pivetta, a jovem presa em flagrante e encarcerada por cinqüenta dias, recusou o convite para participar da mostra.

“Essa é uma Bienal de arte política e como o trabalho deles é político e está em toda cidade, eles nos procuraram. Nós acatamos, achamos que a reivindicação fazia sentido”, diz Farias sobre a aproximação com o grupo. O Pixação SP também foi convidado para participar dos chamados “terreiros”, espaços de reflexão, debate e convivência onde o público poderá discutir idéias com os próprios artistas. Ao todo, seis terreiros com diferentes temáticas acontecem durante a mostra.

“Quisemos apresentar documentação do trabalho dos pichadores e não os trabalhos propriamente ditos, já que eles acontecem no âmbito urbano. Comparecendo como documento, é uma forma de não trair o sentido da pesquisa deles e eles também não se traírem”, completa o curador. Parece haver, no entanto, uma sombra de dúvida quando estas documentações são acompanhadas na mostra por um texto que diz: “nem tudo que é arte o campo institucional pode abrigar com certeza”.

Além da pichação, algumas obras expostas aproximam-se da estética de rua e usam técnicas de grafite. Um desses exemplos é a instalação Os Mestres e as Criaturas Novas - Remixstyle (2010), do artista angolano Yonamine. No primeiro andar da exposição, uma grande sala penetrável forrada com jornais reciclados, é coberta por símbolos coloridos aplicados com a técnica de stencil, que enfatizam a sobreposição e a mixagem.

Nos demais andares do Pavilhão, sobretudo nos superiores, é possível perceber uma vasta reunião de séries fotográficas, muitas delas documentais. Posicionadas em salas abertas, muros brancos ou caixas de projeção, as fotografias ganham destaque na 29ª Bienal. Algumas, entretanto, perdem qualidade e a merecedora atenção, como no caso da série de Nan Goldin. Fotógrafa americana, responsável por imagens que registram personagens do underground nova-iorquino e parisiense, Goldin apresenta a série A Balada da Dependência Sexual. Em uma sala escura, uma projeção de 45 minutos passa rapidamente por fotografias feitas entre 1979 e 2004. A velocidade da seqüência deixa o visitante perder detalhes de imagens essenciais sobre vida noturna, feminismo e transgressão. O visitante que desejar assistir a projeção inteira deve sentar-se no chão.

Ao contrário dos personagens de Nan Goldin, outros retratados ganham destaque pelas fotografias de Zanele Muholi e Juliana Stein. Discutindo a sexualidade, ambas se dedicam a retratar bustos de figuras que brigam com seus corpos e aparência. Na série Faces and Phases, a africana Muholi aborda a feminilidade em fotografias de mulheres lésbicas, cuja aparência remete ao androginismo. Por outro lado, a série Sim e Não, da brasileira Stein, destaca rostos masculinos travestidos sem sutileza, exagerados em fantasias e maquiagem, que expressam as divergências entre o ser e o estar.

Fotografias servem também de base para outros trabalhos apresentados na 29ª. Um deles, como a série October 18, 1977, do alemão Gerhard Ritcher, apresenta telas em preto e branco cujas imagens são baseadas em fotografias de jornais. Esta série, no entanto, teve o pedido de empréstimo negado pelo MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e a aparece na Bienal somente por meio de catálogos expostos. Diante disso, a Fundação encomendou da artista peruana Sandra Gamarra a produção de cópias idênticas à série original. Gamarra é criadora da instituição fictícia LiMAC (Museu de Arte Contemporânea de Lima), “cuja coleção é composta unicamente por pinturas da artista que reproduzem, a partir de catálogos, as imagens das obras de arte que deseja adquirir”, diz o texto da mostra. Em October 18, 1977, a artista reproduz telas originais, que, por sua vez, são reproduções de fotografias de membros da organização guerrilheira alemã Baader Meinhof, quando estavam sob a guarda do Estado e foram encontrados mortos em suas celas.

“A rigor, estamos preocupados com o artista. Não estamos pensando na procedência dele, como também não estamos pensando qual é a mídia que ele utiliza”, diz Farias sobre a pluralidade das obras expostas este ano. “Hoje em dia, não há prevalência de uma ou outra linguagem. Esta é uma Bienal que há de tudo, até porque hoje o que se chama de artes visuais virou um território de fronteira, com as suas variadas interpretações e intersecções”, completa o curador.

Acostumada a envolver-se em polêmicas, a Bienal deste ano foi alertada, antes de sua abertura oficial, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a série Inimigos, onde o artista pernambucano Gil Vicente se autorretrata prestes a cortar a garganta do presidente Lula e a atirar contra Fernando Henrique Cardoso, George Bush, Rainha Elizabeth II e outras personalidades. Com grande destaque na mostra, a série foi reprimida pela OAB por supostamente “incitar a violência”. Para Farias, “paradoxalmente, contra a lei é a OAB”. O artista, que já expôs a série em outras cidades brasileiras, reagiu com ironia e agradeceu a instituição pela propaganda gratuita.

Há ainda outro artista que causa algum desconforto a Bienal. Na instalação El Alma Nunca Piensa sin Imagen, o argentino Roberto Jacoby montou uma plataforma de apoio à candidata Dilma Rousseff, infringindo a lei eleitoral que proíbe propaganda de qualquer natureza em bens públicos, como o prédio da Bienal. Com apoio de um grupo de artistas de Buenos Aires – uniformizados com camisetas vermelhas com o logo da campanha da candidata do PT -, seriam realizados shows de música, discursos e debates em um palanque improvisado, cercado por imagem gigante do rosto de Rousseff ao lado de seu oponente, José Serra.

Farias admitiu a CartaCapital ter sido pego de surpresa ao acompanhar a montagem da obra. Na quarta-feira 22, dois dias antes de sua abertura, a Fundação Bienal consultou a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo (PRE-SP) sobre que tipo de empecilhos a obra poderia causar à mostra. Segundo a assessoria da Fundação, o Ministério Público Federal orientou a Bienal a inibir qualquer tipo de propaganda eleitoral. “Conforme orientação do Ministério, a Bienal decidiu retirar a obra do espaço expositivo. A obra já está vedada com pano preto”, informou comunicado enviado à imprensa na quarta-feira à noite. No dia anterior, Farias já esboçava aflição. “Aconteceu uma coisa que nós não esperávamos. Até onde o artista havia me contado, era um trabalho de uma campanha política ficcional. Chegou aqui e não era. Não sou eu que vou dizer o que ele pode fazer e o que não pode, mas estou achando que isso vai dar bode”, disse o curador, com ar preocupado.
terça-feira, 9 de março de 2010

III Festival Ibero-Americano de Teatro de São Paulo

Quinze diferentes montagens se revezarão na programação do III Festival Ibero-Americano de Teatro de São Paulo, realizado pelo Memorial da América Latina. Entre os dias 8 e 14 de março, acontecerão duas sessões diárias gratuitas, sempre às 19h e às 21h, no auditório Simon Bolívar, onde se apresentam grupos do Brasil e outros vindos do Peru, Argentina, Uruguai, México, Colômbia, Cuba, Espanha e Portugal.

Na abertura oficial, o ator Lima Duarte encena o monólogo O Ator, de Chico Assis. O dramaturgo escreveu a peça em homenagem ao próprio ator, que tem liberdade para misturar no texto histórias de sua própria trajetória. Também no dia de abertura, a atriz Denise Fraga está no elenco de A Alma Boa de Setsuan, clássico de Bertold Brecht dirigido por Marco Antônio Braz. Nos dias seguintes, são apresentadas peças que ganharam destaque em seus respectivos países, como Final de Partida, de Samuel Beckett, trazida pelo grupo cubano Argos ou Los Padres Terribles, montagem do texto de Jean Cocteau que foi premiada como melhor espetáculo de 2009, no Uruguai.

A elogiada companhia portuguesa Kind od Black Box encena Lost in Space, obra do polonês Slawomir Mrozek sobre três astronautas à deriva no espaço, sem comunicação com a Terra. Curiosa é a peça Uma Obra Baseada em Nada, da companhia mexicana Entre Piernas. O texto do americano Will Eno é encenado pelo ator Gerardo Trejoluna que passa cerca de uma hora sentado em cubo de gelo, que vai derretendo ao longo da apresentação. Além da mostra principal, que reúne 15 espetáculos, o Festival apresenta programação paralela, com quatro espetáculos apresentados pela Cia. Circo Teatro Tubinho.

Entre os dias 11 e 13, debates abordam temas como a viabilidade de produções alternativas, tendências da dramaturgia e novos atores. A organização sugere a retirada dos ingressos a partir das 13h do dia do espetáculo.
sexta-feira, 5 de março de 2010

em casa, no museu

A partir de março, cinco instituições abrem acervo para visitação virtual

Quanto mais conhecida é uma obra de arte, mais pessoas almejam a vontade de vê-la ao vivo. Não à toa, Monalisa, de Leonardo da Vinci, ano após ano, continua a lotar de turistas a sala em que está alojada no Museu do Louvre, em Paris. Este princípio é inspiração para a implantação do projeto ERA Virtual – Museus, que colocará na internet o acervo de doze museus brasileiros, disponíveis para visitação virtual, a partir de março.

No endereço www.eravirtual.org, estarão reunidas a princípio cinco instituições. O Museu de Artes e Ofícios, de Belo Horizonte (MG), o Museu do Oratório, de Ouro Preto (MG), Museu Victor Meirelles, de Florianópolis (SC), o Museu Nacional do Mar, de São Francisco do Sul (SC) e a Casa Cora Coralina, de Goiás (GO) são os primeiros a inaugurarem o passeio virtual gratuito que abrange todas as exposições permanentes. A partir do espaço externo destes museus, uma câmera segue em direção a porta de entrada. No canto da tela, um mapa de localização facilita a visita. Esta câmera de acesso “caminha” pelos corredores dos espaços expositores, sendo comandada pelo próprio usuário. Este visitante virtual pode escolher em que direção quer seguir e de qual objeto quer se aproximar. Com um clique, ver detalhes ou gira-la para observar todos os ângulos. Dentro dos corredores, o visitante pode ter uma visão de 360 graus de qualquer ponto do museu em que estiver inserido.

Os organizadores do projeto acreditam que, assim como acontece com a Gioconda de Da Vinci, o conhecimento virtual de uma obra não tira do navegante a vontade de visitar pessoalmente o local onde ela está fixada. “A ferramenta serve como uma motivação a mais para as pessoas visitarem o museus. Como quando um turista procura na internet fotografias de uma praia que irá visitar em breve”, diz Rodrigo Coelho, coordenador e idealizador do ERA Virtual – Museus, que é financiado por intermédio de leis de incentivo estaduais e federais, totalizando 720 mil reais de investimento.

Além das cinco instituições citadas, outras sete estarão disponíveis até o fim do ano. São, em sua maioria, museus de Minas Gerais que abragem temas variados, de arte sacra a história natural. Além disso, outros selecionados estão localizados no Nordeste e Centro-Oeste do país. “Um dos critérios de escolha foi geográfico. Gostaríamos de selecionar museus de todas as regiões, para oferecer ao público uma visão geral das obras hoje expostas no Brasil”, explica a museóloga e curadora do projeto Cicélia Cursino.

Ainda que o oferecimento de uma visitação virtual seja relativamente comum nos grandes museus do mundo, vide o próprio Louvre, a prática caminha lentamente para uma implantação no Brasil. Reforçando esta idéia, o Museu de Arte de São Paulo, MASP, também inaugurou este mês seu novo site, que segue moldes europeus. No endereço www.masp.art.br, o visitante tem acesso a 800 obras do acervo, que incluem telas de Renoir e Van Gogh, com ficha técnica completa. Além das obras, linha do tempo, detalhes históricos e localização de livros e catálogos pertencentes à instituição completam o tour virtual.
quinta-feira, 4 de março de 2010

valores da música, com silvio barbato

No ar há duas semanas, o programa Valores da Música, exibido pelo canal Futura, é uma maneira coloquial e didática de apresentar a música clássica aos menos familiarizados. Apresentado e idealizado pelo maestro Silvio Barbato, morto no dia 1º de junho do ano passado, no acidente do vôo Air France 447, o programa dura apenas 9 minutos, o que não o faz menor em qualidade.

Exibido sempre aos domingos, às 16 horas, apresenta temas relacionados à musica, como a formação de orquestra, confecção de instrumentos ou educação musical, em diversos estados brasileiros. Barbato viajou, por exemplo, a Minas Gerais para falar de corais e ao Pernambuco, para apresentar o trabalho da Orquestra Cidadã, formada por jovens da favela Coq, uma das mais violentas de Recife. Com total de 27 programas, a série apresenta algumas histórias interessantes, como quando o maestro confronta a compreensão de ensino musical por crianças e adultos. Ou quando compara funcionamento de uma orquestra à construção civil e explica a formação do grupo musical em companhia de alguns empreiteiros e pedreiros. Daí surge um interessante diálogo de aprendizado que termina com um dos visitantes sugerindo a execução de um forró.

Outros ritmos brasileiros, frevo, samba e chorinho, também são abordados na série, que é também uma homenagem ao maestro falecido. Nos últimos anos dedicado à composição, o maestro era autor da ópera O Cientista, baseada na vida de Oswaldo Cruz e Chagas, sobre a vida de Carlos Chagas Filho. Antes do acidente, estava elaborando sua terceira ópera, sobre Simon Bolívar.
quarta-feira, 3 de março de 2010

khamsa


No interior da França, o garoto Marco (Marc Cortes) foge de uma família adotiva e retorna ao acampamento cigano onde nasceu. Ali, desamparado pela família, passa a viver em companhia de alguns meninos que o levam a cometer delitos. Seu primo Tony (Tony Fourmann) é um anão cheio de marra que o envolve em brigas de galo. A ilusão de que ganharão uma grana fácil os fazem sonhar com a Espanha. Enquanto isso, o amigo Coyote (Raymond Adam) o leva a invadir mansões vazias, sem sucesso.



Marco carrega no pescoço um pingente khamsa, símbolo de proteção usado sobretudo pela cultura árabe, herdado de sua mãe. O amuleto também o faz ter dúvidas sobre sua real descendência, num local aonde árabes e ciganos não se entendem. O diretor tunisiano Karim Dridi faz de Khamsa um filme sobre delinquência juvenil que se assemelha a outros tantos sobre o mesmo tema. O próprio diretor não esconde sua inspiração em Pixote (1981), de Hector Babenco. Diz que pensou também em Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, quando recrutou boa parte de seus atores/personagens numa comunidade cigana em Marselha, onde pesquisou e realizou workshops por alguns meses.



O carente Marco é figura das periferias do mundo todo, que por azar, falta de instrução ou oportunidade, se vê encurralado diante da violência e obrigado a fazer dela uma constante em sua vida. O diretor Dridi retrata essa inegável percepção de maneira suave, ainda mais quando o personagem reflete sobre uma possível mudança de vida.
terça-feira, 2 de março de 2010

pachamama


Saindo do Rio de Janeiro, o diretor Erik Rocha, filho de Glauber Rocha, propõe uma viagem a tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia. No documentário Pachamama, ele se encarrega completamente da câmera, que, em sua mão, sacoleja daqui até lá. Focando-se muito em imagens abstratas encontradas no caminho – rios, estradas e matas – Rocha entrevista alguns personagens e tenta traçar um perfil dos povos que habitam hoje esses países.

Apesar de dizer-se focado em entender o Brasil por meio de sua visão sobre a América Latina, muito pouco se fala sobre seu país de origem. O diretor busca fazer um retrato da política hoje vigente nestes países, principalmente a boliviana, sob mandato de Evo Morales. Seus entrevistados dividem-se entre aqueles que amam e aqueles que odeiam o presidente indígena e tecem os mais diversos comentários sobre a posição do país.

O diretor dá atenção também à tradição de mascar folhas de coca e como ela é tratada por trabalhadores e políticos. Pachamama, que quer dizer “mãe-terra” no antigo idioma aymara, peca por ocultar informações que seriam importantes para o entendimento da viagem. Por vezes, o diretor opta por imagens abstratas, ao invés de focar-se em rostos. Muitas vozes se tornam anônimas, o que faz o espectador perder a troca e o contato humano.

segunda-feira, 1 de março de 2010

cineclube HSBC belas artes

A cada semana, um filme de destaque, sempre no mesmo horário, durante um mês. O Cineclube do Belas Artes, em São Paulo, já realiza esta fórmula há algum tempo e esta semana inicia mais um ciclo. Dedicada à comédia italiana, a programação abrange diferentes fases do gênero, com longas como O Comum Sentido do Pudor (1976), de Alberto Sordi e Aprile (1998), de Nanni Moretti. Abrindo o ciclo, Esses nossos Maridos, longa dirigido em três episódios sobre infidelidade dirigidos por Dino Risi, Luigi Filippo D’Amico e Luigi Zaqmpa.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

são paulo antiga



Imagens de São Paulo antiga, tiradas entre 1870 e 1930, compõem uma coleção de cartões postais lançados pela Secretaria Municipal de Cultura da cidade, à venda em livrarias (R$ 30). Na caixa, com 22 cartões postais e envelopes, mostram o cotidiano da cidade pelo olhar dos fotógrafos Aurélio Becherini, Militão Augusto de Azevedo e Guilherme Gaensly, além de autores desconhecidos.


As imagens são do Departamento do Patrimônio Histórico que busca divulgar seu acervo iconográfico. Em uma das imagens, de autoria desconhecida, passantes sobre a ponte observam a enchente do rio Tamanduateí, em 1906. Em outra, oficiais da Guarda Cívica, crianças e passantes olham curiosos em direção ao fotógrafo Becherini, em 1915, ao lado do popular Café Brandão. Todos os postais são descritos em pequenos textos assinados por Fraya Frehse, professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Viva o Brasil



O material fotográfico da exposição Viva o Brasil, de Xavier Roy, já passou por algumas capitais brasileiras e agora é editado em livro homônimo (Imprensa Oficial, 136 págs, R$ 60), cujo lançamento acontece dia 22 de fevereiro, na Casa das Rosas, em São Paulo. As imagens do fotógrafo francês, captadas entre 2003 e 2009, buscam registrar o cotidiano das ruas e o aspecto humano dos locais visitados. Passando por diversos estados brasileiros, Roy viajou de São Paulo aos Lençóis Maranhenses, do Rio de Janeiro a Santarém. “Foi neste país que vivenciei alguns dos meus mais belos encontros fotográficos”, diz na apresentação do livro.



Inspirado pelos romances de Jorge Amado e pelas canções de Gilberto Gil, o francês buscou no Brasil a mesma peregrinação que já havia feito em outros países, quando trabalhava como repórter e carregava consigo a máquina fotográfica. Hoje somente dedicado à fotografia, reúne neste lançamento 119 imagens em preto e branco captadas durante suas viagens pelo país. São, em sua maioria, fotografias que retratam um Brasil tranquilo, em imagens de cotidiano que fogem do registro documental da violência ou miséria.



São fotografias de crianças brincando no mar, cachorros passeando na orla da praia, mulheres em típicas vestimentas baianas. Roy diz, em entrevista cedida ao também fotográfo João Kulcsár que completa o livro, que busca registrar o espírito humano, que é o mesmo aqui ou em qualquer outro lugar.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

um homem sério



Marca registrada dos irmãos Ethan e Joel Coen, o humor negro e sarcástico é parte de sua nova produção Um Homem Sério. O longa é um retorno às origens judaicas dos irmãos, cheios de referências bíblicas e indagações religiosas, ao mesmo tempo em que mantém certo tom de comédia quando busca retratar a infelicidade alheia.

O protagonista do título é Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg), um professor de Física politicamente correto, que parece não ter pulso firme para controlar decisões que afetam diretamente sua vida. Mantém-se inerte mesmo ao saber que precisa mudar-se de casa, pois sua mulher quer formar um lar com o amante. Com dívidas, problemas em casa e no trabalho, Gopnik busca conselhos de diversos rabinos e começa a contestar qual exatamente é o papel que Deus exerce em sua vida. “Porque ele nos faz perguntar, se não nos dá nenhuma resposta?”, diz em uma conversa cômica com o rabino Natchner (George Wyner).

Filmado no interior de Minessota, onde os Coen foram criados e onde rodaram um de seus melhores filmes, Fargo (1996), Um Homem Sério pode ser visto como um filme feito por judeus e para judeus. “Nós recorremos à tradição”, aconselha uma amiga de Gopnik. Ao mesmo tempo, é também uma reflexão sobre como podemos tomar as rédeas da vida, independente de religião. Ao tratar de Deus, família e crença, assuntos de tamanha complexidade, os irmãos Coen acertam o tom ao recorrem novamente a um específico tipo de humor, no qual são mestres.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

um olhar do paraíso



O diretor Peter Jackson, responsável pela trilogia Senhor dos Anéis e King Kong, tem mania de grandeza, isso não é novidade. Em seu novo longa-metragem, Um Olhar do Paraíso, ele abandona a temática épica ou aventureira, mas mantém um estilo excessivo, repleto de efeitos especiais, que está acostumado a apresentar em suas mega produções. O roteiro do filme, baseado no romance Uma Vida Interrompida, de Alice Sebold, narra a história de Susie Salmon, garota de 14 anos que é assassinada pelo vizinho.



Após sua morte, ela observa a vida daqueles que ainda estão vivos e tenta influenciar na captura de seu assassino. Susie, interpretada com suavidade pela garota Saoirse Ronan, passa a viver em uma espécie de ante-sala do paraíso, de onde ela poderá se libertar assim que acreditar que sua influência entre os vivos está terminada. Repleto de espiritualidade, Um Olhar do Paraíso é por vezes tocante, mas peca pelo exagero, vindo exatamente da mania de Jackson de exacerbar.



Com efeitos especiais, cria um paraíso onde tudo é possível, mas não faz dele uma paisagem bonita de se ver. O mal uso de cores ou elementos visuais torna algumas cenas visualmente feias, quase bregas. Se dirigido com maior sutileza, seria mais agradável de assistir às duas horas e vinte minutos de duração. Um inexpressivo Mark Wahlberg e uma mal aproveitada Rachel Weisz, que some mais da metade do filme, completam o elenco como pais da garota. Susan Sarandon, a avó maluquete, dá leveza ao clima pesado da produção.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

educação


Subúrbio de Londres, década de 1960. Carrey Mulligan interpreta Jenny, uma promissora estudante colegial se encontra com um homem mais velho (Peter Sarsgaard) e passa a viver uma espécie de vida dupla em Educação, filme de Lone Scherfig. De um lado, ela é a garota de 16 anos, que freqüenta de uniforme a escola para garotas, sem maquiagem e com o sonho de entrar na Universidade de Oxford.

Ao lado de David (Sarsgaard), aprende um novo estilo de vida. Transforma-se numa bonequinha de luxo, vai a Paris, freqüenta clubes de jazz e corridas de cachorro. David encanta não só Jenny, mas também seu rigoroso pai e sua submissa mãe. Mas há algo de estranho no personagem, em sua maneira de levar a vida e profissão, que faz com que o espectador fique na espera de uma reviravolta. Que de fato acontece. Educação foi exibido na Mostra de Cinema de São Paulo com o nome de Sedução, ambos propícios. Na pele da lolita Jenny, Carrey Mulligan, hoje com 24 anos, ganha sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
domingo, 21 de fevereiro de 2010

o mensageiro


O Sargento Montgomery, ferido na guerra do Iraque, volta aos Estados Unidos e recebe uma missão burocrática para deixá-lo longe dos campos de batalha. Ele precisa, ao lado do capitão Tony Stone, notificar pessoalmente a morte de soldados a seus familiares. Ben foster e Woody Harrelson interpretam esta dupla em O Mensageiro, filme dirigido por Oren Moverman, que tem duas indicações ao Oscar deste ano, incluindo melhor ator coadjuvante para Harrelson e melhor roteiro original.

A história narra brevemente a passagem do Sargento Montgomery de herói de guerra a portador de más notícias. Treinado por um capitão excêntrico (Harrelson merece a indicação), ele é o cara durão que deixa de lado a razão quando acredita ser necessário. Avisado sobre o protocolo a ser seguido, passa então a visitar famílias em cenas onde a emoção toma forma de diferentes maneiras, quase sempre envoltas em raiva.

A Steve Buscemi cabe o papel do pai revoltoso, que usa humilhação para expressar sua revolta ao exército. Samantha Morton interpreta uma viúva que desperta interesse no sargento. O Mensageiro extrai da convivência entre oficiais um retrato da instituição americana, ao mesmo tempo em que se opõe ao seu perfil e a suas atitudes perante o recrutamento juvenil.
sábado, 20 de fevereiro de 2010

aquarelas de Charles Landseer


Um dos sete filhos sobreviventes do gravador John Landseer, o inglês Charles Landseer veio de uma família de artistas. Além do pai, que lhe ensinou o ofício, os irmãos também eram ligados às artes plásticas. Em 1825, então com 26 anos e já formado na britânica Royal Academy of Arts, Charles Landseer integra a missão diplomática do embaixador Charles Stuart e aporta no Brasil, onde fica por cerca de um ano.

Quase 180 desenhos e aquarelas desta época, preciosas como as de Jean-Baptiste Debret, pertencem hoje ao Instituto Moreira Salles, que abre exposição no Rio de Janeiro e lança extensa edição bilíngüe sobre o artista, intituladas Charles Landseer: desenhos e aquarelas de Portugal e do Brasil – 1825-1826 e organizadas por Leslie Bethell. Livro e exposição dividem a obra do artista por períodos, desde sua saída da Inglaterra, passando por Lisboa e a chegada ao Brasil. Ainda na capital portuguesa, registrou rostos de passantes nas ruas e fez retratos de Dom João VI, a maioria com lápis ou carvão sob papel.

Durante o período em que esteve no Brasil, Landseer viajou por São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, onde observou costumes e pessoas, mas pintou principalmente paisagens, sobretudo cariocas. Aqui aproveitou o uso da aquarela para registrar também espécies botânicas nativas. Ao chegar no Brasil, era jovem e inexperiente. De volta ao país de origem, tornou-se o principal instrutor da Royal Academy of Arts.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

preciosa



Indicado a 6 Oscar, incluindo melhor filme, direção e roteiro, Preciosa é um dos queridinhos da premiação este ano. O drama narra a história de Clarice Precious Jones, adolescente negra, obesa, pobre, analfabeta, sexualmente abusada e grávida do pai pela segunda vez, cuja mãe a espanca e a primeira filha sofre de Síndrome de Down. A extensa descrição, ainda incompleta, é proposital e serve para enfatizar o drama em que se apóia este filme independente, dirigido pelo quase estreante Lee Daniels e inspirado no livro Push, da escritora norteamericana Sapphire.


É impossível não se emocionar com a história de Precious, já que o sofrimento se faz tão presente. Mas, ao mesmo tempo, também chega a ser exagerado o tom dramático que Daniels emprega durante todo filme, o que o faz perder o tom. Quando se imagina que a protagonista já passou por tudo, lá vem mais uma cacetada. Por vezes sonha acordada, sempre se imaginando uma cantora de sucesso, escoltada por um namorado bonitão.


A estreante Gabourey Sidibe concorre a melhor atriz pelo papel principal, mas a comediante Mo’Nique impressiona na pele de mãe descontrolada. Em participações especiais, é possível ver Mariah Carey e Lenny Kravitz bem longe do glamour pop ao qual estão acostumados. O longa-metragem também debate a esperança e não poderia ser diferente, já que é apadrinhado e produzido pela apresentadora Oprah Winfrey. Se lembrarmos que esperança e sofrimento fizeram de Quem quer Ser um Milionário? o melhor filme do ano passado, pode ser que Precious tenha boas chances com a Academia.

astroboy


Criação do “pai dos mangás”, Osamu Tezuka, a história do menino-robô Astro Boy chega aos cinemas na sexta-feira 22 em animação coproduzida por Japão, Hong Kong e Estados Unidos. A combinação entre ocidente e oriente é bem explícita no longa-metragem infantil. São mantidos alguns traços do mangá japonês, sobretudo no personagem principal, ainda que boa parte dos cenários e coadjuvantes sejam totalmente ocidentalizados.

Responsável por popularizar o estilo, Tezuka criou a história na década de 50 e transformou Astro Boy numa espécie de Mickey Mouse japonês, um símbolo infantil carismático e lucrativo. Numa realidade futurística, o cientista Dr. Tenma perde o filho Tobio em um acidente dentro de seu laboratório. Em luto, cria um andróide idêntico ao garoto e consegue transferir a ele memórias e sentimentos de Tobio. Mais tarde expulso de casa, o menino-robô tem que perceber sua condição e adaptar-se a ela numa sociedade onde os robôs são tratados como sucata.

A animação, bem dirigida por David Bowers, consegue misturar drama e ação em boas medidas, sem transformar o enredo em melodrama. O ator Rodrigo Faro, apesar de seus 35 anos, empresta voz ao garoto. O bom trabalho o faz quase passar despercebido.

toca raul!



Uma seleção de clássicos é o que leitor encontra em Raul Seixas – 10.000 Anos à Frente, uma caixa com seis CDs que reúnem as melhores fases da carreira do roqueiro baiano. Do primeiro álbum solo, Krig-Há, Bandolo! (1973), saíram Mosca na Sopa, Al Capone e Metamorfose Ambulante. Para colecionadores, o álbum 30 Anos de Rock (1985) em que Seixas regrava clássicos do estilo como Blue Suede Shoes e Tutti Frutti, ambas também eternizadas por Elvis Presley. Os bem sucedidos alguns Gita (1974), Novo Aeon (1975), Há 10 Mil Anos Atrás (1976) e Rock Raul Seixas (1977) completam a caixa.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Policarpo em quadrinhos

Dando continuidade a série Grandes Clássicos em Graphic Novel, a editora Desiderata lança O Triste Fim de Policarpo Quaresma (74 págs, R$ 44,90), de Lima Barreto, com roteiro de Flávio Braga e desenhos de Edgar Basques.

Este cartunista gaúcho, acostumado com humor, ambienta com precisão o Brasil do século XIX em quadros aquarelados. São bem cuidadas as paisagens cariocas em tons pastéis e a indumentária é detalhada.

O roteiro de Braga se prende aos fatos principais do livro e extrai humor de cenas variadas, como quando o anti-herói se põe a chorar ao cumprimentar alguns visitantes, pois “é assim que fazem os tupinambás”. O Triste Fim de Policarpo Quaresma foi originalmente publicado em folhetins, entre agosto e outubro de 1911, mas não deixa de se mostrar atual ao discutir o papel da liberdade de expressão.

salve jorge!


A primeira década da carreira de Joge Ben Jor é relançada em CD na caixa Salve Jorge!, que contém boa parte dos sucessos da carreira do cantor, naquela época ainda Jorge Ben. A caixa contém 14 álbuns, todos pertencentes ao acervo da antiga gravadora Philips brasileira, gravados entre 1963 e 1976, entre eles um duplo com raridades e versões inéditas, como a do hino do Flamengo, time do coração.

A caixa Salve Jorge! é mais do que uma compilação, mas um resgate a uma fase celebrada de sua carreira e lembrada ainda hoje por dezenas de hits, entre eles Mas que Nada, Chove Chuva, Balança Pema, lançados ainda no primeiro disco Samba Esquema Novo (1963). Sacudin Bem Samba (1964), Força Bruta (1970), Negro é Lindo (1971) e A Tabua Esmeralda (1974) também são frutos desta fase, sendo este último considerado por muitos o melhor álbum da carreira do cantor. Produto de um período em que Ben Jor se aproximou da filosofia, alquimia e temas holísticos, são deste álbum as místicas e também clássicas Os alquimistas estão chegando, O homem da gravata florida e Magnólia.

Junto com Gilberto Gil, em 1975, lançou Gil & Jorge Ogum Xangô, disco experimental quase raro, fruto de uma jam session na casa do executivo André Midani. Comemorando este lançamento e os quase cinqüenta anos de carreira, Ben Jor faz show em São Paulo, no Credicard Hall, dia 27 de fevereiro.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Movimento dos sem-cor

Agora que volta a discussão sobre a liberação das camaras de bronzeamento artificial, acho oportuno colocar aqui uma matéria que fiz em dezembro do ano passado, quando a Justiça tinha proibido esta técnica de bronzeamento. Na época estavam acontecendo alguns protestos em São Paulo e Porto Alegre e é a matéria fala sobre estas manifestações. A seguir:


O movimento dos sem cor

POR CAMILA ALAM

O vão livre do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista, costuma ser ponto de encontro de manifestantes. Não seria pra menos. O lugar é grande, ventilado, protege contra o sol. Este foi também o local escolhido para homens e mulheres protestarem contra a proibição do bronzeamento artificial, na segunda-feira 30. Já passava do meio-dia, mas sol, para eles, só de mentira.

No último dia 11 de novembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso das câmaras de bronzeamento para fins estéticos. Segue uma recomendação da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer, ligada a Organização Mundial de Saúde. Segundo as pesquisas, a quantidade de raios ultravioletas saída das câmaras artificiais é oito vezes maior do que aquela emitida pelo sol em um horário considerado de risco para a pele. A chance de desenvolvimento de câncer de pele, como o melanoma, aumentaria 75% em pessoas de até 35 anos que usam o procedimento.

A faixa etária, porém, não é unânime na manifestação, que também ocorreu uma semana antes em Porto Alegre. Homens e mulheres, idades diversas, seguravam cartazes com os dizeres “Amo bronzeamento, isso é crime?” ou “O mundo libera e o Brazil (sic) proíbe?”, “Anvisa, cadê as provas?”. Rapazes musculosos, alguns trajando camiseta do Clube das Mulheres, senhoras meio “peruas” e adolescentes com vestimenta praiana também estavam presentes. Todos com a cor do verão. Alguns branquelos também, é justo dizer. Outros, mais agressivos, apelavam para o “Lula colocou um ditador na Anvisa” e ainda “Voltamos à Ditadura”. Seria a revolução em marcha?

Não se sabe ao certo qual a idéia ou lembrança de ditadura que estes manifestantes têm em mente. Mas o grito de guerra entoado pelos presentes era firme: “bronze, bronze, bronze”. Uma loira de pele morena puxava coro e intrigava alguns passantes desavisados que custavam a perceber que não se tratava de comemoração de pódio. A loira é a modelo Renata Banhara, conhecida por estampar capas de revistas masculinas. “Respeito a decisão da Anvisa, mas discordo em absoluto. O Brasil não pode ser ignorante assim, no mundo inteiro é aceito. O que a OMS está fazendo é um estudo, que ainda não foi validado. Eu desacredito”, disse dias depois à CartaCapital.

“É um procedimento de alto risco para um resultado questionável. Gera todo um trabalho de vigilância sanitária, que, por mais fiscalização que se tenha, não vai eliminar os riscos aos quais as pessoas ficam expostas”, disse Dirceu Barbano, diretor da Anvisa, em entrevista coletiva na qual anunciou a decisão da agência. “Não se conseguiu comprovar nenhum benefício que justificasse a manutenção no mercado de um produto que comprovadamente causa câncer”, completou. Além disso, a agência não dava conta da fiscalização dos mais de 5 mil aparelhos de bronzeamento existentes no País. Pesquisa da OMS mostra também que a falta de manutenção pode agravar a situação do cliente. Com lâmpadas velhas, a emissão de radiação e o tempo no interior da câmara são maiores.

À margem das manifestações, muitos estabelecimentos no Brasil, prevendo a decisão da Anvisa e atentos às discussões que acontecem há algum tempo, resolveram trocar o procedimento a laser pelo chamado a jato, que funciona com um aplicador de loção bronzeadora na camada superficial da pele. Uma espécie de tinta que dura alguns dias na pele. Algumas das clínicas de São Paulo conhecidas pelas câmeras de luz nem sequer atendem telefone, para evitar as multas da Anvisa que variam de 2,5 mil a 1,5 milhão de reais.

Também presente na manifestação estava Ticiana Pires, proprietária de uma clínica de estética no bairro Vila Marina, em São Paulo. Ao portal de notícias G1, ela disse estar tendo prejuízo com o estabelecimento e que atualmente atende somente clientes com solicitação médica, pois a Anvisa liberou a emissão de radiação ultravioleta para tratamentos médicos ou odontológicos. "Nessa época do ano, costumávamos fazer 80 sessões por dia. Agora, estamos fazendo sete ou oito. Minha clínica tem 21 empregados. O que vai acontecer com eles?", disse.

Para a dermatologista Carla Vidal, dona de uma clínica de tratamento e estética em São Paulo, que não oferece procedimentos de bronzeamento, a decisão da Anvisa demorou a chegar. “A câmara de bronzeamento tem o uso indiscriminado no Brasil. Estava mais do que na hora de ser proibida, já que ela leva ao envelhecimento precoce da pele, que se transforma quase em couro, com rugas e flacidez”.

Há onze anos a Sociedade Brasileira de Dermatologia, que apóia a decisão da Anvisa, faz campanha contra o câncer de pele, alertando para o uso de filtro solar. Recentemente, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor realizou testes que colocam em xeque a formulação e a eficiência de alguns protetores solares comercializados no Brasil. Os resultados foram ignorados pela SBD, que afirma desconhecer os padrões de testes utilizados pela associação. Com ou sem manifestação, os dias das câmaras de bronzeamento artificial estão contados no Brasil. Para a tristeza de paulistanos e gaúchos.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes


Esqueça o estereotipo do detive sabichão, o assistente roliço e também o mais famoso dos bordões. O Sherlock Holmes de Guy Ritchie, estréia do dia 08, é movido à pólvora e explosões. A Londres vitoriana parece cenário moderno já que nesta versão, diferente de outras adaptações, Holmes faz a linha herói. É exímio lutador, charmoso e engraçado. Ao mesmo tempo, infantil e dependente de seu fiel escudeiro, Dr. Watson, o que motivou piadinhas em relação a sexualidade do detive. Robert Downey Jr. e Jude Law formam esta dupla que pode parecer improvável, mas funciona. É um dos atrativos do longa que cheira franquia.


Este Holmes não veste ternos de tweed. Ao contrário, tira a camisa para encarar uma luta clandestina que, explorada em câmera lenta logo nas primeiras cenas, deixa clara a marca de Ritchie como diretor que, quando acerta, faz memoráveis cenas de ação. No enredo, a magia negra é o mote para as ações do vilão Lorde Blackwood (Mark Strong), suspeito de envolvimento em uma série de assassinatos. Para resolver os casos, a agilidade e astúcia do personagem permanecem intactas, apesar da modernização do personagem, agora um inteligente bon vivant. Ao lado de Holmes e Watson está Irene, interpretada por Rachel Adams.


Ela é o ponto fraco do detive, uma espécie de ladra que em algum momento passa a ser mocinha. Ritchie faz a usual mistura de ação com comicidade e, apoiado em boas atuações, entrega ao público mais de duas horas de diversão.