quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

eles adoram o sistema*


Fotos: Olga Vlahou

Já não é novidade que a arte feita nas ruas cada vez mais salta dos muros e becos das grandes cidades para ser inserida nos ambientes antes tidos como tradicionais, como galerias, leilões e museus. O que se convencionou chamar de grafite, ou street art, ou arte de rua, avança para outras nomenclaturas, se auto-intitula arte contemporânea e, ainda mais, vanguardista.

Está, de fato, mais difícil distinguir ou definir a arte inspirada nas ruas, aquela que nasceu nas sessões de skate e hip hop. Mas está também mais fácil reconhecer sua importância no cenário das artes contemporâneas atuais, dentro e fora do Brasil. Exemplo mais recente disto é a mostra De dentro da Fora / De Fora pra Dentro, inaugurada no dia 20 de novembro, no Museu de Arte de São Paulo, o MASP.

A exposição reúne, no subsolo do museu, seis grandes artistas que levam consigo a fama de “grafiteiros”. São eles Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak e Zezão, todos reconhecidos internacionalmente, que ocupam mais de 1500 metros quadrados do maior museu da América Latina com instalações, pinturas e fotografias. Acostumados a expor em galerias e participarem de feiras internacionais, veem no MASP uma experiência única, de completo diálogo entre a arte que produzem e a sociedade. “O público em geral, o pessoal das escolas, não freqüenta galerias. Esta exposição é importante para que eles vejam a produção contemporânea, esta que está sendo produzida agora”, diz Stephan Doitschinoff.

Trazer esta arte contemporânea ao maior museu da América Latina é resultado de muito suor destes e outros artistas, mas é também um trabalho de equipe que vem sendo feito há anos, que ganhou força particularmente nos últimos cinco. Os curadores da exposição Baixo Ribeiro, Eduardo Saretta e Mariana Martins tem um papel fundamental na ampliação da visibilidade da street art como objeto consumo, para apreciação e coleção. Reunidos há seis anos, criaram a Choque Cultural, galeria referência no estilo que hoje faz exposições temporárias, mas também ajuda a manter o ritmo de produção de artistas já consagrados. Além disso, conseguem impulsionar o trabalho de novos representantes e, principalmente, incentivam a criação de jovens colecionadores, para que estes possam formar a base que sustenta a linha de produção de cada artista.

“Acreditamos que a primeira instância de reconhecimento do artista é o colecionador e tentamos criar um núcleo sistemático para cada artista. Só assim ele tem suporte pra fazer projetos mais audaciosos, evoluir, continuar trabalhando na rua, o que quiser”, diz Baixo Ribeiro, que criou o conceito da galeria em 2003, junto com Mariana Martins, sua mulher, e Eduardo Saretta. O que começou como um escritório para venda e impressão de cartazes alternativos, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, se tornou, em pouco tempo, uma galeria respeitada que já tem braços voltados essencialmente a colecionadores. Com históricos pessoais voltados a arte e criação, os três juntos parecem se complementar. Baixo e Mariana são casados desde que cursavam Arquitetura na USP. Antes da galeria, ele trabalhava com moda streetwear, onde criava roupas e shapes de skate, num universo totalmente ligado à arte urbana. Mariana sempre viveu próxima às artes plásticas nacionais, sendo responsável pelo legado de um dos maiores artistas brasileiros, seu pai, Aldemir Martins.

Numa época em que a internet começava a difundir novos artistas e a espalhar ainda mais o conceito de arte urbana, o casal conheceu Saretta, por meio dos fotologs, ferramentas muito populares no começo da década 2000. Historiador, ligado ao coletivo SHN, que espalha serigrafias, adesivos e posters pelas cidades de São Paulo, Saretta incorporou ainda mais ao grupo a forte vivência das ruas. “Nos juntamos por afinidade, interesse e naturalidade. Hoje eu sei a importância que esta exposição tem e consigo também enxergar o legado que cada um carrega”, diz. Para Saretta, o próprio Aldemir Martins ajudou na formação de muitos artistas presentes na mostra. “A facilidade que ele tinha em espalhar o seu trabalho e a palavra dele se refletem aqui hoje”, completa.

Responsável por ampliar os horizontes artísticos do MASP, o curador geral da instituição, Teixeira Coelho, ao lado de seus conselheiros, apostou que arte contemporânea inspirada nas ruas caberia perfeitamente no projeto de reestruturação do Museu, que busca diversificar a programação e atrair novos públicos. Para ele, a arte contemporânea tradicional já pode ser chamada de arte contemporânea conservadora.
“Visitei um colecionador de arte contemporânea tradicional e percebi estava presente na coleção um dos artistas que está aqui na mostra. Chamou-me atenção a qualidade e força das obras. Eu não conhecia esse artista e fiquei atento a essa questão, que é uma derivação da primeira arte de rua, de existência autônoma”, diz Coelho. Os curadores e artistas sabem que há certo teor de risco na aposta de Teixeira. “Ele estava procurando algo inovador, mas que tivesse base e fundamento. Ele apostou, mas sabe também que é um bom apostador e não costuma perder”, diz Mariana.

Apesar da crescente ascensão, não são só glórias que se destacam no histórico da Choque Cultural. Muitos devem lembrar do episódio da pichação que ocorreu em setembro de 2008. Ato semelhante ao ocorrido com a Bienal de São Paulo e com a Faculdade de Belas Artes, ambos no mesmo ano. Ao invadirem a galeria, pichadores danificaram obras expostas na parede, como as do artista pop inglês Gerald Laing e do brasileiro Daniel Melim, que participa da exposição no MASP. “Foi triste e não foi uma busca por espaço, porque o espaço não é uma entidade que tem opinião. A própria rua é um lugar para se mostrar e que hoje é usada com maestria por muita gente”, diz Baixo.

“A gente tentou ser o mais discreto possível. Mas já viu criança mal educada? Isso é coisa de gente que não tem educação para saber se posicionar. Por outro lado, ficamos até um pouco honrados, porque picharam a Bienal e nós, que não temos nenhum apoio grandioso”, completa Mariana. O episódio gerou discussão e colocou em pauta exatamente a definição de grafite. Um artista que também não se intitula grafiteiro, mas que trabalha e se inspira nas ruas, comenta o acontecido. “Acho que naquele momento, eles caíram em contradição e mexeram num vespeiro. Porque grafite é vandalismo das ruas, feito por pessoas que querem se expressar. Acredito que mudaram a opinião depois da pichação. Mas todo mundo quer saber mais sobre o estilo e eles estão com uma proposta”, diz.

Proposta esta que já foi aceita nas ruas e galerias e agora vem sido também aceita por museólogos. O que prova a força de uma estética cada vez mais bem elaborada e com artistas de talento inquestionável. Para Baixo Ribeiro, é uma transformação necessária e gradual. “A gente adora o sistema. Se não entrarmos e não trabalharmos com ele, não conseguimos transformar o que está errado”.
*publicada originalmente em CartaCapital nº 573
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

outro negro


Na década de 1910, em Alagoas, o alemão José Gosch (Odilon Wagner) realiza estudos que comprovam a existência de petróleo na região e investe em uma companhia independente. Prestes a realizar a primeira perfuração, morre sob circunstancias misteriosas. O enredo de Ouro Negro, que estreia dia 11, é em parte inspirado em fatos reais narra histórias pouco conhecidas de quem foi responsável pelos primórdios da extração de petróleo no Brasil.


Concentra-se, sobretudo, em personagens fictícios que representam de certa maneira o ideal da época. É o caso de João Martins, afilhado de Gosch, interpretado por Danton Melo. Num salto na linha do tempo, sua figura reflete parte da ambição de pessoas reais, como o escritor Monteiro Lobato ou do engenheiro Manoel Bastos.


Dirigido por Isa Albuquerque, o longa-metragem é um pouco didático e soa panfletário, sobretudo nas últimas cenas. A diretora, porém, costuma advertir que o lançamento do projeto nos tempos em que o país volta a discutir o petróleo e o pré-sal não passa de coincidência.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tokyo!



Três histórias fantasiosas formam Tokyo!, um longa-metragem em forma de rapsódia, produzido a seis mãos pelos diretores franceses Michel Gondry e Leos Carax junto ao coreano Joon-ho Bong.



A cidade é a fonte inspiradora para uma mistura ficcional que não teria sentido caso presente em outra metrópole, já que em Tóquio tudo parece possível. Michel Gondry, reconhecido diretor de videoclipes malucos e de longas como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Rebobine, Por Favor, apresenta Interior Design, a história de um jovem casal, recém chegado à cidade. Quando a garota percebe sua dificuldade de adaptação, começa a sofrer uma radical transformação que lhe dará sentido a vida.



Em Marde, de Leos Carax, uma estranha criatura humana destruidora sai dos esgotos da cidade, mas sua captura leva todos a um debate em torno de sua pena. Por fim, Shaking Tokyo, de Joon-ho Bong, diretor de longas de terror como O Hospeiro. Nesta última narrativa, conhecemos a vida de um hikikomori, pessoa que opta pelo total isolamento social, que mora sozinho há dez anos, sem sair de casa.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

entre a luz e a sombra




Em 160 minutos de duração, o documentário Entre a Luz e a Sombra caminha por diferentes histórias, que estão conectadas entre si. Entre os anos 2000 e 2007, a diretora Luciana Burlamaqui acompanhou a vida da atriz Sophia Bisilliat, que desde a década de 1980 dava aula de teatro aos detentos do Carandiru e buscava talentos escondidos dentro das celas do complexo.



Foi assim que conheceu Dexter e Afro-X, integrantes da dupla de rap 509-E, famosa por ter conseguido autorização judicial para realizar shows fora da cadeira. Essas duas trajetórias se unificam quando Sophia e Dexter começam um relacionamento e ela passa a ser empresária da banda. Quando o casal rompe, começa também mais uma narrativa dentro do filme, onde ficam claras pequenas disputas pessoais, entre o casal e também entre os membros da banda.



A mescla de tantas histórias, filmadas ao longo de sete anos, pode deixar Entre a Luz e a Sombra parecer um tanto sem rumo. Mas o documentário se desenrola de maneira interessante não só por mostrar os regimentos internos do Carandiru, já amplamente explorados em outros longas, mas por dar voz a homens e mulheres que lutam, de diferentes formas, pela reintegração a sociedade.



Amigos de infância, Dexter e Afro-X já não formam mais o 509-E, que terminou pouco depois de Afro-X conseguir liberdade, em 2003, mas ambos continuam como forças ativas dentro do cenário hip hop brasileiro, sendo por meio da música ou ações sociais.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009

do começo ao fim



Muito se falou na internet sobre o longa-metragem Do Começo ao Fim, de Aluízio Abranches, devido a junção de temas polêmicos em seu argumento. Mas sua estreia, realizada no último dia 27, pode decepcionar. Dois irmãos, de pais diferentes, crescem juntos e nutrem um amor fraternal exagerado.

O resultado desta relação homossexual e incestuosa teria rendido um filme de intrigas, discussões e preconceito. Ao contrário, a história de amor de Francisco e Thomas (João Gabriel Vasconcelos e Rafael Cardoso) é forrada de clichês românticos, zero dramaticidade e uma perseguição pela naturalidade que chega a incomodar.

A mãe dos garotos (Julia Lemmertz) é alertada pelos pais, interpretados por Fabio Assunção e Jean-Pierre Noher, sobre a relação dos filhos. Sem querer interferir, age com singeleza, assim como todos em volta dos garotos. A construção de uma relação polêmica onde não existe nenhuma dificuldade soa falsa. E, apesar da beleza dos meninos, algumas cenas de nudez fora de contexto chegam a constranger.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009

tocaia - de maringoni

Apaixonado por aviação e observador da vida na cidade, o jornalista e quadrinista Gilberto Maringoni mistura temáticas em Tocaia, lançamento que reúne quatorze histórias produzidas entre 1989 e 2002. Bem humoradas ou aventureiras, as histórias de Maringoni são cheias de personagens curiosos, com diferentes estilos e trajetórias de vida. às vezes, faz de si mesmo o protagonista de suas histórias.

No conto que dá nome ao livro, um matador de aluguel espera o momento de entrar em ação, enquanto conversa com o leitor. Prepara-se para o ataque, em um quarto de hotel. Segue para o local combinado, sem sucesso.

Na história Gente como a gente, uma um rapaz sofre com o trânsito na Av. São João, em São Paulo, numa narrativa bem humorada. Ele seria mais um em meio a todos os paulistanos, não fosse pelo elevado Minhocão que passa exatamente dentro de sua sala de estar. Enquanto assiste TV, conversa com motoristas, ajuda na troca de pneus e irrita-se com o caos paulistano, que termina quando a Companhia de Tráfego fecha a passagem.

Com fantasia ou não, a cidade de São Paulo é também personagem em algumas tramas. Nos capítulos finais, Longa Jornada Eu ADentro e Avoadoras, reservam detalhadas histórias autobiográficas e sobre aviação.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Marcel Gautherot



Em 1939, quando chegou ao Brasil pela primeira vez, o parisiense Marcelo Gautherot presenciou daqui o estouro da Segunda Guerra Mundial. Então radicado no Brasil, deu início a uma série de viagens onde fotografou paisagens e cenas cotidianas do norte e nordeste brasileiro.



Permaneceu no País até sua morte, no Rio de Janeiro, em 1996. Parte do resultado dessas e outras imagens produzidas durante as décadas posteriores em que viveu no Brasil estão presentes na mostra Marcel Gautherot – Norte, realizada pelo Instituto Moreira Salles, mantenedor de todo seu acervo, com mais de 25 mil imagens.



Sob curadoria de Miltom Hatoum e Samuel Titan Jr., a exposição reúne toda uma produção voltada para a Amazônia, onde os personagens são pescadores ou boiadeiros e paisagens são típicas casas de madeira a margem de rios. Em imagens em preto e branco, o fotógrafo abandona o olhar europeu e penetra na paisagem brasileira, de maneira aventureira e sensível. O MIS lança ainda livro homônimo que reúne 72 fotografias e texto dos curadores.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009

cidadão boilesen



Vencedor da 14ª edição do Festival de Documentários É Tudo Verdade, Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski, gira em torno de um tema propositalmente quase esquecido, a participação de grandes empresários no financiamento das ações do exército durante a ditadura. O principal deles, e figura central deste longa, foi Henning Albert Boilesen, dinamarquês naturalizado brasileiro, presidente da Ultragáz na década de 1960.

No longa-metragem, Litewski aborda o tema de maneira interessante, com trilha sonora animada e edição moderna, que ajudam a suavizar o conteúdo. Resultado de pesquisa extensa, a trajetória de Boilesen é contada desde a infância, com a ajuda de arquivos escolares municipais, que revelavam, desde cedo, uma personalidade dúbia. Conhecido por amigos como pessoa bem humorada, um líder nato, Boilesen por vezes era cruel e frio, um sádico. Chegou ao Brasil pobre, mas rapidamente, e por méritos próprios, se tornou presidente de uma das maiores companhias da época. Freqüentava colunas sociais, adorava grandes bailes, caipirinhas e mulatas.

Anticomunista, teria sido responsável e maior entusiasta da “caixinha” que circulava entre os empresários brasileiros – sobretudo paulistanos – que deveria financiar a Operação Bandeirante, organizada pelo exército. Boilesen teria participado pessoalmente de sessões de tortura, sendo responsável por trazer ao País um aparelho de choques elétricos mais moderno, tempos depois conhecido como Pianola Boilesen.

Por meio de depoimentos bastante diferenciados, Cidadão Boilesen traça um perfil do empresário até sua morte, em 1971, quando fora encurralado e executado por militantes da ANL e MRT em uma rua próxima a Avenida Paulista, em São Paulo. Carlos Eugênio Paz, líder da ação e um dos poucos sobreviventes do grupo, fala com detalhes sobre o dia da morte do empresário. O depoimento de ex-militares, políticos, religiosos, guerrilheiros, amigos e parentes estão mesclados a cenas de ficção de longas como Pra frente Brasil, de Roberto Farias e Lamarca, de Sérgio Rezende. A narrativa por vezes deixa escapar, sutilmente, um quê de ironia, resultado da fala descuidada de alguns entrevistados.
terça-feira, 24 de novembro de 2009

polícia, adjetivo



O policial Cristi vive de observar um grupo de adolescentes que saem da escola e se encontram para fumar haxixe. De longe, caminha lentamente, persegue bitucas de cigarro que os garotos deixam para trás, procura alguma prova de que ali estejam mais do que usuários.

O longa-metragem romeno Polícia, Adjetivo, de Corneliu Porumboiu, trata de tédio, voyeurismo e instituições hierárquicas, onde o funcionário é obrigado a cumprir papéis indesejáveis. É o caso de Cristi, interpretado por Dragos Bucur, que discorda de prender em flagrante os jovens maconheiros. As entediantes perseguições, que são boa parte do filme, ajudam o espectador a perceber um também entediante estilo de vida, onde a personagem não tem voz.

A cena que dá título ao longa, e a que vale toda espera, é de humor sutil e inteligente. Intrigado com a ordem de prisão dos adolescentes, Cristi se reúne com o chefe de polícia. Este, munido com dicionário, quer ensinar ao subordinado o real sentido das palavras consciência e polícia.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O poder da míni

A história o leitor já conhece. Geisy Arruda, 20 anos, a loira do vestido curto da Universidade Bandeirante (Uniban), é notícia desde 22 de outubro, quando teve de sair do campus da faculdade escoltada pela polícia, sob xingamentos e vaias dos colegas. Imagens gravadas pelo celular e difundidas pela internet tornaram Geisy o centro das atenções, assunto dos mais comentados no Twitter, tema de música de axé no YouTube, além de notícia constante em incansáveis jornais, sites e programas de tevê. Está, inclusive, na mira da Playboy. “Deu no New York Times”, diria Jorge Ben. E deu também no Guardian, do Reino Unido, no americano Examiner e no Pakistan News. Este último, de fato intrigado, devido à fama dos microbiquínis brasileiros. Geisy tornou-se uma espécie de Maria Madalena moderna. Os puros que atirem a primeira pedra.

Expulsa e reintegrada à universidade em menos de 48 horas, Geisy motivou protestos por parte de militâncias feministas e estudantis. Um deles, realizado em frente à instituição na segunda-feira 9, reuniu associações de amparo à mulher, cujas representantes, de microfone em punho em cima do trio elétrico, gritavam sem sucesso. Dos manifestantes presentes, muitas mulheres, donas de casa, senhoras e alguns garotos. Raros eram os alunos da Uniban. A maioria dos estudantes na proximidade do protesto, em parte protegida pelas grades, mantinha o discurso agressivo, vaiando e repetindo a postura vista contra Geisy no dia 22.

Estudantes da Uniban, hoje preocupados com a imagem que terão num futuro próximo, participam do protesto de maneira bairrista, sem parecer entender a discussão sugerida pela turma do trio elétrico. Maria Fernanda Marcelino, militante da Marcha Mundial das Mulheres, é uma delas. “Queríamos abrir um debate sobre como deveriam refletir e não deixar propagar um tipo de comportamento que para a sociedade é muito danoso.” Segundo Maria Fernanda, a decisão de expulsar a garota de vestido curto remete a um senso comum que justifica a violência contra a mulher. Como se a culpa por uma agressão, independentemente de suas circunstâncias, fosse sempre da agredida. “Acredito que a Uniban tenha dado um recado péssimo, do tipo ‘homens continuem agredindo mulheres, a responsabilidade é sua’”, diz a integrante da ONG Sempreviva Organização Feminista. A militante diz ter tido apoio de alunas que temem expressá-lo por temerem ser prejudicadas de alguma forma. “Quando depreciamos a faculdade, questionamos o futuro dessas pessoas.”

Apesar de presente em grande número, a maioria das alunas mulheres não parece se preocupar com a discussão de direitos feministas. Querem, assim como o restante dos alunos, enxovalhar a garota do vestido rosa. Como se o caso de Geisy tivesse se transformado numa enorme rede de intrigas e fofocas, onde não só a universidade mas o País inteiro pudesse opinar. Não foram poucos os xingamentos ouvidos durante a manifestação, em que estava presente Letícia Quinello, aluna de Pedagogia. “Só a gente viu essa menina levantando o vestido e mostrando a bunda com a calcinha pra fora. Essa ideia de sensacionalismo só leva a crer que o brasileiro é burro”, diz a aluna de 27 anos, trajada com terninho e saia reta na altura dos joelhos. A amiga de curso, Letícia Longuinho, de 19 anos, conta que Geisy mandava beijos, mostrava os seios e posava para fotos antes e durante a confusão. “Muitas meninas vêm de saia curta, não vamos ser hipócritas. Mas é maneira de se comportar? Se fosse eu, mesmo de saia curta, não ia me portar como celebridade, mas como alguém que quer respeito.”

Depois de reintegrar a aluna, a Uniban decidiu transferir a turma de Geisy para outro prédio do campus, mais afastado. Em entrevista coletiva, Ellis Brown, vice-reitor, ofereceu apoio e segurança necessários à volta da garota, que não frequenta as aulas desde o ocorrido. Na manifestação da segunda, Pedro Lessi, um dos advogados de Geisy, gritava a plenos pulmões em cima do trio elétrico que faria de tudo para fechar a Uniban, que “não dá tratamento digno ao ser humano”. Esta imagem rendeu à universidade o apelido de Unitaleban, em referência à milícia extremista islâmica.

O advogado defendia firmemente a segurança da mulher. Ao avistar a apresentadora Sabrina Sato, que gravava matéria para o programa humorístico Pânico na TV, debochou dos alunos que não teriam coragem de censurar o vestido da famosa. “Seus covardes”, gritava. “Isso afeta a Constituição Federal, a lei foi rasgada. Geisy foi vítima da ardilosidade de homens totalmente despreparados para a sociedade. E esses diretores que voltaram atrás na decisão da expulsão não têm caráter nem personalidade. Deveriam ser banidos do ensino no Brasil”, disse um pouco depois à CartaCapital.

Quietas em um dos cantos da manifestação, as estudantes de Moda Stephanie Gusmão e Zan, de 21 e 27 anos, estavam atentas aos discursos, sem achar necessária a euforia do momento. “A mulher lutou muitos anos pela liberdade a favor da minissaia e agora a ‘mina’ vem assim e é tratada como lixo? Sou a favor da liberdade, cada um anda como quer e se não concorda, venha diferente”, diz Zan. Pacíficas e bem-humoradas, sugerem uma manifestação de impacto. Que tal, a favor da liberdade, todas retirarem suas mínis do armário?
terça-feira, 17 de novembro de 2009

é tudo mais ou menos verdade

Nova compilação de Allan Sieber traz narrativas inspiradas na vida real

É tudo mais ou menos verdade
Ed. Desiderata, 128 págs, R$ 49,90

Para grandes cartunistas, a verdade é mais interessante que a ficção. Se aproveitada de maneira correta, a narrativa de um fato banal pode tornar-se interessante, engraçada, à maneira de Robert Crumb e Harvey Pekar. Inspirado por esses, e outros, o gaúcho Allan Sieber olha em volta em busca de observações cotidianas que o fazem refletir sobre uma boa história. Sarcástico e inteligente, o humor de Sieber zomba conosco, aproveita as brechas sujas e incoerentes da sociedade para nos fazer rir. É, acima de tudo, atento a detalhes, às piadas prontas. Em seu novo livro, É tudo mais ou menos verdade, reúne histórias mais longas que as usuais tiras, algumas inéditas outras encomendadas e publicadas por diversos veículos. “Os pequenos detalhes bobos, quando contados de maneira interessante, se tornam interessante”, disse em conversa por telefone.

“Jornalismo investigativo, tendencioso e ficcional de Allan Sieber” é o subtítulo que entrega ao leitor o tom das narrativas. Mais como um observador, o cartunista vai cobrir eventos como o Fashion Rio, onde observa o backstage de desfiles, penetra em festas fashionistas e conta piadas que ninguém entende. Também no Rio de Janeiro, cidade onde mora hoje, acompanha um tour pela favela, feita para turistas. No grupo, argentinos irritantes e uma guia turística sem noção. Foi no Rio também, que Sieber descobriu o paradeiro de Adolfo Hitler, o Seu Dodô, morador do bairro do Leblon, fã das rodas de samba da Lapa.

“As pessoas tendem a achar que as histórias são muito exageradas, mas 90 por cento das coisas aconteceram. Mas sempre há pequenas omissões”, diz Sieber. Na série Memórias Alheias, cria pequenas histórias inspiradas por casos impensáveis de amigos, ou inimigos. “É uma motivação poder me vingar dessa maneira”, diz sobre os últimos. “Sei de pessoas que se reconheceram nas histórias, mas nunca me falaram nada e não tive nenhum tipo de problema”.

Sieber é fruto de uma geração criativa, ao lado de outros bons cartunistas e amigos como Arnaldo Branco e André Dahmer. Ao contrário dos dois, porém, não gosta de passar horas no Twitter e sabe, muito mal, atualizar seu blog, onde posta com certa freqüência. “É uma ferramenta genial, mas ainda acho estranho. Parece que as pessoas perderam a divisão entre o publico e o privado”, diz o cartunista que tem como personagem principal ele próprio.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009

haicai

De origem japonesa, a forma poética haicai consiste originalmente em três pequenos versos, de cinco, sete e cinco silabas. Muito difundido em seu país de origem, pouco foi estudado no Brasil, mas não por isso deixou de ser representado por grandes nomes da literatura de língua portuguesa.

Adaptado ou seguido à risca, o haicai brasileiro está reunido na compilação Boa Companhia, Haicai, organizado por Rodolfo Witzig Guttilla, que há mais de 25 anos estuda o estilo.


Inspirados, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade relatam cenas curtas e bem humoradas. Monteiro Lobato, o primeiro a aderir ao estilo, em 1906, prefere a forma clássica e faz versos sobre a natureza. Erico Verissmo, Paulo Leminsk, Luis Aranha, Millôr Fernandes e outros também estão na reunião
quinta-feira, 12 de novembro de 2009

carlos vergara e a dimensão gráfica


Adepto a experimentações, o gaúcho Carlos Vergara produziu extenso acervo onde se mostra interessado em trabalhar além da pintura. Criando sobreposições em telas, fotografias ou instalações, consegue migrar de suportes sem perder a forte presença de grafismos e cores.


Os grafismos são parte essencial da produção deste aluno de Iberê Camargo e inspiração para a mostra Carlos Vergara – A Dimensão Gráfica, que o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro recebe a partir do dia 12. Um conjunto de mais de 200 peças demonstra a linguagem do artista em monotipias, gravuras, desenhos, fotografias, telas e instalações, realizadas desde os anos 1960 até hoje.


Algumas peças retiradas do acervo do próprio curador e colecionador Georges Kornis. “Vergara não é somente um pintor. Uma fotografia pode se desenvolver em serigrafia, que por sua vez poderá se tornar uma pintura. Esta é sua grande alquimia”, diz Kornis, que optou por separar a mostra em quatro núcleos de observação, organizados em torno de temas diversos.
terça-feira, 10 de novembro de 2009

brecheret indígena


Lembrado essencialmente por obras de teor clássico ou romântico, o ítalo brasileiro Victor Brecheret também criou esculturas inspiradas em nos regionalismos nacionais, embora estas não sejam responsáveis pela fama do artista. Em terracota, madeira e pedra Brecheret deu forma a figuras indígenas que remetem ao primitivismo e a deuses antepassados.

Parte da vontade de abrasileirar sua produção teria vindo do amigo Mário de Andrade, que o aconselhou a estudar tribos indígenas. Criadas nesta fase, 24 esculturas e 23 desenhos com artes pictográficos estão reunidas na mostra A Arte Indígena de Vitor Brecheret, inaugurada na Caixa Cultural São Paulo, em cartaz até janeiro de 2010. Entre as peças, três grandes pedras que juntas narram a história de uma índia e um peixe, aliando escultura e gravura em uma só obra. Brecheret teria achado as três pedras à beira de uma praia do nordeste brasileiro e arrastado-as até a areia.

Nos desenhos, imagens que lembram escrituras antigas, como inscrições feitas na em ocas ou cavernas. Em exposição a obras Índio e a Suaçuapara, premiada como melhor escultura nacional na 1ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1951.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009

a elegância de woody allen



Há quem ame e quem odeie o quê caricatural que consagrou o humorista, diretor e roteirista Woody Allen. Em muitos de seus mais de 40 longas-metragens, ele criou e interpretou o mesmo personagem, muitos dizem, o dele próprio. Controverso, neurótico, criativo crítico da sociedade americana, Allen é mestre da comédia, ao mesmo tempo em que flerta com o suspense e os dramas, quase sempre envoltos em desequilibradas tramas conjugais.

Desde 1966, produz praticamente um filme por ano. Quarenta dessas produções estão na mostra A Elegância de Woody Allen, apresentada pelo Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio, entre os dias 3 e 29 de novembro. A vasta programação, que se estende ao CCBB de São Paulo a partir do dia 18, é um prato cheio aos fãs do cineasta, além de constituir excelente porta de entrada aos menos familiarizados com o estilo do autor. Entre as projeções, todas exibidas em película, está o novo longa do diretor, Tudo Pode Dar Certo, previsto para lançamento no Brasil somente ano que vem.

Há também marcos iniciais da carreira de Allen, como seu primeiro longa O Que Há, Tigresa?, de 1966, além de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar (1972) e Manhattan (1979). Realizações da recente “fase europeia” do diretor, como Match Point (2005) e Vicky Cristina Barcelona (2008), também serão exibidos, mas o que faz a mostra ser ainda mais atrativa são aqueles que complementam a filmografia de Allen.

Meetin’ WA (1986), de Jean-Luc Godard, reconta a história do cineasta americano, lançado no mesmo ano de Hannah e Suas Irmãs, enquanto Wild Man Blues (1997) acompanha uma turnê de Allen e sua banda de jazz. Ainda hoje, a Eddie Davis New Orleans Jazz Band reúne-se às segundas-férias no Café Carlyle, em Manhattan, com Allen nos clarinetes. A mostra apresenta também longas nos quais não teve participação na produção ou direção, mas atuou em papéis de destaque como Company Man (2000), de Perter Askin e Douglas McGrath e Rei Lear (1987), de Godard.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009

salve geral - nos cinemas

Em maio de 2006, a cidade de São Paulo se viu sitiada pelos ataques do Primeiro Comando da Capital, o PCC, que agia em resposta a transferência inesperada de mais de 700 presos para a penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes, incluindo líderes da facção. O episódio recente, e possivelmente fresco na memória da população, volta à tona no longa-metragem Salve Geral,de Sérgio Rezende, em cartaz nos cinemas.

Ficção baseada em realidade, o filme usa o episódio ocorrido na capital para discutir sobre a organização sistema penitenciário brasileiro e as relações entre governo e facção, no filme chamada de Partido. Coincidentemente, seu lançamento ocorre na mesma época em que se inicia o julgamento de Marcos Camacho, o Marcola, e Júlio César de Moraes, o Julinho Carambola, apontados como líderes do PCC.

O diretor carioca inspirou-se no episódio paulista para fazer a sua espécie de alerta, ou mesmo, mostrar sua porção de indignação. “Guardadas as proporções, este episódio foi o nosso 11 de Setembro. Revelou o descontrole absoluto e caótico em que nós vivemos e todas as contradições da sociedade brasileira”, disse Rezende à CartaCapital.

Salve Geral narra também a história de Lúcia (Andrea Beltrão), uma professora de piano que, ao ter o filho preso, conhece a advogada Ruiva, (Denise Weinberg, em excelente atuação) e se envolve diretamente com o Partido. Faz pequenos favores, a fim de conseguir vantagens para o filho. As relações entre Partido e governo e o andamento das negociações para o cessar dos ataques são pontos altos do longa.

Usando uma das falas da personagem de Beltrão, Rezende se mostra desapontado com a própria sociedade. “Lucia diz que sempre que sempre que está com medo, fecha os olhos. Mas estas questões estão longe de serem superadas e são responsabilidade de todos. A única maneira de solucionar, ou começar a solucionar, é encarar”, acredita. Mais que um filme sobre uma facção, Salve Geral é trata da perda de controle. Seja sobre uma cidade, um presídio ou a própria razão.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009

nos becos do limpão

No bairro do Jardim Limpão, Daniel Melim ensina jovens a grafitar

É em direção a uma estreita viela, na entrada do bairro do Jardim Limpão, em São Bernardo do Campo, que Daniel Melim se dirige, carregando material que traz no porta-malas de seu carro. Num caixote de supermercado estão latas de tinta, sprays coloridos, pincéis e estênceis. São poucos, comparados aos que o artista usa em seu atelier, localizado a metros dali, mas suficiente para fazer a alegria de uma molecada que o avista de longe e chega pulando para cumprimentar. Há quatro anos, Melim desenvolve no bairro que viu crescer o Projeto Comunidade Limpão, que tenta voltar a atenção dos jovens e crianças para a arte, usando como base principal o grafite.

Em uma espécie de workshop improvisado, numa manhã de domingo, o artista reúne algumas crianças e começa a planejar, com elas, a nova fachada da sede da comunidade. O lugar, um pequeno quadrado com banheiro, é também a base do Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Senhô, onde ao mesmo tempo, Fabio Almeida, conhecido como Preto, ensina um grupo a montar um xequeré, um dos instrumentos de percussão usados nas rodas de capoeira. Cenas como estas, repetidas em fins de semana no Limpão, se tornaram rotina para a comunidade, assim como para Melim, artista em progressiva ascensão no hoje cobiçado mundo da chamada street art.

Foi no Jardim Leblon, também em São Bernardo, que começou a trajetória como artista. Trabalhou como motorista quando jovem, deu aula de pintura em escolas públicas e hoje, aos 29 anos, já expôs em mostras no Brasil e no exterior e é representado por uma importante galeria em São Paulo, a Choque Cultural, especializada em arte contemporânea. Um de seus últimos trabalhos está hoje em Londres. Convidado pela ONG Action for Brazil’s Children, que tem como patronos figurões do showbussiness, como o guitarrista Jimmy Page e o cineasta Fernando Meirelles, Melim customizou uma cobiçada guitarra da marca Gibson. O objeto, junto com outros 11 feitos por outros artistas, será leiloado em breve.

Se Melim já é um nome conhecido para os modernos e entendidos, ali, para as crianças do Limpão, é o boa gente que vem ensinar como trabalhar com uma técnica antes marginalizada. Começando a pintura de base na parede da sede, Lucas, de 14 anos, Rafael, 12, Rodrigo, 15, e Gabriel, 9, discutem o tema que deverá emergir do velho muro.

“O símbolo do Corinthians!”, alguém grita. “Não fala besteira, menino”, retruca o professor. De maneira muito natural e improvisada, Melim guia os garotos, ensina o processo e os deixa trabalharem sozinhos. Mostra como segurar um rolo de tinta, explica as diferenças entre os diversos tamanhos de bicos do spray e ajuda a montar a idéia geral do projeto. O grupo é pequeno, para evitar bagunça. Ainda assim, o artista precisa chamar atenção dos insistentes, que tentam, em vão, usar os sprays para “pichar” o muro da frente. E coitado de alguém que usar a palavra pichação. “Aqui ninguém picha”, diz Melim, que é imediatamente respeitado. Um dos rebeldes acaba escapando e vai pintar um poste com o que sobrou de tinta vermelha num rolinho. Tudo bem.

Encostadas nas proximidades, outras crianças observam e tentam chegar para ajudar. Hoje não, mas fica pra próxima. O material, todo bancado pelo artista, só é suficiente para pintar a sede, mas a parede ao lado, cedida pelo dono do bar vizinho, já está reservada para a próxima intervenção. Outras crianças trabalharão nesse dia. A pintura das vielas, muros e fachadas de casa só funciona com a autorização dos donos das casas. “Aqui tem muitos evangélicos e eles não gostam das figuras. Normalmente acham que é coisa do diabo”, explica Melim.

Do lado de fora, é possível ouvir o barulho do batuque que vem de dentro da casa. Fabio Almeida, o Preto, está ensinando um grupo a montar um xequeré, instrumento africano que custa em média 100 reais, mas que no workshop do Limpão, o morador aprende a fazer e leva pra casa. Na cozinha improvisada, um fogão de duas bocas esquenta uma panela de pressão cheia de canjica. “Tentamos resgatar a cultura africana, através da música, da capoeira e da culinária. É a nossa essência”, diz Preto, ao mesmo tempo em que mostra a repórter como construir o instrumento. Para o professor de capoeira, pernambucano de 31 anos, que há 8 trabalha e mora no Limpão, a maior dificuldade não é ensinar as crianças, mas seus pais. “É difícil formar a identidade dos pequenos, quando eles saem daqui ouvindo o canto das lavadeiras e voltam para casa para ouvir funk que os pais ouvem”. Preto conta que se teve noção de sua responsabilidade junto as crianças no dia em que um garoto o viu tomando cerveja em um churrasco. “Você é um mentiroso! Ensina a gente não beber, e está aí, com a latinha na mão”, foi a bronca do garoto. Depois disso, parou de beber. E o garoto, hoje com 13 anos, é Caíque, um dos mais experientes e promissores da roda de capoeira.

A sede não é, contudo, freqüentada só por moradores. A professora Roberta Costa, de 29 anos, ouviu de seus vizinhos que ali eram dadas aulas de capoeira e resolveu conhecer. Assídua no local há pouco mais de dois meses, ela traz o filho Flavio, de 4 anos. O garoto é um dos mais empolgados quando ouve o som do berimbau e arrisca alguns passos que vem aprendendo nas aulas. “Ele só fala disso, adora vir aqui. E tenho aprendido coisas de raiz que posso também levar pros meus alunos”, conta a professora da rede pública que ensaia uma dança africana para os alunos colocarem em prática na próxima festa junina.

Do lado de fora, o muro está quase pronto. Enquanto Lucas saca um aparelho de MP3 e ouve funk carioca, do tipo “proibidão”, Rodrigo, o mais velho da turma, termina uma parte do stencil. A técnica muito usada na arte de rua e consiste em usar uma espécie de forma para delimitar traçados. Com o muro pronto, Melim saca a câmera e faz fotos. Todos querem mostrar os dedos sujos de tintas, orgulhosos do trabalho que terminaram, depois de mais ou menos quatro horas de pintura. “Tentamos fugir da idéia de deixar a favela ‘mais bonita’. Queremos sim, humanizar os becos, trazer as crianças para perto de nós e deixá-los cada vez mais longe do tráfico”, diz Melim. Há cerca de quatro anos dando continuidade ao projeto Comunidade Limpão, Melim, Preto e os outros organizadores dessa pequena sede ainda encontram dificuldades para conseguir apoio. Tentam, pelos próprios meios, agir de maneira independente. O desejo antigo de montar uma ONG, que receba doações de maneira legal, julgam ser um processo burocrático demais. Mas que aos poucos começa a tomar forma. Enquanto isso, nos fins de semana do Limpão, faça chuva ou faça sol, a garotada segue aprendendo o que lhes é ensinado. Mesmo que seja misturando o funk com o afoxé.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009

balaiada

Histórias de um Brasil longínquo, normalmente reservadas aos livros escolares, tem sido inspiradoras para a criação de bons exemplares de histórias em quadrinhos. Exemplos recentes são os álbuns Os brasileiros, de André Toral, que narra em pequenas histórias a saga indígena no Brasil colonial, ou O Cabeleira, de Leandro Assis e Hiroshi Maeda, biografia do personagem homônimo, um dos primeiros bandoleiros nordestinos, temido anos antes de Lampião.

São, em sua maioria, narrativas inspiradas em fatos verídicos que, ao serem transportadas ao universo dos quadrinhos, ganham aura de aventura e tornam-se atrativas mesmo a leitores pouco familiarizados com o estilo. Recém lançado, o livro Balaiada – A Guerra do Maranhão (Dupla Criação, 82 págs) entra neste pacote e é resultado de um projeto concluído a seis mãos. Com roteiro do historiador Iramir Araújo e ilustrado por Ronilson Freire e Beto Nicácio, narra a eclosão da Balaiada, movimento popular que mobilizou homens livres e escravos contra a chamada Lei dos Prefeitos, na então província do Maranhão, em 1838. Lutavam, sobretudo, contra o abuso de poder escravocrata das classes políticas locais. Foram derrotados, após anos de combate com soldados da corte imperial, e seus líderes presos ou assinados.


Os quadros em preto e branco, que narram disputas e batalhas com precisão, foram divididos entre os desenhistas. Apesar de semelhantes, é possível perceber e comparar a diferença de traços entre Freire e Nicácio.
terça-feira, 4 de agosto de 2009

almoço de agosto


Faz calor no fim do verão e a cidade de Roma ainda vê passar alguns turistas. Giovanni é um homem de meia idade e mora com a mãe idosa, a quem cuida com devoção e paciência. As dívidas com o condomínio aumentam e ele aceita a proposta de seu síndico, que lhe ofereceu um abono de pagamentos caso hospedasse sua mãe durante o feriado de Ferragosto.

Só não esperava que a troca, mesmo breve, o traria tanta dor de cabeça. A senhora vem acompanhada. E depois dela, outra. Daí pra frente, o espectador de Almoço de Agosto, estreia do próximo dia 7, acompanha o dia a dia de Gianni em companhia de senhoras um tanto teimosas e cheias de manias. Horários, remédios e vinho branco para tudo. O longa-metragem italiano é dirigido pelo protagonista Gianni di Gregório, estreante nesta função e um dos roteiristas do premiado Gomorra (2008).

Baseando-se em sua própria história, Gregório faz um retrato bem humorado da terceira idade, ao mesmo tempo em que expõe as aflições de um filho cuja principal ocupação é cuidar da própria mãe. O verão e a culinária italiana são dois coadjuvantes de peso, que ajudam a deixar ainda mais graciosa a comédia.
quarta-feira, 29 de julho de 2009

abstrato por necessidade ou revelação tardia

Publico aqui uma matéria que saiu na CartaCapital nº 553 e que gostei bastante de fazer. Recebi tbm alguns comentários bacanas de leitores e isso é sempre bom! =)
Depois vou tentar subir algumas imagens tbm!

Abstrato por necessidade

Quase cego, André Carneio expõe suas fotografias, tão inquietantes quanto sua obra de ficção científica

POR CAMILA ALAM

Aos 87 anos, o escritor André Carneiro tem muitas histórias para contar. Difícil é a tarefa de selecionar episódios e causos a serem narrados. Diz-se poeta, mas tem uma trajetória multifacetada. É um artista que flui com naturalidade entre diversos campos de atuação e brinca com letras, pincéis e câmeras. Ele fez cinema, fotografia, pintura. Escreveu livros, de prosa e poesia, pesquisou a parapsicologia, foi hipnólogo. Assume as tantas profissões com bom humor. “Sou um fenômeno artístico”, diz, rindo.

Nome essencial na produção literária de ficção científica, autor de Confissões do Inexplicável (2007) e Amorquia (1991), Carneiro nunca se preocupou em divulgar os negativos que guardava em casa, separados por caixas, etiquetados. Sua produção como fotógrafo está exposta pela primeira vez em São Paulo, em novo espaço cultural chamado Pantemporâneo. Para chegar até sua exposição, Carneiro sobe alguns andares do prédio em um elevador panorâmico. Acha um pouco assustador. “É o medo da imaginação”, diz.

A mostra Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas resume 58 anos de um lado de Carneiro que ficou praticamente esquecido. Não por um desejo consciente, mas por não se considerar profissional ou por ter focado com demasiada paixão em suas outras produções.

Integrante da chamada Geração de 45, era amigo do escritor Oswald de Andrade, que, segundo ele, se queixava de uma atuação isolada e abandonada. “O grande público achava que o modernismo era uma bobagem. A fotografia artística era considerada uma arte secundária ou documentária. Mas ela transformou a criação estética do artista na época.”

Algumas das imagens do autor foram consideradas essenciais para a formação da fotografia modernista. Uma delas é Trilhos, de 1951, em que Carneiro observa, do alto, uma sequência vazia de linhas de bondes curvas e brilhantes, ornada por alguns poucos pedestres. Em outras imagens, ele põe o olhar sobre o cotidiano, observa passantes em preto e branco ou registra coloridos nus que, posteriormente, recorta para fazer montagens.

Juntamente com a exposição, Carneiro lança um livro-catálogo em que mistura as fotografias expostas com outras históricas. Estabelece relações entre a fotografia e o cinema, ou a poesia, e relembra algumas passagens da vida em que as fotos foram marcantes. Muitas delas vividas ainda na época da ditadura, quando escapou de ser preso algumas vezes. Pouco tempo depois do golpe de 1964, morava em Atibaia, interior de São Paulo, na casa de um guerrilheiro espanhol que havia sido condenado à morte por Francisco Franco, na Espanha. Raspou o bigode que adornava a face e mudou de nome. Por algum tempo, se chamou Augusto.

Em um congresso de escritores, realizado em Brasília, foi convidado a conhecer o general Costa e Silva, a quem deveria agradecer pelo auxílio oficial concedido ao evento. “Distraidamente levei até ele minha pequena câmera fotográfica, que não era russa”, relembra Carneiro. Mas não foi necessário utilizá-la. A um fotógrafo oficial coube a função de registrar o aperto de mão entre ele e o general. Daquele dia em diante, passou a carregar a foto do encontro na bagagem. “Um sujeito cumprimentado pelo presidente deveria significar bom rapaz.” A imagem o liberou certa vez de uma batida. Ele apresentou a foto aos policiais, que, cochichando entre si, permitiram sua liberação, “com as mãos úmidas e sem nenhuma acusação”.

Se a fotografia já o livrou de apuros, também lhe causou alguns tormentos. Nada que resultasse em prisão, no máximo uma discussão entre vizinhos. Carneiro costumava fazer nus. Na janela de seu apartamento, em São Paulo, usava manequins e modelos que, captados pela luz solar, refletiam a cor dourada. Numa tarde, a vizinha do prédio da frente sentiu-se horrorizada com o que via. Depois de intrigas, reclamações e contratempos na vizinhança, resolveu instalar na janela um papel opaco, como proteção para as imagens. “Brinquei dizendo que iria escrever do lado de fora: “Agora vocês perderam o espetáculo”.

Apesar de falar com humor e satisfação sobre seu trabalho, Carneiro deixa transparecer decepção. Depois de mais de 60 anos de carreira, sabe que seu nome, seja como escritor, poeta ou fotógrafo, é pouco conhecido. “Não sou muito lido, não. Faço com total dedicação toda arte, mas a consequência disso é a pobreza. Pensam que eu ganho um dinheirão, mas ganho um dinheirinho”, diz, transparecendo um misto de humor e tristeza.

Carneiro é do time de Nelson Rodrigues. Defende que o povo brasileiro possui o chamado complexo de vira-lata. Certa síndrome de inferioridade que não torna possível o elogio à própria terra, costumes ou tradições. Do ponto de vista artístico, acredita haver uma “falsa invasão de conhecimento”. “O brasileiro detesta confessar que não sabe. Existe uma atitude interessante, típica e bastante explicativa em suas consequências. É o que denominamos gozação.” Carneiro diz que até hoje tem um pouco de receio de se declarar artista, escritor, poeta ou fotógrafo. “A gozação declina para a desvalorização, um ataque sutil à posição do intelectual”, diz.

Hoje, tem cerca de 10% de visão e, em razão do problema, pouco fotografa. Realiza, entretanto, alguns autorretratos e quadros abstratos com base de vidro. Diz que chegou à abstração não por evolução natural, mas por necessidade. “Minha visão tem defeitos, meu cérebro inventa coisas que não existem, principalmente à noite. Meus quadros e fotos abstratos são arbitrários e questionam por si mesmos.” Fotógrafo modernista, pintor contemporâneo e criador de histórias fabulosas, Carneiro agora é revisto por completo. E, inventor bem-humorado, dá ao leitor o seguinte conselho: “Se eu não falei algo, você pode inventar”.
terça-feira, 28 de julho de 2009

celebração, de harold pinter



O clima é de comemoração em um restaurante sofisticado. Em uma primeira mesa, o casal Julie (Domingas Person) e Lambert (Carlos Morelli) festeja o aniversário de casamento, acompanhado dos cunhados Prue (Valentina Lattuada), irmã dela, e Matt (Luciano Gatti), irmão dele. Na mesa ao lado, Russel (Alexandre Freitas) brinda a ascensão profissional ao lado de sua esposa Suki (Juliana Vedovato).

Por trás da aparência de harmonia, diálogos são trocas de farpas sutis. Tendo suas vidas entrelaçadas, afloram revelações ou segredos, expostos numa batalha elegante onde a boa educação permite levar desaforos para casa. Último texto do dramaturgo britânico Harold Pinter, morto ano passado, a comédia Celebração ganha primeira montagem brasileira, dirigida por Eric Lenate, em cartaz no Teatro Cultura Inglesa, em São Paulo.

Pinter, um dos maiores representantes do teatro do absurdo, cria situações cômicas em um texto atemporal, ao mesmo tempo em que faz o público debater sobre relações de conveniência e futilidades. Denise Machado, Pedro Guilherme, Adriano Suto, Cristine Perón também estão no ótimo elenco, formado por ex e atuais atores do CPT de Antunes Filho.

foto: Bia Ferrer
segunda-feira, 27 de julho de 2009

paul strand, olhar direto



Com olhar imediato e registro direto, o fotógrafo nova-iorquino Paul Strand foi um dos responsáveis por transformar a fotografia em arte, no começo do século XX. Tendo a cidade natal, então em ebulição, como uma de suas personagens preferidas, Strand registrou cenas de cotidiano, prédios em construção e cenas típicas de uma metrópole industrial em formação.


Sua produção mais consagrada são fotografias em preto e branco, realizadas entre as décadas de 1910 e 1920, marcantes pelo registro histórico, caráter vanguardista e estética abstracionista. Fugindo do macartismo americano, Strand mudou-se para França, no final da década de 1940, onde produziu, sobretudo, retratos de comunidades locais.


Mais de cem imagens, produzidas durante esses dois períodos, estarão reunidas no Museu Lasar Segall na mostra Olhar direto, realizada em parceria com o Instituto Moreira Salles, em São Paulo. Strand teve uma longa produção de documentários. Um dos primeiros deles, o curta-metragem Manhatta, foi realizado em parceria com o também fotógrafo e pintor Charles Sheeler. O filme narra um dia na metrópole americana e estará na mostra, em apresentação continua.
Essa imagem é meu papel de parede aqui na redação. Traria uma paz se não tivesse forrada de ícones por cima.. rs..
quinta-feira, 23 de julho de 2009

o grupo baader meinhof


Na Alemanha Ocidental da década de 70, os filhos da geração pós-guerra travam uma guerra particular contra o imperialismo norte-americano. Julgam-no a nova face do facismo. Nascido nas salas de debate das universidades, o movimento de extrema esquerda tenta criar uma sociedade mais humana, ao mesmo tempo em que emprega os mesmos termos que tenta combater. Nesse contexto, nascia a RAF, ou Facção Exército Vermelho, ou Grupo Baader Meinholf, como ficou conhecido. Sua história, conhecida e retratada em livros, chega aos cinemas brasileiros amanhã.

O Grupo Baader Meinhof, dirigido pelo alemão Uli Edel (de Christiane F.), é denso e verdadeiro. Em seus 150 minutos de duração, narra o nascimento e morte da organização alemã, focando-se na trajetória separada de seus principais condutores, a jornalista de esquerda Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) e os militantes Andréas Baader (Moritz Blebtreu) e Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek). Procurada por Ensslin, Meinhof colaborou na fuga do então prisioneiro Baader. Depois deste dia, em maio de 1970, abandona a família e passa a ter uma vida clandestina junto ao grupo. Uma vez reunidos, e posteriormente presos, o espectador passa a acompanhar também a trajetória de um outro grupo, aquele se forma além dos muros da prisão. Jovens recrutas, responsáveis pelo seqüestro do vôo LH181 da Lufthansa e do industrial Hanns Martin Schleyer, ações fracassadas.

Baseado em livro biográfico homônimo, de Stefan Aust, o longa-metragem não soa planfetário, nem toma posições. Seus personagens históricos são humanos. Não são heróis ou exemplo de mártires. Mudam de posição, alteram-se e brigam entre si. Como em todo grupo político, prevêem um rompimento, mas estão envolvidos por demais na teia que criaram. A narrativa linear é detalhista. Alguns dos diálogos foram baseados em documentos originais ou relatos de testemunhas e gravações foram realizadas em locações originais. Mensagens secretas, trocadas enquanto os membros da RAF estavam na cadeia de Stammheim, também serviram de base para recapitulação de cenas. Tudo isso faz com que O Grupo Baader Meinhof seja visto como um retrato concreto, quase um documentário.


terça-feira, 21 de julho de 2009

a falta de tempo e o anima mundi

Ai, que vergonha de abandonar este queridíssimo blog, mas tá difícil, minha gente! O dia podia ter umas 30 horas, assim consegueríamos fazer tudo em tempo e ainda sobraria um espacinho maior pra dormir! Prometo que vou tentar atualizar aqui com mais frequência, pelo menos 1 post por dia, como fazia antes. Então, bora! Amanhã começa o Anima Mundi, vamos falar disso?

O Festival Anima Mundi chega a sua 17ª edição concretizado como um mundialmente importante festival do estilo. Começando amanhã em São Paulo (até o dia 26), a seleção deste ano tem cerca de 400 curta-metragens em animação, que abrangem estilos e nacionalidades diversas.

Na programação há produções de grande porte, realizadas por grandes companhias como a Disney/Pixar. Desta leva, encaixam-se uma nova aventura da dupla Wallace & Gromit e Presto, uma hilária disputa entre um mágico e seu coelho, que recusa-se a sair da cartola em pleno espetáculo. Por outro lado, países com pouca tradição cinematográfica, como Twaian, Letônia ou Croácia, apresentam bons trabalhos. Exemplo disso é a seqüência húngara Log Jam, que narra, em quatro filmes de poucos minutos, as engraçadas jam sessions de um trio de bichos na floresta.

Vídeo-clipes animados que fizeram sucesso na internet, como Her Morning Elegance, do israelense Oren Lavie, também estão na programação, que pode ser vista em http://www.animamundi.com.br/.





quinta-feira, 16 de julho de 2009

copacabana*

“Copacabana é aquele bilhete que você, totalmente de ressaca, encontra no bolso da calça de manhã. O bilhete da garota com quem você trombou ontem numa festa. E você sabe que ela é encrenca (...)”.

Com estas palavras Mário Bortolotto apresenta o álbum Copacabana (Ed. Desiderata, R$40, 200 págs), desenhado por Odyr e roteirizado por Lobo, ambos remanescentes da revista Mosh. No livro, o submundo do famoso bairro carioca é tratado com sinceridade. Prostituição, drogas e crimes dão o tom da narrativa, apresentada em imagens em preto e branco, tão borradas e agitadas como as próprias personagens.

No enredo, a prostituta Diana é conhecida no calçadão do bairro. Usa o xaveco de sempre pra conseguir clientes. E diz pra mãe que é enfermeira. Labuta diária e forte, que se torna ainda mais dura quando ela se envolve, não diretamente, no assassinato de um gringo cheio da grana. Mas, no meio da confusão, ainda sobra tempo pro amor. Como ela consegue?

Na cidade que é fantasia, o cartão postal oferece sexo, drogas e samba. Lobo e Odyr oferecem ao leitor muito mais. Um olhar direto sobre uma realidade que existe nas esquinas daqui ou de lá. Existe, mas passa despercebida por aqueles que dormem antes da meia noite e não ouvem o barulho das sirenes ou não vêem o piscar dos neons dos night clubs.

No baixo Augusta, em São Paulo, em Copacabana, no Rio, ou nos red lights districts ao redor do mundo, existem centenas de Dianas. E cada uma delas, com uma história pra contar. A dupla sabe disso e se inspirou para traduzir, de maneira coerente, esse universo de diversão e sofrimento. Se Copacabana, o bairro, é encrenca, Copacabana, o livro, é prazer. Ou vice-versa?


* Coluna originalmente publicada no site Impulso HQ
terça-feira, 14 de julho de 2009

harry potter e o enigma do príncipe


A saga de Harry Potter, nos cinemas desde 2001, consegue ainda hoje se manter atraente para o público. Sua sexta franquia, O Enigma do Príncipe, tem a vantagem de acompanhar o crescimento da audiência e de seus atores. Por isso, deixa de lado a ingenuidade, cada vez menos presente na série, e dá maior espaço à aventura e romance.

O novo longa-metragem, que estreia nos cinemas brasileiros amanhã, reafirma a importância do personagem em seu meio e deixa claro que a saga do garoto bruxo se encaminha pro fim. Dirigido por David Yates, que assina também a direção do quinto episódio da série, Harry Potter e o Enigma do Príncipe foca-se em uma fase de transição. Os adolescentes começam a se enxergar como adultos capazes de resolver sozinhos questões espinhosas. Pos isso, passam também a ter maior respeito de seus superiores.

Está próxima a batalha final entre o bem e o mal, mas Hollywood não quer saber de perdas. Por isso, explorou ao máximo a sexta aventura, com quase duas horas e meia de duração. Também dividiu a sétima, e última, seqüência em duas partes, programadas para 2010 e 2011.
segunda-feira, 6 de julho de 2009

Uma mulher nada cordial*

*Matéria publicada originalmente na CartaCapital nº 551

UMA MULHER NADA CORDIAL
Dona Emérita não aceita desocupar a casa da família Buarque de Holanda
Por Camila Alam

O historiador Sérgio Buarque de Holanda provavelmente não imaginava que a casa em que morou durante anos, em São Paulo, causaria tantos problemas. Se soubesse, o autor de Raízes do Brasil certamente teria dedicado maior atenção ao seu testamento. Localizada no bairro do Pacaembu, na rua Buri, a propriedade de 400 metros quadrados foi a moradia dos Buarque de Holanda por mais de 25 anos. Foi também palco de saraus e jantares que reuniam boa parte da elite cultural nas décadas de 50 a 70. Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi e Manuel Bandeira eram alguns de seus frequentadores. Dizem, até, que foi daquelas janelas que Chico Buarque viu a banda passar, em meados da década de 60, e compôs uma de suas canções de maior sucesso.

Com a morte do historiador, em 1982, a família, na casa desde 1957, resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro. Depois de anos a portas fechadas, a residência passou a ter outra moradora, dona Emérita Aparecida Carbone, ex-babá da família. Dessa apropriação nasceu a confusão que hoje está nas mãos da Justiça. Dona Emérita reclama a usucapião da propriedade, enquanto família e prefeitura tentam finalizar um acordo de desapropriação da moradia para construção de uma biblioteca musical. Segundo o Código Civil, a usucapião dá direito de aquisição da propriedade, de acordo com o tempo em que o morador nela esteja. As variáveis são infinitas.

A moradia, antes palco intelectual, agora é cenário de intensa troca de farpas. Não são poucos os imbróglios e versões. A começar pela data de mudança de dona Emérita, hoje com 52 anos. A ex-funcionária da família insiste em não ser entrevistada. Procurada pela reportagem, nem sequer atendeu à porta da casa. Autorizou, porém, que seu advogado falasse em seu lugar. Wilton Fernandes da Silva diz que a ex-babá está na residência “há quase vinte anos”. Ana Buarque de Holanda, filha de Sérgio e irmã do compositor Chico, acredita que “faz no máximo treze”. A data exata da mudança da ex-funcionária da família é contestável, mas sabe-se que ocorreu quando Emérita precisou de moradia na fase em que seu marido, hoje falecido, estava doente. “Ela foi babá dos meus sobrinhos, que hoje têm mais de 30 anos”, diz Ana Buarque. “Muitos anos depois, ela apareceu. A casa era só uma ajuda, um empréstimo”, completa.

Empréstimo ou não, Emérita permaneceu na residência por, ao menos, dez anos. Alega ter, durante todos os anos, cuidado da casa como se fosse sua. “Se não fosse ela, o lugar teria desabado. Ela não era a caseira, porque normalmente o caseiro tem alguém a quem reportar os problemas. Era a dona mesmo, fazia tudo”, diz o advogado Fernandes da Silva, sem lembrar que, segundo a família, Emérita nunca pagou o IPTU do imóvel. “Quem paga é minha mãe”, diz Ana Buarque, referindo-se a Maria Amélia, matriarca dos Buarque de Holanda. Ao que parece, a dúvida é: quem cuidou dos cupins? “Se teve ou tem cupim, isso não diz nada. Tudo que foi preciso, minha mãe pagou”, retruca a filha de Maria Amélia.

A disputa por causa da propriedade não era nem imaginada em 2002. Naquele ano, comemorava-se o centenário de Sérgio Buarque de Holanda. Na rua Buri, na noite de 11 de julho, a casa estava em festa. A então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, participava da cerimônia que comemorava também o início do processo de desapropriação da moradia. Pelo valor de 400 mil reais, na época, firmava-se o acordo para transformar a residência em um centro cultural voltado para as artes, a Discoteca da Música Brasileira. O advogado Fernandes diz que a ideia original partiu de dona Emérita. Assim como a mudança de nome da praça em frente à moradia, hoje nomeada Raízes do Brasil. “Ela procurou um vereador”, diz. O advogado não se lembra do nome do vereador, mas sabe-se que o autor do projeto de renomeação da praça, assim como o de desapropriação do imóvel, foi Carlos Giannazi, à época integrante do Partido dos Trabalhadores, hoje deputado estadual pelo PSOL. Sabe-se também que, apesar do esforço, Giannazi nem sequer foi convidado para a festa no casarão. O deputado reconhece a ajuda de Emérita no processo. “Tive a ideia e ela foi a primeira intermediária no contato com a família”, disse.

Todos estavam contentes com o acordo, até que, quatro anos depois, dona Emérita recebe uma ordem de despejo da prefeitura. Teria de deixar a mansão em 24 horas. Decidiu, então, entrar com o processo da usucapião. “A transferência do patrimônio particular para o público já está definida”, diz Cid Puppo Neto, advogado da família Buarque. O que ainda os envolve no processo é que, até hoje, o dinheiro da indenização da desapropriação do imóvel não foi descontado. “Eles não se interessam pela casa, mas sim pelo recurso. Tanto que se desfizeram do imóvel, quando tiveram oportunidade”, alfineta o advogado da ex-babá. A família Buarque não comenta os motivos pelos quais ainda se mantém em uma briga que, teoricamente, não é mais dela. “A questão de usucapião é uma questão particular”, diz o advogado Puppo Neto.

Com o processo, dona Emérita ganhou tempo e permanece até hoje na casa. A prefeitura requer sua saída da residência até o mês de setembro deste ano. Segundo o advogado Fernandes, a família teria oferecido à ex-funcionária outro imóvel. Um apartamento no Rio de Janeiro. Puppo nunca ouviu falar de tal proposta. “Não estamos em negociação”, diz.

Agora, a prefeitura nada em burocracia e não prevê o fim do embate. Antes sob a responsabilidade da Secretaria da Cultura, o projeto passou às mãos da Secretaria da Educação, que propôs a transferência para a de Negócios Jurídicos. Enquanto isso, a população de São Paulo não ganha um novo centro cultural e as farpas seguem soltas pelo bairro do Pacaembu.
quarta-feira, 1 de julho de 2009

diário de um banana 2 *

* Texto publicado orinalmente no site Impulso HQ. Agora tenho uma coluna semanal lá tbm!


Esta semana quero falar de um livro bem divertido. Não chega a ser uma história em quadrinhos, mas é como se fosse. Diário de um Banana (Ed. V&R, 224 págs. R$ 32) já está em sua segunda edição no Brasil e é um mistura inteligente e bem humorada de HQ com diário, escrita e ilustrada pelo americano Jeff Kinney.

A personagem principal é Greg Heffley, um garoto magrelo que é um daqueles geeks perseguidos no colégio. Cada livro se passa em um ano da escola. Greg só tem um amigo, o Rowley, que ele praticamente despreza. Mas, fazer o que? É o único que ele tem!

Por meio das anotações e desenhos feitos em seu diário, conseguimos entender o que se passa na cabeça de um adolescente que, praticamente sozinho, tem que enfrentar essa fase tenebrosa.

O tema pode parecer batido, mas Greg tem umas sacadas boas. Consegue enxergar seu ambiente com esperteza, sem deixar a ingenuidade de lado. Os desenhos de Kinney são praticamente amadores e se encaixam perfeitamente na estrutura de diário proposta por ele.

Este segundo volume, que chegou este mês às livrarias, tem um coadjuvante de peso. É o Rodrick, o irmão mais velho do Greg, que – óbvio – é um puta mala. Daqueles que é melhor ter como inimigo. O problema é que o Rodrick descobre um segredo do irmãozinho e vai cobrar caro pra manter a discrição.

No Brasil, a série está um pouco atrasada, já que nos Estados Unidos ela se encaminha pra quarta edição. Mas no site do autor dá pra acompanhar um blog e saber de outras novidades relacionadas ao personagem.
Risadas garantidas!
terça-feira, 30 de junho de 2009

um leitor incansável*

* Matéria publicada na CartaCapital número 550. A biblioteca já está no ar! Acessem!

Em meio aos quase 100 mil títulos da biblioteca do empresário e colecionador José Mindlin está um trabalhador acuado. Envolvido pela maior coleção particular do País, segura cuidadosamente um livro. Lê, escaneia e vira página por página, com delicadeza e rapidez. Há quase dois meses repete incansavelmente a rotina. Por suas mãos já passaram exemplares raros, originais de Machado de Assis, José de Alencar e Joaquim Manoel de Macedo. Sermões do Padre Antônio Vieira ou gravuras de Jean-Baptiste Debret. Edições raríssimas, todas fora de catálogo ou praticamente inéditas no País, reunidas por José Mindlin desde os 13 anos de idade.

Tamanho cuidado e precisão são necessários. O trabalho delicado é o passo inicial para a realização do projeto de digitalização da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, acervo de quase 17 mil títulos que pertencia ao bibliófilo e foi doado à Universidade de São Paulo em 2006. Esta pequena, porém suntuosa, parte de seus livros, antes restrita, ganha lugar na internet a partir da semana que vem. O trabalhador citado anteriormente, responsável pela transferência das obras para o computador, é um robô de Nova York.

Inédito na América Latina, o Kirtas APT 2.400 BookScan custa cerca de 220 mil dólares e foi uma aposta da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), que doou o equipamento à universidade e trabalha em parceria com ela. Especializado em digitalização de livros encadernados, o scanner robotizado é capaz de ler 2.400 páginas por hora. Um livro de 300 páginas, por exemplo, pode ser transferido para um computador em meros oito minutos.

Uma vez digitalizado, o conteúdo do livro é acessado pela equipe de pesquisadores e operadores da USP por meio de soft-wares livres e customizados. O grupo organiza o material para disponibilização on-line em uma página com acesso irrestrito. Assim, mapas, manuscritos, gravuras e textos antigos passam a ser propriedade não só da universidade, mas de quem quiser, gratuitamente, em casa, imprimir, copiar ou consultar os arquivos. Selecionar, recortar e buscar palavras em textos, da maneira que lhe for apropriada. Sem pagamentos ou senhas, o acesso a obras de domínio público que, normalmente, pouco são tocadas nas prateleiras das bibliotecas tradicionais, torna-se universal.

O projeto é grandioso e pretende atingir não só a Brasiliana de Mindlin, mas outras bibliotecas da universidade, como as dos cursos de Direito e Filosofia. A fase atual é de experimentação. A partir da próxima semana, estará disponibilizada uma pequena amostra, cerca de 5 mil títulos, do que poderá ser um dos maiores acervos on-line do mundo. O endereço digital (http://brasiliana.usp.br/) será lançado durante o Seminário Mindlin 2009, que acontece entre os dias 16 e 18 de junho no Museu de Arte de São Paulo. Entre os convidados estará Beatriz Haspo, responsável pela divisão de coleções, acesso e empréstimo da exemplar e monumental Biblioteca do Congresso americano. Jean- Claude Guedón, professor da Universidade de Montreal, no Canadá, vem para falar sobre as políticas de digitalização, assunto no qual é considerado uma autoridade.

Coordenada pelos historiadores e professores da USP István Jancsó e Pedro Puntoni, a Brasiliana Digital tem a ambição de se equiparar aos grandes acervos mundiais. “Esta revolução tecnológica, a digitalização robotizada, tem permitido um ganho de velocidade de processamento. A técnica está por trás dos grandes projetos internacionais, como o Google Books”, diz o professor Puntoni, citando o bem-sucedido modelo de acervo on-line gratuito pertencente ao maior site de buscas do mundo.

“A ideia do projeto é tornar a vida do usuá-rio mais fácil. Esta versão é um teste, mas queremos receber os comentários e aperfeiçoá-la, deixá-la mais estável. A inclusão digital não pode servir só para navegar no Orkut”, afirma Puntoni, diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. A fase piloto, que se estende até 2010, pretende disponibilizar cerca de 10 mil títulos.

A importância do empreendimento vai além da pesquisa. O conteúdo deve ser entendido como instrumento para fortalecer a educação nacional, já que pode auxiliar na produção de material didático para todos os níveis escolares. Serve ao nível fundamental da mesma maneira que pode auxiliar as análises avançadas na área de humanidades. “É um acervo em crescimento, estendido a todos os que tiverem interesse e conexão”, diz o professor Jancsó.

A consulta irrestrita via web a material bibliográfico tão vasto ajuda, sobretudo, a manter duas funções fundamentais de um acervo, o acesso da população ao conteúdo e a preservação histórica. Ironicamente, essas funções tendem a se chocar. Como permitir o manuseio de conteú-do tão raro e ao mesmo tempo conservá-lo em perfeitas condições? Muitas vezes, por se preocuparem mais com a segunda função, bibliotecas restringem o acesso a preciosidades. Um toque descuidado, um pedaço amassado ou um risco sobre o papel podem destruir peças de valor cultural e financeiro altíssimo.

Assim como obras de arte, muitos livros conservados ao longo dos anos se transformam em objetos para ser vistos, não tocados. A tecnologia, que reproduz o livro em fac-símile virtual, anulará esse impedimento. “Em termos de solução técnica, é o que há de mais moderno. Queremos chegar em 2012 com 100 mil objetos digitais de toda a universidade”, almeja o professor Jancsó.

A casa de Mindlin é, contudo, uma estada temporária para o equipamento. Já está em fase de construção, dentro do campus da USP, o prédio que abrigará a coleção, também de acesso irrestrito. O projeto, assinado pelo neto de Mindlin, Rodrigo Loeb, foi pensado para abrigar os 17 mil títulos em três grandes andares cir-culares. Destaque de protagonista à coleção. Laboratórios e centros de pesquisa voltados à área de preservação também devem ser instalados ali. Formarão a nova moradia do trabalhador robô, que deixará a biblioteca pessoal de Mindlin.

O bibliófilo de 94 anos maravilhou-se com a tecnologia no centro de sua sala. “Realmente, não tinha pensado que chegaria a esse ponto”, diz. “O que está sendo feito aqui é só o começo de um processo bastante longo e interessante. Mas duvido que, na idade em que estou, possa ver o projeto concluído.”

Se plenamente concretizada, a Brasiliana Digital poderá ser modelo de uma futura estrutura nacional, que interligue instituições públicas e privadas. Além de dar ao Brasil posição de destaque no meio, resgatará aos brasileiros parte da história da literatura que pode não estar esquecida, mas, por certo, muito longe da acessibilidade.
terça-feira, 23 de junho de 2009

sumiço!

É, gente, eu sei... Eu sumi!!
Mas tô voltando, aos poucos, cheias de matérias e novidades!

A mais legal é que agora vcs podem me encontrar também no Impulso HQ! Uma vez por semana estarei por lá escrevendo a coluna HQ que acontece, sobre quadrinhos e artes visuais em geral.

A da semana passada ainda está no ar! Se ainda não conhecem, passem lá!

Por enquanto, é só. Mas em breve, volto com mais!

bjos!!
domingo, 14 de junho de 2009

21ª e-blogue no ar!


Gentem,

A parceria com o E-blogue continua e a 21ª edição do fanzine semanal está no ar!

Essa edição está cheia de posts voltados para as artes visuais. Tem quadinhos, grafite, intervenções urbanas e mais um monte.

Passem lá!
terça-feira, 9 de junho de 2009

setlist.fm


Quer saber o que o Nine Inch Nails tocou semana passada num show em Mainsfield? Ou o que o Oasis tocou antes de ontem em Manchester? Ou o que o Slipknot mandou no Rock Am Ring que rolou no fim de semana na Alemanha? É obvio que eu não fui em nenhum desses showzaços, mas eu sei que eles foram muito bons graças ao Setlist.fm!

Imagina uma wikipedia de setlists. É isso! Você vai lá, digita o nome de uma banda e tcharã! Todos os setlists de todos os shows que vc imaginar. São ao todo 29,816 de 2,726 artistas diferentes. E tem de tudo, eu testei. MGMT na Austrália? Vampire Weekend em Minneapolis? CSS na França? Britney Spears no Texas? Tá tudo lá!!

O site é colaborativo, então, a cada dia, novos usuários atualizam as listas. Diversão garantida, muitos minutos gastos em pesquisa e uma dorzinha no coração por perder tantas apresentações boas são alguns dos efeitos causados pelo site!
segunda-feira, 8 de junho de 2009

tirinhas são o melhor remédio!

Quando eu estava na faculdade todo mundo me zoava porque eu (literalmente) chorava de rir com as tirinhas dos jornais. Mas, gente, é impossível não chorar! Adão é um gênio!



publicada hoje no site dele.
quinta-feira, 4 de junho de 2009

yves saint-laurent no rio


De bom gosto incomum e apreciador de todas as manifestações artísticas, o francês Yves Saint-Laurent foi, durante toda sua trajetória, um homem a frente do seu tempo. Voltou-se cedo ao mundo da moda e antes de completar vinte anos já trabalhava com um dos mestres do ofício, o também francês Christian Dior. Foi com ele que aprendeu a valorizar e a entender a figura feminina, que desde então se tornou sua fonte contínua de inspiração.

O Ano da França no Brasil traz ao país uma seleção inédita de figurinos criados pela maison YSL na mostra Viagens Extraordinárias, em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro. São peças que contam não só a trajetória do estilista, mas também ajudam a recontar a história da moda e explicitam porque Saint-Laurent é, até hoje, considerado um mito.



Morto em junho do ano passado, aos 72 anos, o francês buscou, a cada nova coleção, trazer para o vestuário feminino moldes inspirados em universos múltiplos. Seja focado em etnias africanas ou simplesmente masculinizando a vestimenta feminina, Saint-Laurent não só criou um estilo, mas ajudou a adaptar uma nova postura à mulher. Junto com Coco Chanel, também francesa, deu voz à liberdade feminista quando criou sua peça símbolo, o smoking, em 1966. Traje comum para os homens ou para os dias atuais, à época foi desfilado por mulheres como peça transgressora, que aliava masculinidade à sempre feminina transparência.


Desta forma, sem abandonar a alta costura, Saint-Laurent criava e dava espaço ao chamado Prêt-à-porter, ou ready-to-wear, a moda casual que hoje sustenta tanto as casas tradicionais quanto os novos estilistas. Na exposição do CCBB, o visitante será capaz de revisitar diversas fases de Saint-Laurent. Os cerca de 50 figurinos expostos são inspirados em viagens continentais que o francês fazia mentalmente, já que pouco gostava de sair da França. Pesquisas profundas o inspiravam a criar coleções inteiras focadas em diferentes países como África, Ásia, Espanha, Índia, Marrocos e Rússia.



Além das roupas, a mostra reúne croquis, acessórios e réplicas ampliadas dos cartões Love, tradicional mimo que a maison distribuía a clientes e amigos durante o Natal, uma prática que durou mais de 40 anos. Todo o material exposto pertence à Fundação Pierre Bergé -Yves Saint-Laurent, criada em 2004 para preservar o acervo da marca. Em fevereiro deste ano Pierre Bergé, companheiro de vida e trabalho, leiloou a coleção de arte que divida com Saint-Laurent. Esculturas de Brancusi, pinturas de Matisse e outros itens valiosos bateram recorde de leilões do tipo, atingindo a marca de 370 milhões de euros.
segunda-feira, 1 de junho de 2009

sábado dos meus amores, de quintanilha

A paixão de um senhor de periferia pelo time do coração, os bastidores de um jogo de cartas num circo de interior ou o azar de um operário no bolão de loteria da fábrica. São temas como estes que permeiam as narrativas, bem brasileiras, que formam Sábado dos meus Amores (ed. Conrad, 64 págs, R$39), do quadrinista Marcello Quintanilha.

A HQ traz seis pequenas histórias e já na primeira delas o autor parece anunciar certo tom de crônica presente em toda a obra. Para isso, usa como personagem um distraído Rubem Braga, que segue uma borboleta amarela, enquanto cruza uma avenida, no Rio de Janeiro de 1952. Quintanilha, fã do escritor capixaba, também aproveita, em outros momentos, humor e lirismo quando narra a paixão do brasileiro por futebol ou o amor de uma moça por um jangadeiro nordestino. Esta última, um saboroso enredo, sutil e ingênuo.

Quadros escuros e com cores fortes são trabalhados em grafite e aquarela, técnicas distintas que utilizadas em conjunto fazem um bonito jogo de sombras, dando às imagens, e principalmente aos personagens, brilho especial. Na tentativa de explorar ainda mais os inúmeros tipos que protagonizam as páginas, Quintanilha deu aos balões de diálogo diferentes formatos. Normalmente rígidos, recebem atenção especial como se espelhassem o sotaque distinto de cada região.