sexta-feira, 29 de agosto de 2008

encontro de opostos


Leonardo Kossoy
Jerolern, Hvar.\Croácia, 2007

Com o propósito de registrar o encontro dos elementos água e terra na natureza e na cidade, os fotógrafos brasileiros Fernando Azevedo, Leonardo Kossoy e a americana Carol Armstrong, viajaram separadamente a vários lugares do mundo. Algumas imagens, clicadas em lugares como a França, Grécia, Itália, Rússia e Brasil, poderão ser vistas na exposição Onde a Água encontra a Terra, em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro.

A cada fotógrafo cabe um olhar diferenciado sobre o percurso desses elementos. Eles surgem nas gotas de chuva deslizando no concreto da calçada, em Nova York, por Fernando Azevedo, ou nas límpidas ondas da costa da Croácia, por Leonardo Kossoy (acima). A reunião de 53 fotos, sob curadoria de Paulo Herkenhoff, fica em cartaz até 14 de setembro.


Fernando Azevedo
Union Square. NY.EUA, 2006


Carol Armstrong
Mar e areia 4. Torrey Pines.
Califórnia.EUA, 2006.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008

ensaios de piet mondrian

O pintor e ensaísta holandês Piet Mondrian ficou conhecido por integrar o movimento neoplasticista, que defendia a simplicidade plástica, tanto nas artes, como na arquitetura. Equilíbrio assimétrico, uso de linhas e fortes cores primárias são características sempre presentes em suas telas.

O lado ensaísta do holandês pode ser conhecido agora em Neoplasticismo na Pintura e na Arquitetura (Cosacnaify, 232 págs, R$ 33), uma reunião de sete textos escritos entre 1917 e 1942, inéditos no Brasil. Neles, Mondrian aborda o movimento da “nova plástica” e suas relações com arte, construção e decoração. Ainda hoje, soa atual quando disserta sobre o futuro da pintura e prega o surgimento de novos conceitos.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008

I bienal internacional do grafite


Deixou de ser novidade a arte de rua sendo transportada para grandes galerias mundo a fora. Os brasileiros, em especial, ganham cada vez mais atenção, vide a fachada da Tate Modern, em Londres, com trabalhos dos artistas Nunca e Os Gêmeos. A partir do sábado 30, não só os artistas brasileiros ganharão holofotes, mas também o País. Caberá ao Brasil sediar a bienal do estilo.

A I Bienal Internacional do Grafite de Belo Horizonte (BIG – BH) reunirá na capital mineira a produção de diversos países, além de promover debates e oficinas. Realizada na Serraria Souza Pinto, sob curadoria geral do artista plástico Rui Santana, primeira BIG chega com ar grandioso e recebe nomes fortes da street art nacional como Binho Ribeiro, Luis Flavio “Trampo”, TOZ e Tinho.

Além das exposições, cinco seminários (entre os dias 1º e 5 de setembro) discutirão o papel do grafite, suas origens e relações com a publicidade e arquitetura. O hiphop, trilha sonora obrigatória do estilo, faz-se presente por meio de apresentações de DJs e MCs, durante toda a programação. Em parceria com a Bienal, 300 artistas, selecionados por edital, vão se reunir para realizar intervenções pela cidade. A bienal fica em cartaz até 7 de setembro.
Já falamos de Tinho e Trampo nesse post aqui.
terça-feira, 26 de agosto de 2008

comentário inútil de fim de dia

Vc quer um Nike Dunk High "Back to School" ?????







Eu quero já!!!!!

fotos The Hype Br

john mayer live in la

O novo trabalho de John Mayer é bem pensado para novos e antigos fãs. Where the Light is – Live in Los Angeles (Sony BMG) é o terceiro álbum ao vivo do cantor americano, mas traz um diferencial. Além de ser duplo, o disco é dividido em três partes que mesclam o melhor de Mayer com o melhor do rock e do blues.

Na primeira, acústica, voz e violão interpretam sucessos de Mayer como Daughters e Neon, ao lado regravações como Free Fallin’, de Tom Petty. Na segunda parte, baixo e bateria se juntam ao cantor em set dedicado ao blues. Come when I Call e canções de Jimmi Hendrix como Bold as Love e Wait Until Tomorrow são destaques, assim como a clássica Everyday I have the Blues.

Na terceira parte do álbum, é a vez da banda inteira entrar no palco, com Gravity e The Heart of the Lie. O clima intimista, característica de todos os trabalhos de Mayer, permanece.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008

festival de curtas


A edição de 2008 do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, em cartaz desde a quinta-feira 21, promove a reflexão política e repensa o conflito, ou a falta dele, entre gerações. O festival aproveita o aniversário de 40 anos do simbólico ano de 1968 e exibe 381 filmes, de 54 países, sob a temática Política Viva. A idéia é relacionar filmes antigos e produções recentes que tratem de militância e liberdade de expressão.

“Algumas mostras estavam muito presas ao passado. Nossa missão é fazer uma ponte com o hoje, puxando ligações escondidas ou esquecidas entre as épocas”, diz Rica Saito, um dos participantes do coletivo Submarino Vermelho que, a partir de um convite da diretora do festival, Zita Carvalhosa, assume a curadoria da mostra.

O coletivo, que é formado por um jovem grupo de estudantes de cinema e artes plásticas, optou por separar a mostra em seis programas, que serão exibidos em três salas da capital paulista. Vamos falar de Brasil: Carlos Marighela (1970), do francês Chris Marker, Maranhão 66 (1966), de Glauber Rocha e o censurado Liberdade de Imprensa (1967), de João Batista de Andrade são alguns dos destaques, a lado de produções recentes como Quinze Centavos, de Marcelo Pedroso (2005) e Construção (2006), de Maria Gutierrez.


“O garimpo foi intenso. Mas buscamos reunir várias temáticas, desde aquelas que abordavam os movimentos de ocupação até os que tratam de liberdade de imprensa”, diz Saito, que também é diretor de Procura-se, uma mescla de ficção e documentário que, por meio da figura do músico Mario Rocha, retrata o mito em torno da geração dos anos 60.

A ordem de exibição dos curtas-metragens também foi bem estudada pelos curadores. “Por serem curtas, todos os filmes dialogam entre si. Talvez não funcionasse assim se fossem longas. Mas queremos que a mensagem vá além das telas”, diz Tom Ribeiro, também integrante do Submarino Vermelho. Para isso, o grupo organizou intervenções, performances e debates complementam a semana do festival.

Entre os programas paralelos, a mostra latino-americana reúne 30 títulos, de 11 países. Gustavo Taretto, cineasta argentino, é homenageado com a retrospectiva Cinema e Espaço Urbano, que apresentará quatro curtas. Ele participará também de workshop na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).


Na Mostra Brasil, as produções nacionais como Rummikub, de Jorge Furtado e Blackout, de Daniel Rezende, montador de Cidade de Deus, dividem espaço com curtas estudantis, como Palco Roosevelt, realizado por alunos da Universidade Federal de São Carlos. O festival fica em cartaz até o dia 29 de agosto e a programação completa pode ser vista no site http://www.kinoforum.org.br/.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008

coletivo 2000e8 no Sesc Pinheiros


Moinho (2007) Rodrigo Bivar
OST 200 x 150 cm

No campo das artes, tomado por um turbilhão tecnológico e performático, cogitou-se a morte da pintura diversas vezes. Tese que gera polêmica até hoje. “Isso é uma bobagem, um boato que aumenta como bola de neve, mas que na verdade não faz nenhum sentido”, diz Paulo Pasta, pintor, professor e desenhista, responsável pela curadoria da mostra 2000e8, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Na exposição, são reunidas quinze telas de jovens artistas brasileiros, todos com menos de 30 anos, que buscaram na coletividade uma forma de aprimorar a expressão individual. Estão, de alguma maneira, na contracorrente, já que entre as artes plásticas pouco se faz uso dos coletivos. Juntos, os artistas Ana Elisa Egreja, Bruno Dunley, Marcos Brias, Marina Rheingantz, Regina Parra, Renata De Bonis, Rodolpho Parigi e Rodrigo Bivar mostram sintonia, mesmo quando seus trabalhos parecem tão distintos entre si.

“Pode não ser muito visível, mas todos os trabalhos apresentam um pouco de melancolia”, diz Bruno Dunley, referindo-se às naturezas mortas de Ana Egreja ou a palheta de cores baixas de Rodrigo Bivar. “No tempo de convivência, aprendemos muito um com o outro, discutimos possíveis poéticas diferentes. Assim, cada um vai afinando e construindo seu trabalho”, completa.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008

7 vezes O Rappa


Cinco anos depois do último álbum gravado em estúdio, a banda O Rappa lança Sete Vezes (Warner Music), uma reunião de 14 faixas que mantém o já conhecido e consagrado espírito do grupo, ao mesmo tempo em que demonstram uma grande vontade de inovar. O que não falta no novo álbum é a presença de novos sons, descobertos por acaso, no batucar de uma bacia de alumínio ou no chacoalhar de uma corrente.

Embalados pelo espírito do Acústico MTV, lançado em 2005, onde puderam trabalhar com os mais diversos instrumentos, os integrantes d’O Rappa optaram por manter algumas dessas descobertas novo disco de inéditas. “Sempre procuramos alguma coisa nova, um instrumento ou um approach novo. Queremos nos reiventar”, conta o guitarrista Alexandre Menezes, o Xandão, à CartaCapital. (*)

A vontade de improvisar não é tão recente quando parece. A diferença é que se antes ela era necessária, hoje é opção. “Quando começamos, os instrumentos nacionais era muito caros, precisávamos improvisar de alguma maneira. Não é a toa que hoje usamos um monte de instrumentos inventados, reciclados. Neste ponto, somos muito criativos, mas na industria de música pop se inova muito pouco”, diz Marcelo Lobato, baterista que assumiu o posto de Marcelo Yuka, em 2001.

Quanto à demora em produzir um novo álbum, o grupo é enfático. “Estávamos nos dedicando a completar um estágio para iniciar outro. Mas quando entramos com pé direito no estúdio, criamos umas 100 músicas. Foi difícil garimpar, é preciso exercitar o desapego.”, diz o vocalista Falcão.

O que é possível ouvir em Sete Vezes é O Rappa de sempre, com melodias carregadas de groove, que misturam-se facilmente ao dub e ao hip-hop, como no single Monstro Invisível. Ao mesmo tempo, fincando raízes em novas praças ao transformar, por exemplo, um clássico gravado por Luiz Gonzaga, Súplica Cearence, em um legítimo reggae jamaicano.


(*) Depois vou postar aqui a entrevista completa que fiz com os meninos do Rappa. Falamos de tecnologia, ongs, lei seca e iPods! Em breve...
quarta-feira, 20 de agosto de 2008

moptop

Mesmo com alguns anos de estrada e lançando o segundo CD pela major Universal, a banda carioca Moptop continua desconhecida do grande público. Uma pena. Em Como se Comportar, o grupo mantém o estilo que adotaram desde a época independente. Rock cru, de boa qualidade, com letras diretas. Apesar de ser muito comparada à bandas como a nova-iorquina Strokes ou a messiânica Los Hermanos, Moptop tem vida própria.

E isso é visível nas composições de Gabriel Marques, vocalista e guitarrista, responsável por expor histórias de amor e de vida mal resolvidas. Como quem rema contra a maré da indústria fonográfica pop atual, Moptop nos pergunta, na faixa Contramão: O que fazer?/ Se a contramão / te persegue, te enlouquece / de tesão / de estupidez. Ao ouvinte, a resposta vem simples. Continuem assim.

Pra quem quiser ouvir os som dos caras, o CD já está disponível nas lojas e tbm no myspace.

A turnê de lançamento passa aqui por São Paulo em três shows, um deles no Inferno (ali na Augusta), no dia 13 de setembro. Estarei lá! O site dos caras também é uma ótima sacada. Além de ter todas as informações da banda, é super interativo. Enquanto se ouve algumas músicas da playlist, dá até pra jogar pacman, simon e outros clássicos do atari.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008

bridget jones indie

A personagem Mônica, criada pelas mãos do quadrinista Fábio Lyra, ganhou certa fama entre os apreciadores de HQ a partir das páginas da extinta revista Mosh. Agora, tem a chance de se tornar conhecida do grande público. O livro Menina Infinito (Ed. Desiderata, 120 págs, R$ 39) reúne três pequenas histórias de Mônica e seus amigos, um retrato bem feito da geração 00.

A menina infinito não tem super poderes. Ao contrário, é só uma garota de 20 e poucos anos, que gosta de filmes, música e internet. Seus ídolos são Amelie Poulain, personagem do filme de mesmo nome, e Morrissey, cantor britânico, líder da banda The Smiths, a quem pede conselhos, em sonho, frequentemente. Ela poderia ser sua vizinha e quer dividir com você algumas angústias amorosas.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008

aquarelas de flexor


Sem título, Aquarela s/ papel, 34 x 50

Artista Romeno, com passagens pela Bélgica e França, Samson Flexor escolheu o Brasil para viver. E aqui se tornou, na década de 40, um dos principais representantes da pintura abstrata, famoso por aquarelas de poucas tonalidades. Para comemorar o centenário do artista, o Instituto Moreira Salles inaugura a exposição Aquarelas, que reúne peças vindas da Europa e outras garimpadas entre colecionadores brasileiros. É a primeira grande mostra do artista no Brasil, desde a sua morte, em 1971. Além de editar um catálogo especial, o IMS pretende levar a exposição para outras unidades, no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Poços de Caldas.


Etude, Aquarela s/ papel, 18 x 24 cm


Meteoritos, Aquarela s/ papel, 48 x 34 cm
segunda-feira, 11 de agosto de 2008

offspring

Marcante no cenário pós-punk na década de 90, a banda californiana Offspring andava meio apagada nessa era 2000. O último álbum, Splinter (2003) não alcançou nem metade do sucesso dos discos lançados na década anterior, como Smash (1994) ou Americana (1998), considerados clássicos do hardcore americano.

Depois de cinco anos em jejum, a banda volta em Rise and Fall, Rage and Grace (Sony BMG), mas o tempo não significa, necessariamente, amadurecimento. A banda pouco inova nesse último disco. Para os fãs, pode ser uma vantagem. O vocal inconfundível de Dexter Holland e as letras de insatisfação quase adolescente continuam fortes características do grupo. A faixa Hammerhead, destaca-se ao protestar, sutilmente, contra os campos de guerra da era Bush.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008

MIS reabre as portas



Olha só, uma boa pro fim de semana!

Após uma fase difícil e fechado para reformas desde o ano passado, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS) será reinaugurado, no sábado 9, mais moderno e acessível. O prédio de 5.400 m², localizado na Avenida Europa, é sede do MIS desde 1975. A reforma custou cerca de 2.9 milhões de reais ao Governo do Estado.

Além de reestruturar as instalações físicas, o Museu aposta na mudança de programação e inaugura o LabMIS. Ocupando todo o 2ª andar do prédio, o novo laboratório sediará workshops e oficinas, além de ser equipado com salas de edição de áudio e vídeo e estúdios de som. São Paulo ganha o primeiro laboratório público de novas mídias, modelo já adotado por cidades como Londres e Nova York, aqui sob curadoria de Gisela Domschke.

O acervo tradicional da instituição (composto por fotos, vídeos, filmes, cartazes e registros sonoros) continua aberto para pesquisa pública e um novo website ajudará no diálogo entre o museu e seu público, por meio de comunidades virtuais. A diretora Daniela Bousso afirma que a idéia de interligar os diferentes suportes e focar a programação na contemporaneidade faz parte do novo perfil institucional do Museu.

Para inaugurar a nova fase, o espaço de exposições abriga instalações, fotografias e performances, como o espetáculo multimeios Celebração, com Paulo César Pereio e direção de Marcos Saboya. Para este mês ainda estão programados a mostra fotográfica Lights Out e a apresentação dos VJs canadenses Skoltz e Kolgen.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008

josé mojica reencarnado

hey there! Andei meio sumida desse blogspot, né?
E pra tirar o atraso, colo aí embaixo a matéria sobre o tão falado retorno ao cinema do Zé do Caixão, publicada na CartaCapital nº 507 (está nas bancas até sexta feira). A matéria foi feita a quatro mãos, por mim e por Ana Paula Sousa, minha chefa e editora de cultura da Carta.

JOSÉ MOJICA REENCARNADO

CULT. Um grupo bem-posto na indústria dá nova roupagem e status ao cineasta

POR ANA PAULA SOUSA
E CAMILA ALAM


Quando se tornou o Zé do Caixão, há mais de 40 anos, José Mojica Marins era trash por vocação e natureza. Seus filmes eram precários e marginais. Mojica não mudou. Mudaram os tempos e a indústria cultural. E Zé do Caixão chegou onde seu criador não deve ter ousado sonhar.

Encarnação do Demônio, o filme que encerra a trilogia iniciada em 1964, com Á Meia Noite Levarei sua Alma, terá uma sessão especial no prestigiado Festival de Veneza, a partir do final do mês. No Brasil, estreará na sexta-feira 8 em cerca de 50 salas, com distribuição da Fox Film. A reboque do longa-metragem, chega às livrarias uma história em quadrinhos inspirada no personagem.

“Sobrevivi nos últimos anos fazendo clipes para roqueiros e as Noites de Terror, do Playcenter”, disse Mojica, naquela que talvez tenha sido a primeira entrevista coletiva de sua vida, no Cinesesc, em São Paulo, na segunda-feira 28. Os 90 lugares do auditório do cinema não foram suficientes. Alguns jornalistas ficaram de pé.

Mojica só não estava mais espantado porque, no 1º Festival de Cinema de Paulínia, no interior de São Paulo, passara por situação semelhante. Encarnação do Demônio recebeu sete prêmios, incluindo melhor filme de ficção para o júri e crítica. “Fiquei impressionado comigo. Ganhei o prêmio da crítica. Será que foi consolação?”, pergunta. À dúvida, segue-se uma constatação. “Acho que, hoje, meu personagem é quase como uma lenda, tipo Saci Pererê, ou Mula sem Cabeça. Quando eu morrer, vão até dizer que eu tinha poderes”, vaticina.

A “institucionalização” de Mojica e sua transformação em símbolo “cult” não se deve a poderes ocultos. Ao contrário. Criador e criatura entraram de novo na moda graças à mobilização de um grupo bem colocado na área cultural brasileira. Para entender esse plano, iniciado há 10 anos, o primeiro nome a ser lembrado é o de Paulo Sacramento, produtor e montador de Encarnação, e elo entre todos os envolvidos no ressurgimento do Zé do Caixão.

Fã do cineasta desde os tempos da faculdade, Sacramento, montador premiado e diretor do marcante documentário Prisioneiro da Grade Ferro, foi o primeiro a acreditar na realização do filme, com roteiro pronto desde 1967. Ao lado do cineasta Dennison Ramalho, nome importante no terror brasileiro e roteirista de Encarnação, fez o primeiro contato com cuidado. “Queríamos fazer o filme porque era um projeto mítico. O Mojica sempre disse que sua obra não estaria completa sem o fim da trilogia. Mas não queríamos assustá-lo com a proposta”, diz.

Mojica nem de longe se assustou. Ao redor do filme, outras peças foram dando forma ao projeto. A biografia Maldito, de André Barcinski e André Finotti (lançada em 1998), a caixa de DVD’s organizada por Paulo Duarte (em 2002) e a mostra retrospectiva sob curadoria de Eugênio Puppo (em 2007), são algumas delas.

Para Sacramento, os pequenos projetos isolados resultaram em uma contínua exposição do personagem. “Somos todos amigos, atuamos de maneira muito próxima e, por isso, resolvemos nos juntar. A idéia é fazer com que este seja o ano do Mojica.”

Ao filme se junta uma história em quadrinhos. Prontuário 666 – Os anos de cárcere de Zé do Caixão, da Editora Conrad, que chega às livrarias com o longa-metragem, é inspirado no personagem, mas com roupagem e roteiros originais, feitos a quatro mãos por Samuel Casal e Adriana Brunstein.

Alexandre Boide, coordenador editorial da Conrad, confirma que a idéia é reforçar o personagem no mercado. “Fizemos o livro para acompanhar o filme, mais ou menos como no Matrix, onde videogames e animações complementavam a idéia do longa”, diz. Também no livro está o dedo de Sacramento. Foi ele quem levou a idéia à Conrad. “O livro é um subproduto de Encarnação. O público alvo do filme, basicamente formado por jovens, é o mesmo que consome quadrinhos”, avalia o produtor.

Sacramento sempre esteve convicto de que, para modernizar Mojica, seria preciso investir numa produção sem a precariedade anterior, motivo, inclusive, de piada. Entram então em cena os irmãos Caio e Fabiano Gullane, os mais destacados produtores brasileiros da nova geração. Eles estão por trás de filmes como Bicho de Sete Cabeças (2000), Carandiru (2002), O Ano em que meus Pais Saíram de Férias (2007) e, além de Mojica, emplacaram outros dois filmes nesta edição do Festival de Veneza.

“Desde o início, queríamos respeitar o que é o Zé do Caixão, mas trazer para um padrão de qualidade atual. Como atualizar o filme? Investindo em pessoas de alto nível”, diz Fabiano.
O orçamento de 1,8 milhão, se é uma fortuna para Mojica, é pouco para os padrões atuais. Ainda assim, nomes importantes aderiram ao projeto. Entre eles, o estilista Alexandre Hercovitch, que assina o figurino, o músico André Abujamra, autor da trilha, e o diretor de fotografia José Roberto Eliezer (de A Dona da História, O Cheiro do Ralo e outros). Todos eram fãs ou tinham alguma relação anterior com Mojica. Hercovitch fez uma coleção, em 2004, inspirada em Zé do Caixão. Eliezer participara de um documentário sobre ele.

“Estudei muito os filmes e tentei transpor aquele universo, em preto-e-branco, para os dias de hoje”, diz o fotógrafo. “O Mojica era muito aberto ao diálogo. Mas a coisa dos bichos, de aranha, barata, era com ele. Close de olho também.” A fotografia, mistura de cor e P&B, e a montagem são os pontos altos do filme que, no mais, é totalmente de gênero, com cenas desagradáveis a olhos que não gostam de terror e um roteiro cheio de mortos.

“Tomamos todos os cuidados para não ser um filme para rir, e sim para dar medo”, pontua Fabiano Gullane. “Você não tem o Mojica falando errado, por exemplo. Teve um trabalho de acompanhamento no set, fala por fala.” O cuidado com a fala de plurais não conjugados é exemplar dessa “repaginação”.

Em público, ele também só aparece após instruções. Há sempre alguém a acompanhá-lo nas entrevistas e, em qualquer exibição do filme, aparecerá vestido de Zé do Caixão, jamais de Mojica. “Tentamos criar um novo interesse, uma nova imagem. Uma coisa é a carreira dele nos anos 70. Outra, é lançá-lo num mercado competitivo como o de hoje.”

A entrada da Fox Film como distribuidora foi, nesse sentido, fundamental. “Pensamos num público variado, desde os fãs e pessoas que lembram do Zé do Caixão até os jovens freqüentadores de multiplex, para os quais vamos apresentá-lo como um filme de terror ‘de verdade’”, diz Patricia Kamitsuji, diretora-geral da Fox. Esse público seria, em tese, aquele que vai aos cinemas ver Jogos Mortais e O Massacre da Serra Elétrica.

Para Mojica, o que resta é colher os louros. Censurado durante a ditadura, considerado por muitos anos um símbolo do cinema trash, vivendo de maneira simples e sem luxo, ele teve, aos 72 anos, dinheiro e liberdade para fazer o que bem entendesse. O diretor de fotografia conta que as coisas que mais o espantavam no set eram a leveza da câmera, o horário certo para o fim das filmagens, a comida servida e, sobretudo, o vídeo-assist, equipamento que grava o que a câmera filmou e permite a checagem da cena.

“Todos queriam ver como eu me sairia, depois de tanto tempo sem dirigir. Com aquilo renasceu minha vitalidade”, define Mojica, no seu jeito simplório que, com tanta bajulação, tem se revestido com novas ambições. “Pensei em montar uma seita, um clube ou uma ordem. Seria ‘Os Paranormais em busca do desconhecido’. Quero fazer uma passeata também, para protestar contra esse direito de expressão que dizem que temos, mas na verdade ninguém tem.” Com uma boa embalagem, por que não?