sexta-feira, 28 de setembro de 2007

a poesia do sangue





A partir do dia 3 de outubro, o Itaú Cultural recebe a exposição fotográfica Sutil Violento, uma reunião de imagens de representantes de diversos países latino-americanos.




A violência no continente latino, carro chefe da exposição, é abordada também sob a forma de consumismo, intolerância e melancolia.



Do paraguaio Fredi Casco vêm a série Fiat Voluptas, onde meninas vestidas para a Primeira Comunhão são retratadas como menores infratores com tarjas nos olhos. Nelson Garrido apresenta sua Caracas Sangrante, uma visão trágica e vermelha da capital venezuelana (fotos).






A mostra Sutil Violento faz parte da programação do 1º Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo – Paralelos e Meridianos da Latinidade e fica no Brasil até 21 de outubro. Depois disso, deve seguir pelos demais países do continente.




A minha série preferida é a Drop Dead Gorgeous, da mexicana Daniela Edburg.









Dying with style
quinta-feira, 27 de setembro de 2007

you came to see the mobscene??



depois de alguns minutos de espera, a escuridão chegou e os gritos de "manson! manson!" ecoavam pelos cantos, até meio vazios, do via funchal. luzes vermelhas, muita fumaça, e aos poucos era possível ver aquela figura esguia, branca e estranha mostrando suas formas em cima do palco.


de casaca e microfone-punhal na mão, marilyn manson chegou em são paulo num clima relax, abrindo o show, na quarta feira 26, com If I Was Your Vampire, canção deprê do último álbum Eat Me Drink Me. (set list abaixo)

cartola, corpete, colete, o guarda roupa (que mudava a cada música) era extenso. mas a atitude chocante, o rasga bíblia, o corta pulso, o anti-cristo, o sangue no olho, já praticamente não existe mais na personalidade de manson. no palco, era possível enxergar uma figura quase serena, um transgressor comedido, um artista maduro.

com a bandeira dos estados unidos ele limpou a bunda. com a do brasil, abraçou-se. um gesto simpático pra quem quase não falou com o público.

na platéia, alguns góticos, alguns sadôs, algumas diabinhas, alguns wannabes. mas mais do que tudo, gente comum, garotos e garotas de tênis e camiseta, alguns senhores de grisalhos cabelos, camarote cheio. na portaria, os protestos cristãos não apareceram, ao invés disso, os humoristas do pânico, querendo zuar os freaks. algo muito diferente da passagem de manson por aqui há exatos 10 anos. prova, talvez, de que não só ele amadureceu.

uma hora e dez de show foi pouco. o bis (uma canção, The Beautiful People) foi mísero! a sensação de "acabou?" foi geral e frustrante.

mas enfim, o anti-cristo voltou.

Set List em São Paulo:

"If I Was Your Vampire"

"Disposable Teens"

"mOBSCENE"

"Irresponsable Hate Anthem"

"Just a Car Crash Away"

"Sweet Dreams"

"Lunchbox" (trecho)

"The Fight Song"

"Putting Holes In Happiness"

"Heart-Shaped Glasses"

"The Dope Show"

"Rock Is Dead"

"The Reflecting God"

Bis: "Beautiful People"

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

redesenhando a escrita




Tive pouco espaço para isso na revista, mas coloco aqui na íntegra a matéria sobre as adaptações de clássicos da literatura para quadrinhos e graphic novel.




A adaptação de clássicos da literatura vira moda e leva HQ’s até para a sala de aula



Comum em teatro, cinema e tevê, a adaptação de grandes textos da literatura virou moda em outro formato, o das histórias em quadrinhos. Hoje, em um passeio pelas livrarias, é possível encontrar a tensão social de Nelson Rodrigues transformada em graphic novel preto e branco, as feições do Alienista, no melhor estilo século 19, desenhadas à semelhança do próprio autor, Machado de Assis, e o sofrimento de Inês de Castro reproduzido em cores e quadros inspirados no filme O Gabinete do Dr. Caligari.


Figuras nascidas nas letras, como Dom Quixote, Vasco da Gama e Simão Bacamarte, ganham novas feições e, reinventadas por cartunistas e ilustradores, não só ocupam cada vez mais espaço nas prateleiras como alcançam a sala de aula. Os novos autores, muitas vezes, se aventuram também a recriar os textos em uma tentativa de tornar mais agradável a leitura, por vezes árdua, de um clássico.






É aí que se encontra o grande dilema das adaptações. É possível mudar a linguagem original de um clássico sem perder sua essência? Para Wagner Martins Madeira, doutor em letras, professor na Universidade Mackenzie (SP), um grande clássico reescrito com uma linguagem facilitada tem o sentido diluído. “Uma obra clássica coloca um desafio ao leitor, que ele tem de aceitar. Seria um absurdo ler, por exemplo, Os Lusíadas em linguagem infanto-juvenil”, opina.






Que a essência de uma obra está no original, ninguém discute. Outra pergunta que surge, porém, é se não seria melhor chegar a Cervantes por atalhos do que sequer tomar contato com o universo criado por ele. A encruzilhada em que estão colocados alguns textos que o tempo distanciou dos leitores é apontada por Marisa Lajolo, professora da Unicamp. Ela observa que, algumas vezes, recursos utilizados para facilitar a leitura acabam por tornar-se uma barreira. “Clássicos, para serem entendidos hoje, carecem de prefácios, notas explicativas de rodapés, enfim, de todo o aparato que os traduza para a contemporaneidade. O problema é que isso faz com que seja difícil lê-los com envolvimento e adesão”.


Ao contrário do que se possa imaginar, não é nem o caminho da simplificação nem o das notas de rodapé que as editoras estão buscando. Muitos dos clássicos reeditados em quadrinhos mantêm a linguagem original e, ao invés das notas no fim da página, usam a própria imagem como explicação complementar. O segredo dos cartunistas é, por meio da atmosfera gráfica, reproduzir o clima das obras literárias e, assim, envolver o leitor.
Renata Farhat Borges, diretora da Editora Peirópolis, que lançou Os Lusíadas e Dom Quixote em quadrinhos, com texto original, diz que o objetivo das adaptações é aproximar o público de livros dos quais já ouviram falar, mas nunca leram e, quem, sabe, servir como convite à leitura da obra original. “Embora exista uma seleção de conteúdo, há a reprodução de trechos inteiros para que o leitor tenha contato com a maior riqueza, que é a linguagem”.



Alexandre Linhares, coordenador editorial da Conrad, que tem no catálogo adaptações de Eça de Queirós e Franz Kafka, observa que os novos livros percorrem também um caminho oposto. “Os quadrinhos têm conseguido conquistar o público que aprecia literatura”. E não só. Algumas adaptações passaram a ser adotadas por professores em sala de aula. Usados como complemento ao título original, os quadrinhos estão sendo até indicados pelo governo no auxílio à leitura em escolas públicas e particulares.




A opção também é polêmica. Madeira, do Mackenzie, vê prós e contras no método. “Não se pode fazer o trabalho pela metade. Existe a cultura do fácil, de ler resumos de romances para fazer avaliações. É possível utilizar o complemento, como uma forma de auxílio, mas sem haver barateamento. A obra original nunca pode ser esquecida, ela tem que ser o primeiro referencial”.





Alguns professores, por outro lado, acham as adaptações tão válidas quanto os originais. “Acho discutível, neste século XXI, falar de original, e pensar nele como sendo superior a outros produtos dele derivados”, pondera Marisa Lajolo. “As re-escrituras de obras de literatura não precisam ser um caminho para se chegar ao original que as inspirou. No meu modo de ver, elas valem por si.”A consultora pedagógica e especialista em língua portuguesa Maria José Nóbrega mostra outro lado da moeda, o da compreensão dos alunos. Tomando por base os resultados das provas do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), ela diz que HQ não é, necessariamente, sinônimo de simplicidade. “As questões aplicadas com quadrinhos, que exploram aspectos irônicos e brincadeiras gráfico-visuais feitas pelos cartunistas, só são percebidas pelos bons leitores. A idéia de simplificação nem sempre é válida”, diz a professora.


Segundo Maria José, os quadrinhos despertam e exigem do leitor uma dupla competência, a de relacionar os elementos da linguagem icônica à linguagem verbal, preenchendo assim os intervalos entre um quadro e outro. “Pedagogicamente, esse trabalho de interpretação é ótimo. E é melhor ainda quando desperta o desejo de conhecer o clássico. Assim é possível realizar um trabalho de comparação”.



Caco Galhardo, cartunista responsável pela adaptação da obra de Miguel de Cervantes para quadrinhos, diz que o trabalho de adaptação é baseado na vontade de fazer o leitor embarcar numa viagem literária e visual, com respeito ao autor original. “É bom usar um texto que muita gente conhece, mas pouca gente leu. Fiz uma colagem com os principais trechos de Dom Quixote. A obra é reduzida, mas fiel, e mantém o tom satírico, rebuscado e engraçado”.
Para além das relações entre original de recriações, Marisa Lajolo pontua que cada adaptação é uma prova da diversidade que a literatura é capaz de produzir. “É instigante a tendência à re-escritura de obras literárias em outras linguagens, seja adaptações para teatro e tevê, quadrinização ou a transformação em enredo carnavalesco. São mostras da vitalidade da literatura. Reescritas em outras mídias, elas encontram outros percursos, olhos e corações”, reflete.


A experiência estética trazida pelas imagens e o texto mais direto ainda podem deixar os amantes da literatura com um pé atrás. Mas é fato que a fluência visual das HQ’s é capaz de despertar o interesse de muitas crianças, jovens, ou mesmo adultos, pela leitura. E a nova onda de clássicos vem provar que, cada vez mais, nem só de criptonita vivem as histórias em quadrinhos.





Legendas:
1 - Dom Quixote em Quadrinhos, Caco Galhardo (Ed. Peirópolis, R$ 26,00)
2- Os lusíadas em Quadrinhos, Fido Nastri (Ed. Peirópolis, R$ 36,00)
3- O Alienista, Fabio Moon e Gabriel Bá (Ed. Agir, R$ 39,90)
4- O Beijo no Asfalto - Graphic Novel, Gabriel Góes e Arnaldo Branco (Ed. Nova Fronteira, R$ 19,90)

(Algumas imagens ficaram azuladas. problemas técnicos que eu não sei resolver... )

sábado, 15 de setembro de 2007

osso duro de roer


Acabo de assistir ao Tropa de Elite. Com atraso (!), eu sei, em meio a tanta polêmica, e ainda sim tão logo. Vou deixar o caso do vazamento de lado, mas apesar de terem sido retirados os links do YouTube com o filme dividido em partes, achá-lo por completo na net é tão fácil quanto achar pornografia.
Osso duro, violência, corrupção e sangue, mas muito sangue, no olho.
Nos cinemas a partir de 12 de outubro
sexta-feira, 14 de setembro de 2007

ácido e cômico





Na leva de empolgação de início de festa, revolvi postar aqui uma pequena entrevista que fiz com André Dahmer, que lançou há pouco tempo um livro super divertido de histórias tragi-cômicas em tiras.

Vale a pena conferir também o site do Dahmer, que além de postar uma tira diferente a cada dia, tem um arquivo grande sobre os mais variados temas. (http://www.malvados.com.br/)




Essa aí de cima é a que foi publicada hoje.


O texto abaixo foi publicado originalmente na revista CartaCapital, edição 459. Essa versão web é um pouco mais extensa.





Pintor e quadrinista carioca, André Dahmer se meteu no mundo das tiras e ganhou reconhecimento através da internet. Agora, chega às livrarias “O livro secreto de André Dahmer” (Desiderata, 112 págs, R$ 19,90), uma reunião de tirinhas que mostram um humor ácido e quase negro, mas na medida certa para boas risadas. O artista carrega um caderno pra cima e pra baixo, se por acaso acontecer uma boa história: “É preciso anotar na hora para desenhar de noite, ou esqueço mesmo”, ele diz. Quase sempre em três quadros, na série “Apóstolos”, Jesus toma atitudes nem um pouco cristãs, “Diários Secretos” abordam as facetas mais obscuras da família e sociedade, tema abordado também em “União Brasileira dos Moralistas de Fachada”.

CC: Religião, abusos, drogas, violência, sexualidade estão sempre presentes nas suas tiras. Como é o processo criativo em cima de assuntos ainda um pouco polêmicos?



AD: Eu tenho um processo criativo realmente caótico, muito aberto, sem regras, sem horários. Trabalho muito com o cotidiano, olhos muito as ruas, as pessoas. Eu levo comigo um caderno de bolso porque sempre acontece uma tirinha no metrô, quando vou para o trabalho. É preciso anotar na hora para desenhar de noite, ou esqueço mesmo. Mas isso é da minha natureza e aprendi que tenho que aceitar a maneira como sou e como consigo produzir melhor. Eu descobri que preciso me adaptar ao meu trabalho, e não o contrário.





CC: como é utilizar temas nem sempre alegres para fazer humor? Toda tristeza tem sua beleza, assim como seu humor? Porque a dor alheia (ou a nossa própria) nos faz rir?


AD: A questão é que o humor sempre trabalhou muito com a tragédia, com as tristezas e contradições da vida. Eu tenho certeza de que o humor é mais que uma arma para diminuir as nossas dores cotidianas, ao colocar um "espelho" em nossa frente. É também uma maneira de esclarecer, alertar e denunciar a dura realidade que vivemos.


CC: A internet serviu como um impulso pra sua divulgação. É mais prazeroso trabalhar em um meio democrático, ou ainda é mais dificil destacar-se em uma mídia tão vasta?


AD: É muito mais prazeroso e os processos de publicação, mais livres. Na rede sou meu próprio editor. Isso me ensinou muitas coisas valiosas. Claro que a internet é uma mídia muito fragmentada, de informação não-linear. Mas cabe ao usuário descobrir os caminhos para a boa informação. Isso é uma forma de cultura e é também a grande contribuição da internet: o direito de escolha da informação, ao contrário do que acontece na TV.


CC: E suas tiras autobiográficas? Como é expor-se? Tudo a sua volta serve de inspiração?


AD: Eu fiz poucas destas tiras e antes não entendia gente como Crumb, Angeli, Allan Sieber, tantos que trabalharam com tiras autobiográficas. Me parecia vaidade, sabe? Hoje sei que é rico o universo autobiográfico, além de ser mais eficiente e barato do que pagar um analista.



tá certo.... a psicologia custa caro...




bom e velho Thompson









Fiquei super feliz quando dei de cara com essa edição de Medo e Delírio em Las Vegas, que a editora Conrad acabou de lançar. Achei o preço meio salgado ($45 pilas), mas é super válido já que esse texto, ícone da contracultura americana e projetor do estilo Gonzo de se fazer jornalismo, estava extindo das livrarias brasileiras desde a década de 70.





Basicamente, Thompson recebeu uma grana de uma revista americana pra cobrir uma corrida de motos, a Mint 400, no deserto de Nevada, nos States. Só que em companhia de um amigo advogado, se mandou pra Las Vegas, gastou todo dinheiro em jogos, mulheres, bebidas e drogas, muitas drogas.
A viagem alucinógena foi rejeitada pela revista, mas a Rolling Stone topou publicar. Deu no que deu...



É Ilustrado pelo Ralph Steadman (http://www.ralphsteadman.com/), parceiro de Thompson em outras aventuras e mestre na arte de caricaturar.


é o seguinte...

Bom, ajustes feitos (quase todos), vamos lá...
Resolvi criar esse blog aqui como um espaço para colocar todas as coisas bacanas que surgem por aí e me interessam, e provavelmente deve interessar muito mais gente...
um lugarzinho pra falarmos de cultura num modo geral e amplo, sem distinções ou projeções, apenas aquilo que é válido de ser passado a diante...

modesto e humilde, é isso aí! heheh

testando a bagaça2

ainda no momento teste

testando a bagaça

bom, agora que eu resolvi iniciar o projeto, vamos ver se vai dar certo...
tks, babe!