quinta-feira, 7 de maio de 2009

geraldo de barros e a modulação


Quando começou a experimentar a fotografia, em meados dos anos 40, o artista Geraldo de Barros trouxe para os negativos a mesma abstração que permeava suas telas. Imagens sobrepostas e facetadas eram resultados de experiências que incluíam múltipla exposição ou pintura sobre negativo. Na cola dos concretistas, deu à fotografia novas possibilidades de trabalhar a retratação do real, com o raciocínio voltado para formas geométricas e modulares. A técnica construída e aprimorada pelo artista permeou toda sua produção e é explorada na mostra Geraldo de Barros – Modulação de Mundos, em cartaz no SESC Pinheiros, em São Paulo, desde o dia 30.


Na exposição, duas séries de fotografia ajudam, de diferentes formas, a explicar ao visitante o conceito de modulação empregado pelo artista. A primeira delas, Fotoformas, é o marco inicial de sua carreira, conjunto que fez parte de sua primeira exposição individual. Disparando cliques sobre um mesmo negativo, o fotógrafo explorava diversos ângulos de uma mesma paisagem, criando formas abstratas e caleidoscópicas.


A segunda série, nomeada Sobras, mostra uma produção diferente, mas que ainda ressalta a idéia de partes. Criada nos anos antecedentes a sua morte, em 1998, a série faz jus ao nome que recebe. Garimpando os arquivos familiares, o fotógrafo separou uma série de negativos antigos, todos de recordações pessoais. A partir deles, recortava e montava paisagens. Criava mosaicos ou simplesmente abstraia partes de uma imagem, deixando grandes espaços vazios. Nesta época, Barros havia perdido parte de suas funções motoras, após ter sofrido isquemias cerebrais. Ainda sim, com a ajuda de uma assistente, continuava a explorar os recursos de materiais antigos e esquecidos.

“Embora sejam diferentes entre si e feitas num espaço de tempo tão longo, é curioso que os dois trabalhos tenham o mesmo sistema operativo. Ambas as séries são importantíssimas em termos de qualidade técnica”, diz João Bandeira, responsável pela curadoria do acervo, que hoje pertence ao SESC.


Além de reunir fotografias, a exposição apresenta uma série de móveis e maquetes desenhados pelo artista, na época em que trabalhava como designer para indústrias de mobília, como Unilabor e Hobjeto. A geometria direta e simples caracterizava boa parte de suas criações, expondo em seus desenhos vestígios da tradição concretista.
“O princípio da modulação está presente em toda sua obra, mas esta é só uma das interpretações que ele pode receber”, completa Bandeira. Paralela a exposição, o SESC realiza um debate sobre o artista, na quinta-feira 07, além de exibir continuamente o longa-metragem Geraldo de Barros – Sobras em Obras, de Michel Favre.

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