sexta-feira, 4 de abril de 2008

felicidade vista no espelho


Na Paris de 1960, personagens anônimos são abordados nas ruas para responder a questão “você é feliz?”. Alguns desviam da câmera, limitando-se a um simples sim ou não, enquanto outros embarcam na aventura de repensar a própria vida. O que era para ser uma simples pesquisa, toma proporções filosóficas no documentário Crônica de um Verão, do cineasta Jean Rouch em parceria com o sociólogo Edgar Morin.


Lançado agora em DVD, pela Coleção VideoFilmes, ganhador do prêmio da crítica do Festival de Cannes, em 1961, o longa-metragem reúne diferentes olhares sobre França, política, desigualdade e cotidiano. Os relatos são feitos por operários, estudantes e imigrantes, como Marceline ou Landry. Ela, jovem pesquisadora na área de psicossociologia, tenta explicar tatuagem no braço, marca de sua passagem por um campo de concentração. Enquanto Landry, o jovem africano, ainda lida com as dificuldades de ser negro e estrangeiro num país racista.


Marco do cinema-verdade, Crônicas mostra a felicidade, ou a infelicidade, como uma constante do ser humano, que nunca está satisfeito. Morin e Rouch partem para essa conclusão quando, ao reunir os personagens em uma sessão exclusiva do que seria o material final do filme, percebem que é difícil agradar a todos. Todos se acham injustiçados, querem mostrar mais de si.


Acompanha o DVD um pequeno livro, onde os autores comentam o início do cinema-verdade, as filmagens e entrevistam alguns dos personagens sobre como suas vidas foram transformadas após o filme. Marceline, por exemplo, disse ter se entregado por inteiro a uma experiência “ligeiramente absurda” e culpa a montagem pela transformação da "realidade".

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