sexta-feira, 14 de setembro de 2007

ácido e cômico





Na leva de empolgação de início de festa, revolvi postar aqui uma pequena entrevista que fiz com André Dahmer, que lançou há pouco tempo um livro super divertido de histórias tragi-cômicas em tiras.

Vale a pena conferir também o site do Dahmer, que além de postar uma tira diferente a cada dia, tem um arquivo grande sobre os mais variados temas. (http://www.malvados.com.br/)




Essa aí de cima é a que foi publicada hoje.


O texto abaixo foi publicado originalmente na revista CartaCapital, edição 459. Essa versão web é um pouco mais extensa.





Pintor e quadrinista carioca, André Dahmer se meteu no mundo das tiras e ganhou reconhecimento através da internet. Agora, chega às livrarias “O livro secreto de André Dahmer” (Desiderata, 112 págs, R$ 19,90), uma reunião de tirinhas que mostram um humor ácido e quase negro, mas na medida certa para boas risadas. O artista carrega um caderno pra cima e pra baixo, se por acaso acontecer uma boa história: “É preciso anotar na hora para desenhar de noite, ou esqueço mesmo”, ele diz. Quase sempre em três quadros, na série “Apóstolos”, Jesus toma atitudes nem um pouco cristãs, “Diários Secretos” abordam as facetas mais obscuras da família e sociedade, tema abordado também em “União Brasileira dos Moralistas de Fachada”.

CC: Religião, abusos, drogas, violência, sexualidade estão sempre presentes nas suas tiras. Como é o processo criativo em cima de assuntos ainda um pouco polêmicos?



AD: Eu tenho um processo criativo realmente caótico, muito aberto, sem regras, sem horários. Trabalho muito com o cotidiano, olhos muito as ruas, as pessoas. Eu levo comigo um caderno de bolso porque sempre acontece uma tirinha no metrô, quando vou para o trabalho. É preciso anotar na hora para desenhar de noite, ou esqueço mesmo. Mas isso é da minha natureza e aprendi que tenho que aceitar a maneira como sou e como consigo produzir melhor. Eu descobri que preciso me adaptar ao meu trabalho, e não o contrário.





CC: como é utilizar temas nem sempre alegres para fazer humor? Toda tristeza tem sua beleza, assim como seu humor? Porque a dor alheia (ou a nossa própria) nos faz rir?


AD: A questão é que o humor sempre trabalhou muito com a tragédia, com as tristezas e contradições da vida. Eu tenho certeza de que o humor é mais que uma arma para diminuir as nossas dores cotidianas, ao colocar um "espelho" em nossa frente. É também uma maneira de esclarecer, alertar e denunciar a dura realidade que vivemos.


CC: A internet serviu como um impulso pra sua divulgação. É mais prazeroso trabalhar em um meio democrático, ou ainda é mais dificil destacar-se em uma mídia tão vasta?


AD: É muito mais prazeroso e os processos de publicação, mais livres. Na rede sou meu próprio editor. Isso me ensinou muitas coisas valiosas. Claro que a internet é uma mídia muito fragmentada, de informação não-linear. Mas cabe ao usuário descobrir os caminhos para a boa informação. Isso é uma forma de cultura e é também a grande contribuição da internet: o direito de escolha da informação, ao contrário do que acontece na TV.


CC: E suas tiras autobiográficas? Como é expor-se? Tudo a sua volta serve de inspiração?


AD: Eu fiz poucas destas tiras e antes não entendia gente como Crumb, Angeli, Allan Sieber, tantos que trabalharam com tiras autobiográficas. Me parecia vaidade, sabe? Hoje sei que é rico o universo autobiográfico, além de ser mais eficiente e barato do que pagar um analista.



tá certo.... a psicologia custa caro...




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