quarta-feira, 10 de setembro de 2008

o traço negro de rubens


Ascensão de Maria (1624)

Guardadas a portas fechadas, em igrejas e castelos, as grandes telas do pintor alemão Peter Paul Rubens (1577 - 1640) pouco se movimentavam nos idos do século XVII. Pensando em uma forma de divulgar e transportar seus trabalhos com maior facilidade, Rubens, conhecido desde então como “gênio barroco”, passou a se dedicar também às gravuras. Menores em tamanho, porém não menos especiais em beleza e significado, estas obras eram como um espelho de seus próprios quadros. Reproduções ou reinvenções que, moldadas em diferentes técnicas, transpunham para o papel a essência de suas telas. Não raro, o artista acrescentava elementos, modificava e evoluía a composição de retratos e paisagens ao transformá-las. Cenas bíblicas e mitológicas também eram amplamente exploradas pelo artista.

A partir da quarta-feira 10, o Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, recebe a mostra Rubens e Seu Ateliê de Gravura, que reúne 80 peças, hoje pertencentes ao Museu Siegerland, em Slegen, Alemanha. Pieter Tjabbes, que assina a curadoria ao lado de Ursula Blanchebarte, acredita haver nas gravuras uma possibilidade maior de trazer ao Brasil o melhor do artista. “Antes, acreditava-se que as pessoas tinham receio em visitar esse tipo de exposição. Hoje, sabemos que isso não é verdade. Os visitantes sentem-se atraídos pelas gravuras e comentam o que viram.”

Muitas das obras apresentadas na mostra, como as célebres A Descida da Cruz (c. 1665), Ascensão de Maria (1624) e Auto-retrato (1630), virão acompanhadas dos quadros que lhe serviram de modelo. Assim, visitante terá a possibilidade de entender e comparar a diferença de técnicas. “Pode parece fácil, mas é claro que não é. Traduzir uma obra grande e colorida para um papel menor, em preto e branco, é uma tarefa que requer muito talento. Essa era a maestria de Rubens”, diz Tjabbes.

Além de transpor luz, sombras e contrastes ao traço preto, as gravuras de Rubens entraram para a história também por motivos mercadológicos. O sucesso das reproduções foi tamanho que fez com que seu nome corresse a Europa. “Uma das funções das gravuras era o próprio marketing do artista. O público em geral não tinha condições de adquirir uma tela. A saída era colecionar gravuras. Isso aumentou sua fala como artista e ajudou a estabelecer sua fama”, completa Tjabbes.

O marketing rendeu-lhe privilégios. Rubens foi o primeiro artista a obter a proteção do direito autoral, o que lhe que permitiu reproduzir as próprias telas com exclusividade. No Centro Cultural Correios, o visitante poderá também acompanhar a trajetória do artista por meio de textos explicativos e assistir a um documentário sobre sua vida, intitulado Peter Paul Rubens, de Anton Stevens.

Auto Retrato (1630)

A descida da Cruz (c.1665)

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