quarta-feira, 25 de novembro de 2009

cidadão boilesen



Vencedor da 14ª edição do Festival de Documentários É Tudo Verdade, Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski, gira em torno de um tema propositalmente quase esquecido, a participação de grandes empresários no financiamento das ações do exército durante a ditadura. O principal deles, e figura central deste longa, foi Henning Albert Boilesen, dinamarquês naturalizado brasileiro, presidente da Ultragáz na década de 1960.

No longa-metragem, Litewski aborda o tema de maneira interessante, com trilha sonora animada e edição moderna, que ajudam a suavizar o conteúdo. Resultado de pesquisa extensa, a trajetória de Boilesen é contada desde a infância, com a ajuda de arquivos escolares municipais, que revelavam, desde cedo, uma personalidade dúbia. Conhecido por amigos como pessoa bem humorada, um líder nato, Boilesen por vezes era cruel e frio, um sádico. Chegou ao Brasil pobre, mas rapidamente, e por méritos próprios, se tornou presidente de uma das maiores companhias da época. Freqüentava colunas sociais, adorava grandes bailes, caipirinhas e mulatas.

Anticomunista, teria sido responsável e maior entusiasta da “caixinha” que circulava entre os empresários brasileiros – sobretudo paulistanos – que deveria financiar a Operação Bandeirante, organizada pelo exército. Boilesen teria participado pessoalmente de sessões de tortura, sendo responsável por trazer ao País um aparelho de choques elétricos mais moderno, tempos depois conhecido como Pianola Boilesen.

Por meio de depoimentos bastante diferenciados, Cidadão Boilesen traça um perfil do empresário até sua morte, em 1971, quando fora encurralado e executado por militantes da ANL e MRT em uma rua próxima a Avenida Paulista, em São Paulo. Carlos Eugênio Paz, líder da ação e um dos poucos sobreviventes do grupo, fala com detalhes sobre o dia da morte do empresário. O depoimento de ex-militares, políticos, religiosos, guerrilheiros, amigos e parentes estão mesclados a cenas de ficção de longas como Pra frente Brasil, de Roberto Farias e Lamarca, de Sérgio Rezende. A narrativa por vezes deixa escapar, sutilmente, um quê de ironia, resultado da fala descuidada de alguns entrevistados.

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