quinta-feira, 1 de maio de 2008

bons tempos


Ah, o verão do amor...

As marcas políticas e culturais deixadas pela já longínqua década de 60 continuam dando frutos aqui e acolá. Em comemoração aos 40 anos do Summer of Love, o verão do amor celebrado pelo movimento hippie em 1968, o SESC Pompéia em São Paulo apresenta vasta programação dedicada ao surgimento da contracultura, movimento marcado pelo questionamento político e pela expressão libertária.

Seu reflexo nas artes foi extenso. Na literatura, o best-seller beatnik On the Road, ou Pé na Estrada no Brasil, de Jack Kerouac virou clássico. No cinema, o marco foi Easy Rider, de Denis Hooper. Mas o evento “Vida Louca, Vida Intensa: Uma viagem pela contracultura” vai além desses marcos. A partir de uma exposição cenográfica, o visitante passeia pelas fases marcantes do movimento, do psicodelismo à era pós-punk. Até dia 22 de junho serão realizadas mesas de debate, performances teatrais, shows musicais e exibição de filmes no “Cine Beatnik”.

Criada especialmente para o evento, a sala projeta um pouco da diversidade do movimento, que vai de “A montanha sagrada” (1973), de Alejandro Jodorowsky, a “Sid and Nancy” (1986), de Alex Cox. Conversei com o curador Eduardo Beu para a CartaCapital e falamos sobre o projeto e sobre as marcas do movimento nas gerações atuais. Um pouco disso aí embaixo:


Jack Kerouac, autor de On The Road

CartaCapital: Como surgiu a idéia do projeto e como foi selecionar o conteúdo em meio a um legado tão vasto?
Eduardo Beu: O projeto surgiu por acaso, mas conciliou com alguns acontecimentos simultâneos, como os 40 anos do livro On the Road e da Tropicália. Estas datas-chave históricas, unidas a curiosidade e ao gosto pela estética sessentista, me fizeram coletar dados. Depois de seis meses tinha o projeto pronto, mas a organização foi complexa e longa. A idéia era não só resgatar o legado, mas também fazer uma reflexão contemporânea sobre os desdobramentos nas décadas de 70 e 80. O Sesc me deu liberdade absoluta para a escolha das bandas, shows e performances.


Easy Rider, de Denis Hooper. Marco nos cinemas

CC: O que sobrou dessa cultura nos dias de hoje? Quais são seus reflexos, se eles existem, nas gerações atuais?
EB: As décadas passadas são mais exploradas, re-descobertas e copiadas. Mas o resultado é estéril. A fome de hoje é pela “estética”. Na verdade, não vejo nenhum frescor de algo ou alguém que poderia ser um reflexo da contracultura. Hoje em dia se copia muito, se reflete pouco, se reclama muito nos bastidores e poucos se rebelam. Mas acho que a Internet é um meio, e se soubermos usá-la, algo surgirá para revolucionar.

CC: De que maneira?
EB: Com o surgimento da era digital, o que poderia ter dado um salto no desenvolvimento humano, acabou alienando quase que total a juventude, deixando-a preguiçosa e confusa diante das infinitas possibilidades que o digital pode oferecer. A Internet é o meio, a ferramenta. Mas para criar uma nova cena é preciso ter “o homem”. Alguém que tenha a idéia, que se movimente e que use esse veículo para revolucionar.


Dr. Gonzo, Hunter Thompson. É claro que eu ia aproveitar pra colocar uma foto do sujeito aqui. Durante a entrevista, perguntei ao Eduardo se essa estética toda está na moda. Afinal, vocês prepararam que só ano passado três livros do Thompson foram reeditados no Brasil? Quando fiz minha monografia de graduação dedicada ao pai do jornalismo Gonzo (e olha que nem faz tanto tempo) a coisa mais difícil foi encontrar os livros dele. Tô começando a achar que esse blog deveria ter uma categoria HST... rs

4 comentários:

Anônimo disse...

Camila,
Muito boa essa entrevista que revela os idos anos da contracultura, onde as pessoas pen savam sem a interferencia da maquina, dos bits,da cultura do isolamento, que a tecbologia nos impoe.
Hoje a criacao tem o cola copia, tá tudo ai, sem esforço da interferencia do meio ao trabalho do artista.
Essa tecnologia do isolamento, isolou as pessoas e seus conceitos são menos solidarios que das decadas passadas quando a veia criativa era em funcao do todo.
Os conceitos morais eram solidos, ou assim pensavam ser,quando buscavamos liberdade pra nós e pras proximas geraçoes....

Anônimo disse...

Curti a entrevista, bem legal.
Parabéns

Anônimo disse...

Curti a entrevista, bem legal.
Parabéns

Anônimo disse...

Cá, lá de longe vou continuar a ler seu blog, mas agora sem a esperança de poder provar desse cardápio cultural.
Beijos