segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

gilberto freyre e a simplicidade

"vamo que vamo que som não pode parar!!"

É nesse espírito que o ano começa! Abaixo, um vestígio da última edição da CartaCapital de 2008! Feliz 2009!



Clareza e Ousadia

Gilberto Freyre dizia amar a simplicidade. Tanto que o sociólogo, poeta, pintor e contista, achava-se apenas escritor. Não era simples, porém, a maneira como enxergava o Brasil e seu povo. Profundo estudioso da cultura nacional, Freyre refletia sobre a formação do país, preocupado em enxergar suas múltiplas facetas, seja no hoje, no ontem ou sempre. Para ele, não existia tempo morto. “Sua obra, de dimensão ensaística, possui enorme riqueza literária em que se destacam a elegância e a clareza”, diz Gilberto Velho, professor do Departamento de Antropologia da UFRJ.

“Não escrevo em sociologuês, nem em antropologuês, nem em filosofês, nem em economês”, enfatizava o autor de Casa Grande & Senzala, uma das mais importantes obras nacionais. A simplicidade não se aplica, no entanto, a sua mais recente homenagem, 21 anos após sua morte. A antiga sede do Banco Nacional do Comércio, onde hoje funciona o Santander Cultural, em Porto Alegre, recebe a exposição Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil, que reúne inúmeros objetos, de cartas à quadros, que ajudam a entender a obra do ensaísta pernambucano.

Sob curadoria geral de Julia Peregrino e cenografia de André Cortez, a mostra é dividida em ambientes onde o visitante pode descobrir, folheando um caderno ou abrindo uma gaveta, diferentes facetas de Freyre. Seja nas cartas trocadas com os amigos Erico Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade, ou nas telas de colorido estilo naïf, o olhar de Freyre sempre recai sobre a brasilidade e a preocupação em manter, cultivar e conhecer sua própria cultura. Das nossas mesas, dizia o escritor, estariam desaparecendo os pratos mais característicos, os mocotós e as buchadas, os pirões e as feijoadas. “Cabe a Freyre um lugar de particular destaque devido à ousadia de sua interpretação do Brasil e dos brasileiros. Seu interesse e cultura levaram-no a analisar a sociedade como um todo, uma visão dinâmica de transformação e processo”, completa o professor Gilberto Velho.

O escritor tinha medo de ser benquisto por todos e não o foi. Durante as décadas de 60 e 70, muitas vezes acusado de conservador, rebatia dizendo querer conservar as raízes brasileiras. Viajante, estudou em Nova York e Oxford, lecionou em Stanford e Michigan, pesquisou sobre seus antepassados em Senegal e faleceu no Recife, sua terra natal, em 1987. A linha do tempo de sua vida é mostrada na exposição por meio de fotografias, da infância à velhice. “Ao apresentar o seu mundo de diversidades, esperamos despertar nos visitantes o nosso maior patrimônio, o valor de pertencer a um lugar, a um trópico”, pontua Liliana Magalhães, superintendente do Santander Cultural.

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